quinta-feira, 6 de maio de 2010

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE - Actividade 4

Temática: A VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

Actividade 4: Debate sobre a Autenticidade e Transparência na Rede


Caros colegas e professor
A fim de melhor contextualizar a minha intervenção neste debate, a propósito da Autenticidade e Transparência na Rede, recorri ao artigo Gender, Pseudonyms and CMC: Masking Identities and Baring Souls, by J. Mi-chael Jaffe, Young- Eum Lee, Li-Ning Huang, and Hayg Oshagan, http://research.haifa.ac.il/~jmjaffe/genderpseudocmc/pseudo.html, de onde retirei as seguintes reflexões:

Pseudonyms, or "nicks" (for "nicknames"), are often chosen to hide explicit identity yet simultaneously reveal a personal facet of the author.
CMC enables a person to exhibit different personae in relative anonymity and safety.
Individuals feel less of a personal risk in disclosing personal information when 'real' identities are not revealed.
Pseudonymous communication makes participants more comfortable, more willing to reveal personal information.
CMC, especially with the use of pseudonyms, masks identifying aspects present in FTF communication.
CMC can be considered less "media rich" than FTF communication because they have lower levels of feedback and fewer sensory cues and channels.
The use of pseudonyms to hide identity is a common method of managing identity. A person "manages identity" by deliberately exhibiting and withholding pieces of social information, for the purpose of influencing the perceptions of others towards that person.


Apesar de apresentar estes parágrafos desligados do contexto mais vasto do artigo e, por conseguinte, correr o risco de se perder parcialmente o seu significado, julgo que nos poderão ser úteis para melhor compreender questões como o uso de nicks, os riscos associados à CMC, e atitudes perante a assumpção da identidade na Internet.

Em que medida a nossa identidade digital é um prolongamento da nossa identidade pública ou um campo alternativo de expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima?

Tentarei responder a esta questão mais vasta, procurando respostas para cada conjunto de questões mais específicas que nos foram colocadas:
Nesta comédia de enganos,
• Quem é afinal quem?
• Quem são estes rapazes?
• Será que importa sabê-lo?
• Não são eles precisamente para a rede apenas os «chinese boys» que a rede produziu?
• Qual é, então, a sua verdade?


Antes de mais, dada a enorme quantidade e diversidade de indivíduos com acesso actualmente à Internet, parece-me desaconselhável qualquer tentativa de generalização de comportamentos, atitudes, ou motivações.
Com efeito, o exemplo destes Chinese Boys funciona, simplesmente, como um fait divers despoletador desta discussão.
Creio que a esmagadora maioria dos utilizadores "desta comédia de enganos", responderia a este conjunto de questões com outra pergunta: Who cares?
Na verdade, questões como "Quem são estes rapazes?", "Será que importa sabê-lo?", "Qual é, então, a sua verdade?" não têm a menor relevância para a comunidade cibernauta.

No entanto, a pergunta "Quem é afinal quem?" revela-se muitíssimo pertinente e inquietante e serve de charneira para o grupo seguinte de questões, colocadas no desafio que nos foi proposto:
A questão da autenticidade da rede ultrapassa em muito a trivialidade deste divertido exemplo.
No entanto, ele desde logo abre-nos variadas pistas.
• Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede?
• Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede?
• Que somos nós de nós próprios na rede?
• Somos ou poderemos ser transparentes?
• São as imagens que de nós partilhamos autênticas?
• Que dizem de nós? Tudo? Nada?


Ao reflectir sobre o que ocorre na Comunicação Mediada por Computador (CMC), gostaria de não me afastar muito do que acontece na comunicação face-a-face (FTF), dado que os actores de ambas as formas de comunicação são os mesmos indivíduos.
É certo que as condições em que se estabelece essa comunicação são muito diferentes, nomeadamente a inexistência de contacto visual e a ausência de informação sobre o interlocutor.
Assim, cada um poderá optar por diversas atitudes: revelar (ou não) a sua verdadeira identidade e assumir (ou não) as suas habituais atitudes, opiniões e formas de pensar e agir. Ou seja, cada um poderá assumir o seu eu ou, pelo contrário, adoptar um eu diferente, ao sabor da sua imaginação ou dos seus objectivos.
Perante isto, levantam-se mais barreiras na descodificação, conhecimento e compreensão do nosso parceiro de comunicação, o que para alguns poderá ser desconfortável, mas poderá constituir um aliciante para outros.
Com efeito, grande parte da CMC dá-se intencionalmente em circunstâncias ou condições ambíguas ou dúbias.
Acresce o facto de os utilizadores da rede mundial não estar inequivocamente dividida entre estes dois grupos. Grande parte dos cibernautas assume alternadamente protagonismo em ambos os campos, um pouco à imagem de Dr. Heckel and Mr. Jive.
Parece-me que nada disto é novo. Tudo isto existe desde o momento em que apareceu a comunicação à distância.
Para compreender o presente, nada como recorrer o passado. Provavelmente, as reacções dos primeiros utilizado-res do correio postal, do telégrafo ou do telefone também foram de desconfiança. Mesmo vendo as imagens da chegada do Homem à Lua, muitos foram os que rotularam esse acontecimento de farsa e impostores os autores desse embuste. Desde que se envia correspondência que alguém tenta a sua intercepção e violação, o que gerou algum receio de registar aspectos potencialmente melindrosos nas missivas. Por outro lado, para quantas acções mal intencionadas, ou mesmo criminosas, não terá servido o telefone, tirando partido do facto de ser relativamen-te fácil alguém falar fazendo-se passar por outra pessoa.
Porém, a Net veio ampliar extraordinariamente estes cenários e exacerbar profundamente estes comportamentos.
Consequente mente, os receios e os riscos são agora maiores, não obstante os seus benefícios e as suas vantagens também serem.
Como nos comportamos nós, utilizadores da Internet, quer enquanto emissores, quer enquanto receptores? Ou seja, como agimos nós quer enquanto protagonistas, quer enquanto analistas de comportamentos?
Creio que a resposta reside na exacerbação. Quem, na comunicação FTF, assume habitualmente uma postura cautelosa e prudente, tenderá a desenvolver na CMC uma postura ainda mais precavida e previdente. Quem, pelo contrário, assume na comunicação FTF uma atitude mais aberta e liberal, tendencialmente desenvolverá na CMC uma atitude igualmente mais desinibida e temerária.
A nossa capacidade de análise será constantemente posta à prova e nem sempre conseguiremos descortinar a "verdade" em relação àqueles com quem comunicamos, nem sempre faremos os juízos de valores mais acertados quanto às questões com que formos confrontados.
Em última instância, reside em cada um de nós a opção a tomar perante este cenário. Saibamos viver com todos estes constrangimentos e, apesar disso, tirar bom partido desta tecnologia.

Por fim, procuremos respostas para as questões inicialmente formuladas:
• Como poderemos assegurar a autenticidade da informação?
• Pela sua transparência?
• Quem a valida ou autentica?
• Quem o poderá fazer?
• A própria comunidade, a própria rede?
• Será pela transparência dos processos de partilha?
• Como e em quem na rede poderemos confiar?
• Como se poderá garantir a qualidade da informação?
• Como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação?


E para as perguntas colocadas mais recentemente:
• Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável?
• Quem o pode garantir?


Bom, parece-me preferível viver com uma desagradável certeza, do que com uma doce ilusão.
Dada a forma como a Internet foi concebida desde a sua génese e a possibilidade de qualquer pessoa ou entidade poder publicar conteúdos, sobretudo desde o "advento" da Web 2.0, não é "oficialmente" possível autenticar ou validar a informação nem a sua transparência ou qualidade, nem é possível garantir a idoneidade da utilização dessa informação.
Mas é aqui, precisamente, que residem os elementos mais valiosos e preciosos da Internet.
É certo que a rede não é segura e a informação nela partilhada não é confiável. Contudo, são estas características intrínsecas da Internet que fazem com o eterno e sempre presente apetite por parte de Estados, governos, ou outras entidades e indivíduos, de controlar e utilizar em seu proveito os meios de comunicação não posso ser totalmente posto em prática na rede mundial.

É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
A resposta dependerá, obviamente, do conceito de "controlar" que considerarmos.
Se entendermos "controlar" como uma forma de tecnicamente administrar e superintender a rede, nomeadamente, decidir quem pode ou não a ela ter acesso, ou de censurar o seu conteúdo, a resposta será: Não.
Porém, o controlo poderá ser feito de formas mais subtis, mas eficazes, como, por exemplo, utilizar a rede para propaganda, desinformação, ou mesmo intoxicação da opinião pública.
O que teriam feito Salazar e António Ferro, ou Hitler e Goebbles, se no seu tempo existisse a Internet?
Outros exemplos de controlo exercido através da Internet serão o recrutamento de jovens bombistas suicidas recorrendo aos websites utilizados para esse efeito, ou as comunidades virtuais onde se estimula o ódio fundamentalista e onde se ensina a produzir engenhos explosivos caseiros.


Outro aspecto negativo que poderá decorrer do uso indevido da Internet é o plágio.
Também aqui, a consulta de um artigo, no caso, Definition for Plagiarism, http://www.freelegaladvicehelp.com/copyrights/plagiarism/Definition-For-Plagiarism.html, permitiu a compreensão de conceitos indispensáveis para este debate.

Plagiarism can be defined as copying or pilfering someone else’s perception and articulation, and penning it down as one’s own.
In the field of academics, plagiarism can lead to serious repercussions to the extent of failure, suspension or expulsion. Not to miss the social stigma that comes attached with it in terms of loss of repute and honor.
The coming the Internet in a big way has indeed added to the offense of plagiarism. A single click on the mouse can open a world of information on any subject, and it is extremely easy to get lured into the so called "copying and pasting syndrome".
Probably, the best way to refrain from plagiarism is to always remember to cite sources and references.
Plagiarism is often confused with copyright infringement. While the former attacks the author’s status by an act of wrong allege, the latter strikes the entitlement of the copyright holder by utilizing the concerned material without approval.


O perigo da fraude intelectual (ex.: plágio) aumentou com o advento da internet?
Sem dúvida que sim.
Cada vez mais assistimos a um número preocupantemente crescente de utilização de material escrito ou multimédia produzido por terceiros, sem a indispensável citação ou referência, muitas vezes com a intenção de atalhar caminho e poupar esforços, seja em contexto académico, jornalístico ou na produção de conhecimento.
A tentação de evitar horas, quando não semanas ou meses, de árduo, e por vezes penoso, trabalho de estudo e reflexão é enorme. Mesmo a tarefa de redigir o texto copiado é evitável, recorrendo ao "copy/paste".
E esta tendência manifesta-se desde o mais elementar trabalho do ensino básico ou preparatório, até ao nível de Teses de Mestrado ou de Doutoramento, como por diversas vezes já foi detectado.
Em todos os casos de indevida ou incorrecta utilização da Internet, a responsabilidade está, a meu ver, muito mais na natureza humana do que na tecnologia em si.
Os parágrafos que citei acima, recolhidos do artigo citado, encerram a postura que a comunidade académica deve assumir em relação à fraude intelectual, estigmatizando e ostracizando aqueles que recorrerem a esta prática.
É, porém, necessário que os professores, desde a escolaridade mais precoce, alertem os seus alunos para a "armadilha" que esta prática constitui, tentando, assim, evitar que este hábito se instale, e pior, que passe impune.


Bom dia a todos
Há, de facto, diversas tentativas para controlar a rede. Mas a Humanidade já aprendeu a viver com isso. Desde sempre os povos tentaram contornar os caminhos cerceados para a informação e para cultura, mesmo correndo o risco de vida, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial, onde quem fosse surpreendido a ouvir a BBC na rádio era sumariamente fuzilado pela Gestapo, ou em Portugal, nos tempos em que possuir livros de autores "subversivos" era sinónimo de sérios problemas com a PIDE.
Felizmente que hoje é reduzido o número de pessoas a quem é barrado o acesso à Internet.
Hoje temos a liberdade como algo adquirido e isso faz-nos esquecer os povos que não a possuem.
Uma das vantagens da rede mundial é que tecnicamente é muito mais difícil sobre ela exercer a censura. O lápis azul aqui é muito menos eficiente.
Cumprimentos
Fernando Faria

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