QUE CARACTERÍSTICAS, COMPETÊNCIAS E RECURSOS DEVERÁ O ESTUDANTE ONLINE POSSUIR OU DESENVOLVER
Resumo
Este trabalho pretende reflectir sobre o perfil que deverá deter um aluno do ensino a distância, no quadro das alterações introduzidas pelos novos desafios colocados pela Sociedade em Rede em que vivemos no início deste novo milénio, e determinar qual deverá ser o acréscimo de competências e características que este deverá ter em relação ao estudante do ensino presencial tradicional.
Introdução
"A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede." (Castells, 1999).
"(...) a noção de sociedade em rede distingue-se do conceito corrente de sociedade da informação e do conhecimento na medida em que, ao contrário deste, não denota uma simples extrapolação tecnológica do modelo histórico progressista da sociedade industrial. (...) com a noção de sociedade em rede, Castells abriu um novo significado para a revolução tecnológica em curso na contemporaneidade. Trata-se de entender a rede como algo mais do que as redes de telecomunicações e os computadores, do que a infra-estrutura tecnológica. Com efeito, a noção de Castells coloca o foco na transformação organizativa e no surgimento de uma estrutura social globalmente interdependente, com os respectivos processos de domínio e contradomínio." (Teixeira, s/ data)
No início do terceiro milénio, os efeitos da profunda revolução tecnológica que se vinha desenvolvendo fizeram-se sentir ao nível da sociedade de forma mais marcante, alterando de forma permanente e decisiva praticamente todos os aspectos do seu quotidiano e criando uma nova forma de sociedade, que Castells viria a apelidar "Sociedade em Rede".
Segundo o trabalho conjunto desenvolvido na primeira actividade desta unidade curricular, "a expressão Sociedade em Rede é usada para descrever uma nova ordem social, que resulta da globalização de comunidades preexistentes e emergentes, organizadas em torno de interesses comuns. Trata-se, assim, de uma sociedade marcada pela multiculturalidade e diversidade, mas intimamente interligada numa escala local e global através da Internet, principal suporte de comunicação. A base material e tecnológica desta sociedade, a Internet, surge não apenas como uma tecnologia, mas igualmente como a plataforma onde se organiza a sociedade - que se conecta (liga, desliga e comunica) a um nível simultaneamente local e global."
É, pois, nesta nova sociedade, nesta sociedade em rede, que o ensino e a aprendizagem viram modificar-se irreversivelmente os pressupostos em que anteriormente assentavam, deixando de ser integralmente válidas as teorias e as práticas que até aí o eram, gerando-se novas necessidades, novos cenários, novas tendências.
O ensino a distância não foi excepção. Esta área particular da educação testemunhou o aparecimento vertiginoso de novos meios e novas ferramentas, que vieram possibilitar a adopção de novos métodos e novos processes de ensino/aprendizagem.
Como consequência, também os requisitos necessários a um estudante online se alteraram e distanciaram-se ainda mais dos de um aluno do ensino presencial.
Assim, neste novo contexto social, torna-se premente reflectir sobre que características, competências e recursos deverá o estudante online possuir ou desenvolver.
Desenvolvimento
"A demanda por formação não só está passando por um enorme crescimento quantitativo, como também está sofrendo uma profunda mutação qualitativa, no sentido de uma crescente necessidade de diversificação e personalização.
Os especialistas da área reconhecem que a distinção entre ensino «presencial» e ensino «a distância» será cada vez menos pertinente, pois o uso das redes de telecomunicação e dos suportes multimedia interactivos está integrando-se progressivamente às formas de ensino mais clássicas." (Lévy, 1999)
Nem todos os estudantes detêm o perfil adequado para frequentar o ensino a distância. Nalguns casos, é preferível não optar pelo ensino online e efectuar o percurso académico no âmbito do ensino presencial tradicional.
Segundo a Universidade Aberta (Portugal) "o ensino a distância é o conjunto de métodos, técnicas e recursos, postos à disposição de populações aprendentes, que desejem estudar em regime de auto-aprendizagem, com o objectivo de adquirir formação, conhecimentos ou qualificação de qualquer nível.
É o paradigma educacional e formativo que melhor responde à abertura às várias alteridades culturais e nacionais, existentes no mundo e possibilita um conhecimento reflexivo e crítico dos saberes mundialmente disponíveis, obtidos através de uma educação contínua (educação ao longo da vida), de modo a permitir a cada cidadão participar mais interventivamente e melhor na nova sociedade local/nacional ou na sociedade global.
A sua população-alvo é constituída por adultos dotados de maturidade e motivação que lhe permitam programar o seu estudo, seleccionando disciplinas, definindo o próprio calendário lectivo e de aprendizagem, sem estarem integrados num ambiente de aula presencial."
Um curso online é uma maneira conveniente de receber educação, não uma maneira mais fácil. A aprendizagem online implica um conjunto de desafios adicionais face aos quais se torna indispensável possuir um determinado conjunto de características e competências.
Entidades como a Universidade Aberta, o Glendale Community College e o Kellogg Community College publicam nos seus websites uma descrição do perfil que um candidato a estudante online deve ponderar se cumpre, a fim de poder trilhar, com sucesso, esse caminho.
"Os percursos e os perfis de competência são, todos eles, singulares e é cada vez menos possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos para todo o mundo." (Lévy, 1999)
Muitas dessas características e competências coincidem com aquelas que um estudante do ensino presencial também deverá deter. Porém, destaca-se um conjunto de características que um aluno a distância, em particular, deve possuir ou desenvolver.
CARACTERÍSTICAS
"(…) o processo de trabalho introduziu uma nova divisão de trabalho mais próxima dos atributos/capacidades de cada trabalhador do que da organização das tarefas." (Castells, 1999)
Auto-motivação e auto-disciplina
A liberdade e a flexibilidade do ensino a distância acarretam responsabilidade. E, como refere Pièrre Lévy, a liberdade é angustiante.
Um curso online requer verdadeiramente empenho, motivação e disciplina, a fim de dar uma resposta eficaz ao processo de desenvolvimento da aprendizagem.
A auto-motivação e auto-disciplina serão, porventura, as características mais relevantes que um estudante online deverá possuir, comparativamente com um aluno do ensino presencial.
Com efeito, será uma elevada auto-motivação que permitirá ultrapassar os momentos de cansaço, saturação, por vezes de desânimo, que poderão surgir ao longo do curso e manter o estudante focado na concretização dos seus objectivos.
Do mesmo modo, a auto-disciplina será determinante para obter os resultados pretendidos, potenciando o cumprimento do planeamento traçado e assegurando uma correcta e eficaz gestão do tempo.
Organização e planeamento
O ensino a distância não requer menor esforço ou trabalho que um curso presencial tradicional. Pelo contrário, muitos alunos que por ele optaram afirmam que aquele requer um nível de empenho mais elevado e um período de trabalho mais alargado.
Por conseguinte, um planeamento cuidado das tarefas e actividades a executar e a monitorização do seu cumprimento revelam-se indispensáveis.
Numa organização eficaz, voltada para o ensino a distância, será fundamental observar os seguintes aspectos:
• Plano periódico que permita registar as tarefas a realizar e que possibilite gerir a sua execução e acompanhar o faseamento do seu desenvolvimento.
• Definição das prioridades das tarefas a executar (as mais urgentes, as mais importantes, as mais morosas, etc.).
• Organização racional dos períodos de tempo disponíveis para trabalhar e participar nas actividades requeridas.
• Identificação dos períodos de tempo disponíveis mais produtivos, a fim de os dedicar às actividades mais exigentes.
• Resolução de quaisquer problemas que prejudiquem o trabalho, ou dele desviem a atenção, o mais brevemente possível.
Gestão do tempo
Uma gestão criteriosa do tempo tem como objectivo aumentar o ritmo de trabalho e a produtividade e implica estabelecer objectivos, metas e prioridades, uma correcta organização pessoal e uma monitorização dos prazos e do tempo dedicado às tarefas que necessitamos de desenvolver.
No contexto do EaD, esta gestão torna-se particularmente necessária, dado que a maior parte dos alunos online são adultos profissionalmente activos e com responsabilidades familiares, de onde resulta que se torna imperioso aproveitar da melhor forma possível o tempo disponível, de modo planeado e flexível.
Aptidão para trabalhar em grupo
"A aprendizagem colaborativa é um tipo de aprendizagem que resulta do facto de os indivíduos trabalharem em conjunto, com objectivos e valores comuns, colocando as competências individuais ao "serviço" do grupo ou da comunidade de aprendizagem (…) e não significa "aprender em grupo", mas a possibilidade de o indivíduo beneficiar do apoio e da retroacção de outros indivíduos durante o seu percurso de aprendizagem." (Morgado, 2001:136)
Muitos cursos online incluem actividades em grupo, o que exige dos alunos capacidade para trabalhar eficazmente de forma cooperativa.
Assim, é conveniente assegurar uma comunicação frequente com os colegas, contactando-os síncrona ou assincronamente, contribuindo de forma eficaz e empenhada para os objectivos do grupo e adoptando uma atitude colaborativa, construtiva, dialogante e cordial.
A partilha de trabalho e de actividades educativas é parte do processo de aprendizagem em grupo, para o qual é primordial considerar os pontos de vista de terceiros, negociar e obter consensos.
Na ausência destas capacidades, e dado que, no ensino a distância, os confrontos de ideias são incentivados, haverá o risco de surgirem conflitos, com maior ou menor impacto negativo nos objectivos a atingir pelo grupo.
Capacidades de pesquisa, interpretação e crítica
Uma vez que o volume considerável de textos e livros publicados na Internet constitui a fonte principal de informação num curso online, tornam-se indispensáveis competências que permitam pesquisar de forma efectiva essa informação, lê-la criticamente (avaliando o seu rigor e confiabilidade), analisá-la, interpretá-la e compreendê-la.
Pedir auxílio quando um problema surge
De acordo com o Guia do estudante online da Universidade Aberta,"ser estudante do ensino online exige, entre outros aspectos, a adaptação a um conjunto de situações novas que implicam uma aprendizagem inicial com as quais não se encontra ainda familiarizado.
Na verdade, o percurso académico de qualquer estudante está naturalmente muito marcado pela interacção e comunicação presencial. Foi esta a experiência que teve ao longo de toda a sua formação.
Ora, a comunicação e a interacção nos ambientes virtuais de aprendizagem - o ensino online - é diferente e exige a aprendizagem de diversos aspectos." (Pereira, Mendes, Mota, Morgado & Aires, 2004)
A interacção online é substancialmente diferente daquela que se estabelece numa sala de aula tradicional. As características de uma sala de aula virtual não são, nem pretendem ser, uma réplica da sala de aula presencial.
Habitualmente, no ensino presencial, um professor ou formador experiente conseguirá detectar na linguagem não verbal do aluno ou formando comportamentos reveladores de dificuldades ou problemas na aprendizagem, tais como dúvidas, alheamento, aborrecimento, frustração, ou simplesmente cansaço.
No ensino a distância, isso torna-se muito mais difícil, senão mesmo impossível.
Assim, se um estudante não comunicar rapidamente ao professor as dificuldades que está a sentir, este, não podendo detectá-las, não poderá tomar iniciativas no sentido de auxiliar e orientar esse aluno, correndo este o risco de ser ultrapassado pelo desenrolar do curso, de forma irreversível.
É, pois, necessário que o aluno adopte uma atitude assertiva e pró-activa no sentido de solicitar a intervenção do professor, no caso de se deparar com dificuldades na aprendizagem que sozinho não consiga ultrapassar.
COMPETÊNCIAS
"Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no começo de seu percurso profissional serão obsoletas no fim de sua carreira." (Lévy, 1999)
Também um conjunto de competências são necessárias a um estudante online que pretenda concluir com êxito a sua formação a distância. São elas:
Comunicação escrita
Uma vez que a maior parte da comunicação e interacção, em ambientes virtuais de aprendizagem, se estabelece por escrito, é fundamental que os estudantes dominem proficientemente a linguagem escrita e sejam capazes de comunicar de forma objectiva e clara desta forma.
Uma boa capacidade de argumentação é, igualmente, um factor favorável.
Domínio de idiomas
A língua inglesa é a adoptada internacionalmente para a publicação de trabalhos académicos e documentos de cariz científico. Por esse motivo, o seu conhecimento é imprescindível para um estudante do ensino a distância.
Igualmente o domínio do Francês e do Castelhano poderá revelar-se útil, particularmente no caso de alguns autores ou em algumas áreas científicas.
Aplicações informáticas
"(...) o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas: a memória (bases de dados, hipertextos, fichários digitais de todas as ordens), a imaginação (simulações), a percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), os raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenómenos complexos).
Tais tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação, como: navegação hipertextual, pesquisa de informações através de motores de busca, knowbots, agentes de software, exploração contextual por mapas dinâmicos de dados, novos estilos de raciocínio e conhecimento, tais como a simulação, uma verdadeira industrialização da experiência de pensamento, que não pertence nem à dedução lógica, nem à indução a partir da experiência." (Lévy, 1999)
O ensino online assenta primordialmente na utilização de equipamento informático e das respectivas aplicações. Neste quadro, o domínio da utilização de um sistema operativo, um processador de texto, um gerador de apresentações gráficas, uma ferramenta de desenho, um browser, uma aplicação de correio electrónico e, em alguns casos particulares, uma folha de cálculo, um gestor de bases de dados e uma agenda electrónica serão indispensáveis a quem optar por esta forma de aprendizagem.
RECURSOS
"A tecnologia não determina a sociedade: incorpora-a, (…) nem a sociedade determina a inovação tecnológica: usa-a." (Castells, 1999)
Por fim, haverá, ainda, um conjunto de recursos requeridos, sem os quais não seria possível a participação nesta forma de aprendizagem:
Hardware, software e acesso à Internet
"A rede é um conjunto de nós interligados. Um nó é o ponto no qual uma curva se intercepta. O nó a que nos referimos depende do tipo de redes em causa." (Castells, 1999)
Um curso online utiliza o computador e o acesso à Internet como meio de comunicação.
Por este motivo, o aluno deverá possuir um computador, uma impressora, equipamento multimédia, o software necessário anteriormente referido e uma conta de correio electrónico, bem como ter um acesso on-line ininterrupto e suficientemente rápido à Internet, o qual poderá ser na sua residência, no seu local de trabalho, no laboratório de informática de uma escola, ou numa biblioteca.
Plano de contingência
A tecnologia irá inevitavelmente falhar, algum dia. A Lei de Murphy é implacável. Tendo isto em conta, um aluno de um curso online deverá estar preparado para os momentos em que o acesso à Internet é interrompido ou, devido a uma avaria ou a uma infecção por vírus, o computador deixa de funcionar, ou se verifica uma perda de informação.
Para isso, é indispensável efectuar cuidadosa e frequentemente cópias de segurança dos ficheiros, e-mails e endereços dos favoritos, podendo utilizar para esse efeito os vários serviços disponíveis na Web 2.0, um segundo disco rígido (interno ou externo), Pen Drives, CDs, DVDs ou outros periféricos de armazenamento em massa.
Um segundo computador, que será utilizado em casa de avaria do PC habitual, também constituirá uma boa solução, nos casos em que isso for financeiramente viável.
Uma questão de mais difícil resolução, sobretudo no período em que a maior parte dos locais de trabalho se encontra encerrados, é a possibilidade de um corte no fornecimento de sinal por parte do nosso Internet Service Provider. Nesta circunstância, recorrer a um familiar, a um amigo ou a um colega será a solução mais indicada.
Conclusão
Neste novo cenário caracterizado pelas drásticas e fervilhantes transformações na educação, em geral, e no ensino a distância, em particular, resultantes de uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede, ressalta a necessidade de um estudante online ter que se munir de um conjunto de competências e características mais alargado, em comparação com o aluno do ensino presencial.
Esse acréscimo dever-se-á às diferentes exigências que o ensino online apresenta em relação ao ensino tradicional e deverá incluir uma inquebrantável auto-motivação, uma auto-disciplina mais firme, uma organização mais cuidada, um planeamento mais rigoroso e uma gestão do tempo mais eficaz.
Do mesmo modo, será aconselhável uma capacidade de pesquisa e de análise mais aguçada, um espírito crítico mais apurado e uma maior facilidade de expressão escrita.
Apesar desta maior exigência, o ensino online revela-se uma forma de educação extremamente válida e muito gratificante, capaz de gerar competências e transmitir conhecimento aos alunos que optarem por esta forma de educação, constituindo-se como a forma de ensino mais aberta e voltada para as inovações que o futuro presumivelmente trará.
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terça-feira, 20 de julho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE
CICLO DE VIDA DO CONHECIMENTO
Em relação ao debate em curso sobre o Conhecimento, a sua validade, o seu ciclo de vida e a sua aceleração, creio que estamos no domínio da Epistemologia ou Teoria do Conhecimento, ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento.
Uma questão que tem sido bastante debatida é a evolução do Conhecimento.
O artigo "Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepções de ciência" (http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/cat_epist.htm), da Professora Auxiliar da Secção Autónoma da História e Filosofia da Ciência da FCUL Olga Pombo, elucida-nos quanto a esta questão:
Epistemologias continuistas e descontinuistas (esta categoria diz respeito ao modo como é entendido o progresso da ciência)
Segundo os continuistas a ciência progride sem sobressaltos uma vez que cada teoria contém os fragmentos, as bases ou os embriões da teoria seguinte. Os epistemólogos defensores desta perspectiva procuram compreender como é que uma teoria engendra ou prolonga uma outra, estabelecendo relações de filiação entre elas.
O continuista tende portanto a considerar as mudanças qualitativas como resultantes de um acréscimo quantitativo, que se constitui de uma forma uniforme, numa escala sempre ascendente. O progresso será então uma lenta e contínua aquisição de novas verdades em que umas proposições engendram outras procurando mostrar de que modo uma proposição mais recente tem as suas raízes em teorias mais antigas e, por sua vez, abre para o futuro um leque de possibilidades.
De acordo com os descontinuistas a ciência progride através de rupturas, por negação de teorias anteriores. Estas epistemologias estão especialmente atentas não às filiações mas às rupturas, não àquilo que liga as teorias entre si, mas àquilo que as separa. O progresso dos conhecimentos científicos faz-se através de rupturas, isto é, através de grandes alterações qualitativas que não podem ser reduzidas a uma lógica de acréscimo de quantidades; faz-se através de momentos em que se quebra a tradição e em que esta é substituída por uma nova teoria.
Enquanto que as primeiras epistemologias são predominantemente continuistas, este modo descontinuista de conceber a ciência é muito característico das últimas cinco décadas.
Para Bachelard, por exemplo, o progresso da ciência faz-se dizendo não às teorias e concepções anteriores.
A descontinuidade da ciência revela-se em muitos aspectos, por exemplo, nas técnicas que podem ser directas ou indirectas; nos conceitos que evoluem no sentido de uma maior racionalidade; nos métodos, nos próprios objectos que, de existentes na natureza, passam cada vez mais a ser fruto da criação intelectual do cientista. Segundo Kuhn, outro descontinuista, não é apenas a teoria que muda mas sim todo o paradigma.
Há descontinuidades no próprio modo de pensar o mundo, nas decisões metafísicas que o fundamentam, nas práticas científicas comuns a uma determinada comunidade.
A posição que mais tem sido defendida neste debate tem sido a primeira, a Epistemologia continuista. Porém, a segunda tem sido responsável por gigantescos saltos na Ciência, algo que numa perspectiva continuista não teria sido nunca possível.
Segundo a Infopédia, "corte epistemológico é um conceito fundamental no interior da epistemologia de Gaston Bachelard. Designa e explica as rupturas ou as mudanças súbitas que acontecem ao longo do processo de evolução do conhecimento científico na busca de uma crescente objectividade, em que o racional, que é construído, se vai sobrepondo num esforço constante ao consciencial, que é meramente subjectivo.
A evolução do conhecimento científico é descontínua e acontece por oposição aos sistemas anteriores, numa procura de ultrapassar os obstáculos epistemológicos que neles se patenteiam." (http://www.infopedia.pt/$corte-epistemologico)
Como exemplos mais frequentemente citados de profundos cortes epistemológicos temos a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, que se afasta em definitivo da até então aceite Teoria Geocêntrica Aristoteliana, a Teoria da Relatividade, de Einstein, uma gigantesca cisão em relação à anterior teoria de Newton, e o Princípio do Indeterminismo, de Einsenberg, uma clara ruptura em relação à Física Clássica.
assim, constatamos que nem sempre a evolução do conhecimento resulta de uma evolução. A verificar-se apenas uma contínua evolução, teríamos hoje candeias a petróleo extremamente optimizadas, mas nunca teríamos a luz eléctrica.
No entanto, não devemos considerar como derrotadas as teorias que, ao longo do tempo, foram sendo substituídas por outras. Enquanto foram aceites deram o seu contributo para a Ciência e concorreram para alargar o Conhecimento.
Em relação ao ciclo de vida do conhecimento, fiquei com a ideia, pelas pesquisas que fiz, que este conceito é particularmente caro no universo empresarial, onde muito tem sido explorado.
Encontrei um artigo sobre esta temática, que reputo de bastante interessante, "Analysis of the new knowledge management: Perspectives for critical approaches" de dois consultores norte-americanos Joseph M. Firestone e Mark W. McElroy, sócios fundadores do Knowledge Management Consortium Internacional (KMCI) (Consórcio Internacional de Gestão do Conhecimento), que convosco partilho:
Gestão do conhecimento
(...) podemos considerar duas frameworks, de primeira e segunda geração. A visão que cada uma tem do problema da gestão do conhecimento difere, e está associada a dois conceitos distintos:
Supply-Side (lado da oferta)
Directamente relacionada com a estratégia de gestão do conhecimento de primeira geração, em que o objectivo principal é distribuir e partilhar o conhecimento existente pela organização.
Nesta época a gestão do conhecimento resumia-se a:
1) Capturar, codificar e partilhar conhecimento valioso para a organização.
2) Levar a informação certa, à pessoa certa no momento certo.
Para este objectivo fazia-se um uso exaustivo e exclusivo de tecnologias de informação (como repositórios de dados, ferramentas de gestão de documentos, etc.) para providenciar respostas ao problema a que se destinavam resolver: partilha de conhecimento inadequada.
Demand-Side (lado da procura)
Directamente relacionada com a segunda geração de gestão do conhecimento, em que se acredita que acelerar a produção de novo conhecimento é um bem muito mais valioso do que apenas codificar e partilhar o conhecimento já existente. Assim, o principal objectivo passa a ser criar condições nas quais a inovação e a criatividade possa ocorrer naturalmente, tornando as organizações mais competitivas.
Ao contrário da estratégia Supply-Side, aqui existe uma visão global do problema, pelo que apesar de não ser o objectivo principal, também existe a preocupação de produzir soluções para a partilha do conhecimento.
Ciclo de vida do conhecimento
O ciclo de vida do conhecimento é um conceito introduzido só na segunda geração de gestão do conhecimento. Até então não se considerava um ciclo de vida, mas antes que este já existia nas empresas e apenas necessitava de ser organizado e disseminado. Pelo contrário, a segunda geração acredita que o conhecimento tem um ciclo de vida.
O conhecimento é criado e sujeito a um processo de validação. Caso seja realmente validado é incluído na base de conhecimento e distribuído pela organização. A introdução de novo conhecimento pode originar mudanças nos processos da organização e tornar obsoleto conhecimento que até então era considerado válido, e assim terminando o ciclo.
A principal diferença entre as duas abordagens é que a segunda geração considera que uma organização não só possui conhecimento colectivo, como também aprende e evolui. De acordo com a segunda abordagem, a gestão do conhecimento deve proporcionar condições para a aprendizagem organizacional.
A leitura deste artigo, permite lançar alguma luz sobre uma questão colocada neste debate "Em que consiste e o que significa o ciclo de vida do conhecimento? Será que ele existe? Como se define?"
Segundo estes autores, o Conhecimento tem, de facto, um ciclo de vida, terminando este quando a introdução de novo conhecimento, depois de correctamente validado, torna obsoleto conhecimento que até então era considerado válido.
Daqui poderemos concluir que a aceleração do ciclo de vida do conhecimento resulta da cada vez mais rápida e frequente introdução de novos conhecimentos, algo tão característico desta nossa sociedade nos tempos que vivemos.
Em relação ao debate em curso sobre o Conhecimento, a sua validade, o seu ciclo de vida e a sua aceleração, creio que estamos no domínio da Epistemologia ou Teoria do Conhecimento, ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento.
Uma questão que tem sido bastante debatida é a evolução do Conhecimento.
O artigo "Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepções de ciência" (http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/cat_epist.htm), da Professora Auxiliar da Secção Autónoma da História e Filosofia da Ciência da FCUL Olga Pombo, elucida-nos quanto a esta questão:
Epistemologias continuistas e descontinuistas (esta categoria diz respeito ao modo como é entendido o progresso da ciência)
Segundo os continuistas a ciência progride sem sobressaltos uma vez que cada teoria contém os fragmentos, as bases ou os embriões da teoria seguinte. Os epistemólogos defensores desta perspectiva procuram compreender como é que uma teoria engendra ou prolonga uma outra, estabelecendo relações de filiação entre elas.
O continuista tende portanto a considerar as mudanças qualitativas como resultantes de um acréscimo quantitativo, que se constitui de uma forma uniforme, numa escala sempre ascendente. O progresso será então uma lenta e contínua aquisição de novas verdades em que umas proposições engendram outras procurando mostrar de que modo uma proposição mais recente tem as suas raízes em teorias mais antigas e, por sua vez, abre para o futuro um leque de possibilidades.
De acordo com os descontinuistas a ciência progride através de rupturas, por negação de teorias anteriores. Estas epistemologias estão especialmente atentas não às filiações mas às rupturas, não àquilo que liga as teorias entre si, mas àquilo que as separa. O progresso dos conhecimentos científicos faz-se através de rupturas, isto é, através de grandes alterações qualitativas que não podem ser reduzidas a uma lógica de acréscimo de quantidades; faz-se através de momentos em que se quebra a tradição e em que esta é substituída por uma nova teoria.
Enquanto que as primeiras epistemologias são predominantemente continuistas, este modo descontinuista de conceber a ciência é muito característico das últimas cinco décadas.
Para Bachelard, por exemplo, o progresso da ciência faz-se dizendo não às teorias e concepções anteriores.
A descontinuidade da ciência revela-se em muitos aspectos, por exemplo, nas técnicas que podem ser directas ou indirectas; nos conceitos que evoluem no sentido de uma maior racionalidade; nos métodos, nos próprios objectos que, de existentes na natureza, passam cada vez mais a ser fruto da criação intelectual do cientista. Segundo Kuhn, outro descontinuista, não é apenas a teoria que muda mas sim todo o paradigma.
Há descontinuidades no próprio modo de pensar o mundo, nas decisões metafísicas que o fundamentam, nas práticas científicas comuns a uma determinada comunidade.
A posição que mais tem sido defendida neste debate tem sido a primeira, a Epistemologia continuista. Porém, a segunda tem sido responsável por gigantescos saltos na Ciência, algo que numa perspectiva continuista não teria sido nunca possível.
Segundo a Infopédia, "corte epistemológico é um conceito fundamental no interior da epistemologia de Gaston Bachelard. Designa e explica as rupturas ou as mudanças súbitas que acontecem ao longo do processo de evolução do conhecimento científico na busca de uma crescente objectividade, em que o racional, que é construído, se vai sobrepondo num esforço constante ao consciencial, que é meramente subjectivo.
A evolução do conhecimento científico é descontínua e acontece por oposição aos sistemas anteriores, numa procura de ultrapassar os obstáculos epistemológicos que neles se patenteiam." (http://www.infopedia.pt/$corte-epistemologico)
Como exemplos mais frequentemente citados de profundos cortes epistemológicos temos a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, que se afasta em definitivo da até então aceite Teoria Geocêntrica Aristoteliana, a Teoria da Relatividade, de Einstein, uma gigantesca cisão em relação à anterior teoria de Newton, e o Princípio do Indeterminismo, de Einsenberg, uma clara ruptura em relação à Física Clássica.
assim, constatamos que nem sempre a evolução do conhecimento resulta de uma evolução. A verificar-se apenas uma contínua evolução, teríamos hoje candeias a petróleo extremamente optimizadas, mas nunca teríamos a luz eléctrica.
No entanto, não devemos considerar como derrotadas as teorias que, ao longo do tempo, foram sendo substituídas por outras. Enquanto foram aceites deram o seu contributo para a Ciência e concorreram para alargar o Conhecimento.
Em relação ao ciclo de vida do conhecimento, fiquei com a ideia, pelas pesquisas que fiz, que este conceito é particularmente caro no universo empresarial, onde muito tem sido explorado.
Encontrei um artigo sobre esta temática, que reputo de bastante interessante, "Analysis of the new knowledge management: Perspectives for critical approaches" de dois consultores norte-americanos Joseph M. Firestone e Mark W. McElroy, sócios fundadores do Knowledge Management Consortium Internacional (KMCI) (Consórcio Internacional de Gestão do Conhecimento), que convosco partilho:
Gestão do conhecimento
(...) podemos considerar duas frameworks, de primeira e segunda geração. A visão que cada uma tem do problema da gestão do conhecimento difere, e está associada a dois conceitos distintos:
Supply-Side (lado da oferta)
Directamente relacionada com a estratégia de gestão do conhecimento de primeira geração, em que o objectivo principal é distribuir e partilhar o conhecimento existente pela organização.
Nesta época a gestão do conhecimento resumia-se a:
1) Capturar, codificar e partilhar conhecimento valioso para a organização.
2) Levar a informação certa, à pessoa certa no momento certo.
Para este objectivo fazia-se um uso exaustivo e exclusivo de tecnologias de informação (como repositórios de dados, ferramentas de gestão de documentos, etc.) para providenciar respostas ao problema a que se destinavam resolver: partilha de conhecimento inadequada.
Demand-Side (lado da procura)
Directamente relacionada com a segunda geração de gestão do conhecimento, em que se acredita que acelerar a produção de novo conhecimento é um bem muito mais valioso do que apenas codificar e partilhar o conhecimento já existente. Assim, o principal objectivo passa a ser criar condições nas quais a inovação e a criatividade possa ocorrer naturalmente, tornando as organizações mais competitivas.
Ao contrário da estratégia Supply-Side, aqui existe uma visão global do problema, pelo que apesar de não ser o objectivo principal, também existe a preocupação de produzir soluções para a partilha do conhecimento.
Ciclo de vida do conhecimento
O ciclo de vida do conhecimento é um conceito introduzido só na segunda geração de gestão do conhecimento. Até então não se considerava um ciclo de vida, mas antes que este já existia nas empresas e apenas necessitava de ser organizado e disseminado. Pelo contrário, a segunda geração acredita que o conhecimento tem um ciclo de vida.
O conhecimento é criado e sujeito a um processo de validação. Caso seja realmente validado é incluído na base de conhecimento e distribuído pela organização. A introdução de novo conhecimento pode originar mudanças nos processos da organização e tornar obsoleto conhecimento que até então era considerado válido, e assim terminando o ciclo.
A principal diferença entre as duas abordagens é que a segunda geração considera que uma organização não só possui conhecimento colectivo, como também aprende e evolui. De acordo com a segunda abordagem, a gestão do conhecimento deve proporcionar condições para a aprendizagem organizacional.
A leitura deste artigo, permite lançar alguma luz sobre uma questão colocada neste debate "Em que consiste e o que significa o ciclo de vida do conhecimento? Será que ele existe? Como se define?"
Segundo estes autores, o Conhecimento tem, de facto, um ciclo de vida, terminando este quando a introdução de novo conhecimento, depois de correctamente validado, torna obsoleto conhecimento que até então era considerado válido.
Daqui poderemos concluir que a aceleração do ciclo de vida do conhecimento resulta da cada vez mais rápida e frequente introdução de novos conhecimentos, algo tão característico desta nossa sociedade nos tempos que vivemos.
terça-feira, 22 de junho de 2010
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE
OPEN EDUCATIONAL RESOURCES (OER)
Caros colegas
Depois de num post anterior ter reflectido sobre a problemática da produção do conhecimento, importa agora participar no debate que tem vindo a decorrer sobre o papel dos Open Educational Resources (OER) ou, em português, Recursos Educativos Abertos (REA) e, numa perspectiva mais alargada, sobre a aceleração do ciclo de vida do conhecimento e a reutilização de conteúdos digitais na rede.
Ao procurar aprofundar este tema, comecei por investigar o conceito de Open Educational Resources - OER (Recursos Educativos Abertos - REA) surgido pela primeira vez em 2002, por intermédio da UNESCO, e que segundo esta são "recursos orientados para o ensino, que se encontram ao abrigo de licenças que podem permitir a sua adaptação, utilização e partilha, como por exemplo a Creative Commons License."
Encontrei, ainda, outras definições, que passo a transcrever:
"Open Educational Resources are all about sharing. In a brave new world of learning, OER content is made free to use or share, and in some cases, to change and share again, made possible through licensing, so that both teachers and learners can share what they know." (http://www.oercommons.org/)
"O OER (Open Educational Resources) é uma rede global de recursos educativos gratuitos para ensino e aprendizagem através da internet, desde o ensino secundário até à universidade. Basta registar-se para começar a visualizar, avaliar e descarregar conteúdos." (Instituto Nacional de Administração - INA)
"Os Recursos Educativos Abertos (REA) são materiais livres de aprendizagem em formato digital, distribuídos mediante a licença Creative Commons." (Wikipédia)
Outro conceito que se tornou indispensável conhecer foi o de Creative Commons License:
"With a Creative Commons license, you keep your copyright but allow people to copy and distribute your work provided they give you credit - and only on the conditions you specify here. (…) If you want to offer your work with no conditions or you want to certify a work as public domain, choose one of our public domain tools.
Creative Commons helps you publish your work online while letting others know exactly what they can and can't do with your work. When you choose a license, we provide you with tools and tutorials that let you add license information to our own site, or to one of several free hosting services that have incorporated Creative Commons." (http://creativecommons.org/choose/)
License Conditions:
Attribution by: You let others copy, distribute, display, and perform your copyrighted work - and derivative works based upon it - but only if they give credit the way you request.
Share Alike sa: You allow others to distribute derivative works only under a license identical to the license that governs your work.
Non-Commercial nc: You let others copy, distribute, display, and perform your work - and derivative works based upon it - but for non-commercial purposes only.
No Derivative Works nd: You let others copy, distribute, display, and perform only verbatim copies of your work, not derivative works based upon it.
(http://creativecommons.org/choose/)
"Creative Commons é uma organização não governamental sem fins lucrativos localizada em São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, voltada a expandir a quantidade de obras criativas disponíveis, através de suas licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que o tradicional ' todos direitos reservados' . Para esse fim, a organização criou diversas licenças, conhecidas como licenças Creative Commons." (Wikipédia)
Imagino que estes conceitos seriam escalpelizados na Actividade 7 - Pesquisa Open Access, que pelos motivos indicados pelo Professor António Teixeira teve que ser cancelada.
Como exemplos de iniciativas dignas de registo neste campo temos o lreforschools, criado em Dezembro de 2008 e financiado pela União Europeia, com mais de 128.000 REA, que permite aos professores facultarem aos seus alunos um leque mais vasto de experiências pedagógicas, através de materiais produzidos por outros colegas, e o Scratch, uma ferramenta produzida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) que possibilita, através de um ambiente gráfico de programação, a produção de histórias interactivas, jogos educativos, animações, entre outros conteúdos, sem necessidade de conhecimentos de programação.
No website http://jcarlos.design2001.com/?p=25, encontrei, ainda, algumas informações que me ajudaram a compreender um pouco melhor estas questões, e que aproveito para partilhar convosco:
"A expansão de ferramentas web 2.0 (wikis, blogs, redes sociais) tem contribuído para o desenvolvimento dos REA, criando uma grande comunidade de partilha e entreajuda entre educadores, dos mais diversos pontos do Planeta.
Um dos problemas com que ainda se deparam estes recursos é a sua fraca divulgação no interior da classe educativa, muitas vezes “fechada” no interior das suas práticas rotineiras, onde a ideia de partilha de materiais ainda não se encontra enraizada.
Um dos aspectos fundamentais, para o sucesso desta “ideia fantástica”, assenta na capacidade de partilha (Share), ainda pouco desenvolvida em alguns países, como é o caso de Portugal.
Um dos aspectos muitas vezes criticado no âmbito dos REA é a sua qualidade científica, uma vez que a “facilidade” com que qualquer pessoa consegue produzir e partilhar estes recursos, pode potenciar a divulgação de um conhecimento com “alguma perturbação”. Daí que uma validação ou certificação de qualidade, em repositórios com um cariz institucional, seja importante. Por outro lado, esta “burocracia de certificação” poderá retirar a verdadeira essência da produção e partilha de REA."
Por fim, a leitura do material de que disponho da autoria de Stephen Downes e o visionamento do seu vídeo "The Role of Open Educational Resources in Personal Learning" revelaram-se fundamentais para aprofundar esta temática.
Assim, ao ver este pequeno filme, houve um conjunto de afirmações que, tal como já tinha acontecido com outros colegas, despertou a minha atenção:
"Learning is thought of as from the perspective of the learner, not from the perspective of the institution, not from the perspective of the content to be taught."
"Personal learning is more about an individual’s growth and development."
"The knowledge created and shared by an interconnecting community of learners. Knowledge is distributed. Knowledge is created by conversation and interaction"
"Participation is guided by personal interest and motivation."
"The connectivist course is an example of open sharing."
"What pedagogical purpose is served by open sharing (as opposed to, say, curricular materials, or scaffolded practice)? The answer lies in the nature of knowledge and learning itself."
We cannot produce knowledge for people. The greatest beneficiaries are the people who produce the resources. Why then do we fund universities and institutions to produce knowledge? The only sustainable OERs are produced by the learners themselves."
Estas declarações entroncam nas questões que nos foram colocadas a debate, tais como a potencial rápida desactualização de um artigo científico, ou a recente disseminação dos Recursos Educativos Abertos.
Em relação a este último tema, Stephen Downes afirma que os beneficiários dos REA são, surpreendente e ironicamente, as pessoas que produzem esses recursos. Os únicos REAs sustentáveis são aqueles produzidos pelos próprios aprendentes.
Sem dúvida que sim. São inquestionáveis as vantagens dos REAs, no entanto, creio que estes servem muito melhor os propósitos do seu criador do que dos seus utilizadores.
É certo que um determinado REA poderá ser reutilizado, adaptado, e partilhado de novo, mas será sempre um recurso criado em circunstâncias específicas, para um público particular e com condicionantes objectivas, que dificilmente se adaptarão integralmente a diferentes situações e necessidades.
Além disso, a criação desse REA poderá ter sido, ela própria, um momento único e irrepetível de ensino e aprendizagem, facto que provavelmente já não se repetirá na sua simples reutilização.
Não questiono o carácter universal de matérias como o Teorema de Pitágoras, a Lei da Atracção dos Corpos, ou outras, onde um REA bem concebido poderá trazer enormes benefícios para quem o utilizar. Contudo, se imaginarmos a produção conjunta desse REA numa turma, por parte do seu professor e dos seus alunos, e a compararmos com uma outra onde esse recurso apenas foi utilizado, não restam dúvidas que os resultados serão mais favoráveis no primeiro caso.
Caros colegas
Depois de num post anterior ter reflectido sobre a problemática da produção do conhecimento, importa agora participar no debate que tem vindo a decorrer sobre o papel dos Open Educational Resources (OER) ou, em português, Recursos Educativos Abertos (REA) e, numa perspectiva mais alargada, sobre a aceleração do ciclo de vida do conhecimento e a reutilização de conteúdos digitais na rede.
Ao procurar aprofundar este tema, comecei por investigar o conceito de Open Educational Resources - OER (Recursos Educativos Abertos - REA) surgido pela primeira vez em 2002, por intermédio da UNESCO, e que segundo esta são "recursos orientados para o ensino, que se encontram ao abrigo de licenças que podem permitir a sua adaptação, utilização e partilha, como por exemplo a Creative Commons License."
Encontrei, ainda, outras definições, que passo a transcrever:
"Open Educational Resources are all about sharing. In a brave new world of learning, OER content is made free to use or share, and in some cases, to change and share again, made possible through licensing, so that both teachers and learners can share what they know." (http://www.oercommons.org/)
"O OER (Open Educational Resources) é uma rede global de recursos educativos gratuitos para ensino e aprendizagem através da internet, desde o ensino secundário até à universidade. Basta registar-se para começar a visualizar, avaliar e descarregar conteúdos." (Instituto Nacional de Administração - INA)
"Os Recursos Educativos Abertos (REA) são materiais livres de aprendizagem em formato digital, distribuídos mediante a licença Creative Commons." (Wikipédia)
Outro conceito que se tornou indispensável conhecer foi o de Creative Commons License:
"With a Creative Commons license, you keep your copyright but allow people to copy and distribute your work provided they give you credit - and only on the conditions you specify here. (…) If you want to offer your work with no conditions or you want to certify a work as public domain, choose one of our public domain tools.
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License Conditions:
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No Derivative Works nd: You let others copy, distribute, display, and perform only verbatim copies of your work, not derivative works based upon it.
(http://creativecommons.org/choose/)
"Creative Commons é uma organização não governamental sem fins lucrativos localizada em São Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, voltada a expandir a quantidade de obras criativas disponíveis, através de suas licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que o tradicional ' todos direitos reservados' . Para esse fim, a organização criou diversas licenças, conhecidas como licenças Creative Commons." (Wikipédia)
Imagino que estes conceitos seriam escalpelizados na Actividade 7 - Pesquisa Open Access, que pelos motivos indicados pelo Professor António Teixeira teve que ser cancelada.
Como exemplos de iniciativas dignas de registo neste campo temos o lreforschools, criado em Dezembro de 2008 e financiado pela União Europeia, com mais de 128.000 REA, que permite aos professores facultarem aos seus alunos um leque mais vasto de experiências pedagógicas, através de materiais produzidos por outros colegas, e o Scratch, uma ferramenta produzida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) que possibilita, através de um ambiente gráfico de programação, a produção de histórias interactivas, jogos educativos, animações, entre outros conteúdos, sem necessidade de conhecimentos de programação.
No website http://jcarlos.design2001.com/?p=25, encontrei, ainda, algumas informações que me ajudaram a compreender um pouco melhor estas questões, e que aproveito para partilhar convosco:
"A expansão de ferramentas web 2.0 (wikis, blogs, redes sociais) tem contribuído para o desenvolvimento dos REA, criando uma grande comunidade de partilha e entreajuda entre educadores, dos mais diversos pontos do Planeta.
Um dos problemas com que ainda se deparam estes recursos é a sua fraca divulgação no interior da classe educativa, muitas vezes “fechada” no interior das suas práticas rotineiras, onde a ideia de partilha de materiais ainda não se encontra enraizada.
Um dos aspectos fundamentais, para o sucesso desta “ideia fantástica”, assenta na capacidade de partilha (Share), ainda pouco desenvolvida em alguns países, como é o caso de Portugal.
Um dos aspectos muitas vezes criticado no âmbito dos REA é a sua qualidade científica, uma vez que a “facilidade” com que qualquer pessoa consegue produzir e partilhar estes recursos, pode potenciar a divulgação de um conhecimento com “alguma perturbação”. Daí que uma validação ou certificação de qualidade, em repositórios com um cariz institucional, seja importante. Por outro lado, esta “burocracia de certificação” poderá retirar a verdadeira essência da produção e partilha de REA."
Por fim, a leitura do material de que disponho da autoria de Stephen Downes e o visionamento do seu vídeo "The Role of Open Educational Resources in Personal Learning" revelaram-se fundamentais para aprofundar esta temática.
Assim, ao ver este pequeno filme, houve um conjunto de afirmações que, tal como já tinha acontecido com outros colegas, despertou a minha atenção:
"Learning is thought of as from the perspective of the learner, not from the perspective of the institution, not from the perspective of the content to be taught."
"Personal learning is more about an individual’s growth and development."
"The knowledge created and shared by an interconnecting community of learners. Knowledge is distributed. Knowledge is created by conversation and interaction"
"Participation is guided by personal interest and motivation."
"The connectivist course is an example of open sharing."
"What pedagogical purpose is served by open sharing (as opposed to, say, curricular materials, or scaffolded practice)? The answer lies in the nature of knowledge and learning itself."
We cannot produce knowledge for people. The greatest beneficiaries are the people who produce the resources. Why then do we fund universities and institutions to produce knowledge? The only sustainable OERs are produced by the learners themselves."
Estas declarações entroncam nas questões que nos foram colocadas a debate, tais como a potencial rápida desactualização de um artigo científico, ou a recente disseminação dos Recursos Educativos Abertos.
Em relação a este último tema, Stephen Downes afirma que os beneficiários dos REA são, surpreendente e ironicamente, as pessoas que produzem esses recursos. Os únicos REAs sustentáveis são aqueles produzidos pelos próprios aprendentes.
Sem dúvida que sim. São inquestionáveis as vantagens dos REAs, no entanto, creio que estes servem muito melhor os propósitos do seu criador do que dos seus utilizadores.
É certo que um determinado REA poderá ser reutilizado, adaptado, e partilhado de novo, mas será sempre um recurso criado em circunstâncias específicas, para um público particular e com condicionantes objectivas, que dificilmente se adaptarão integralmente a diferentes situações e necessidades.
Além disso, a criação desse REA poderá ter sido, ela própria, um momento único e irrepetível de ensino e aprendizagem, facto que provavelmente já não se repetirá na sua simples reutilização.
Não questiono o carácter universal de matérias como o Teorema de Pitágoras, a Lei da Atracção dos Corpos, ou outras, onde um REA bem concebido poderá trazer enormes benefícios para quem o utilizar. Contudo, se imaginarmos a produção conjunta desse REA numa turma, por parte do seu professor e dos seus alunos, e a compararmos com uma outra onde esse recurso apenas foi utilizado, não restam dúvidas que os resultados serão mais favoráveis no primeiro caso.
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE
A PROBLEMÁTICA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
Caros colegas
A ausência de auto-moderação acaba por ser uma forma de moderação.
Se, porventura, for essa a estratégia de moderação escolhida pelo grupo-turma, ainda que tacitamente, por inexistência de uma deliberação nesse sentido, creio que isso não retirará empenho nem participação a este debate.
Assim, posto que o prazo limite para o términus desta actividade expira daqui a 3 dias e dado que sempre privilegiei o pragmatismo e o conteúdo em detrimento da forma, sugiro que, para evitar um impasse decorrente da falta de definição, até agora, de estratégia de moderação e de quem a concretizará (provavelmente por todos estarmos assoberbados com as actividades das várias UCs), cada um apresente as suas reflexões tendentes a dar respostas às questões lançadas pelo professor sobre esta temática.
Neste sentido, exponho, de seguida, a minha interpretação em relação ao tema em causa, a problemática da produção do conhecimento.
Os historiadores fixam, habitualmente, o período da Idade Moderna entre 1453, ano da queda de Constantinopla e, consequentemente, do Império Romano do Oriente, e 1789, ano em que se dá o começo da Revolução Francesa, pondo fim ao Antigo Regime e iniciando o período da pós-modernidade, a Idade Contemporânea.
"Neste período, entre os séculos XVI e XVIII, assistiu-se ao desenvolvimento europeu, caracterizado pela passagem do feudalismo, singularizado por um mundo rural dominado pelas relações senhoriais, ao capitalismo, caracterizado pelo dinamismo da sociedade urbana ". [1]
O conceito de modernidade remonta aos sécs. XV e XVI e remete-nos para as polémicas renascentistas em que várias correntes humanistas defendiam a ideia de uma vida nova, moderna, por oposição ao passado cultural escolástico medieval, antigo.
Assim, o termo "moderno", que surgiu para caracterizar uma época muito concreta, em que e sociedade europeia se libertava do medievalismo, acabou por ver modificado o seu significado ao longo do tempo, traduzindo, nos dias de hoje, o conceito de presente, actual.
"A partir de 1765, com a invenção e o posterior melhoramento da máquina a vapor por James Watt, inicia-se, na Inglaterra, a Revolução Industrial, que iria modificar o mundo a uma velocidade cada vez maior. Depois disso, nada continuou como dantes. Surgiu um novo tipo de inferno. Tinha chegado o capitalismo. Neste sistema, grandes capitais conduziram a que se reunissem energias enormes para mover muitas máquinas que eram manejadas por muitos homens em simultâneo a fim de produzirem enormes quantidades de produtos de massas para mercados gigantescos para voltarem a gerar quantidades gigantescas de capitais. Uma vez posto em marcha, este processo foi-se acelerando a si próprio. Este sistema fabril possibilitou a pior espécie de exploração desde as pedreiras de Siracusa e a mina de prata de Potosi. Os trabalhadores já não estavam organizados em corporações e, assim sendo, encontravam-se desprotegidos. Trabalhavam por uma miséria em turnos de dez a doze horas, em condições sanitárias horríveis e viviam em bairros de barracas. Essa situação deveria tornar-se o pretexto para a criação dos sindicatos e para a crítica do capitalismo de Karl Marx. A aceleração da transformação de todas as condições de vida causa uma revolução cultural que designamos por Romantismo ". [2]
Fiz esta talvez um pouco longa introdução com o objectivo de tentar contextualizar o parágrafo com que o Prof. António Teixeira dá início a este debate.
Com efeito, "O traço típico da modernidade foi a aceleração da vida. Tudo se tornou mais rápido e, consequentemente, mais instável e menos certo. Com a pós-modernidade, esse traço não se perdeu."
A aceleração da produção do conhecimento não foi excepção e a nova dimensão que esta adquiriu, com o alargamento exponencial do número dos produtores e utilizadores do conhecimento, tem uma notável semelhança com o colossal aumento de produção de bens de consumo e do alargamento dos mercados para a sua colocação, que a Revolução Industrial veio despoletar.
Ou seja, criou-se um capitalismo da produção do conhecimento, onde um grande número de investigadores, cientistas e intelectuais, trabalhando tantas vezes mais de doze horas diária, conduziu a que se publicasse um número cada vez maior de artigos e obras científicas, a fim de satisfazer a crescente procura por parte de um número cada vez maior de consumidores desse conhecimento. Uma vez posto em marcha, este processo foi-se acelerando a si próprio.
Uma das consequências desta aceleração da produção do conhecimento foi a possível rápida desactualização desse conhecimento (ou parte dele), correndo por vezes o risco de perder a sua utilidade e validade.
De facto, podemos verificar que o mesmo tem acontecido na produção de bens de consumo, onde a evolução e o melhoramente de um produto, ou a criação de um novo, levaram à inevitável diminuição das vendas e ao esquecimento do produto original.
Uma das soluções adoptadas para tentar potenciar a colocação de um produto, quando a sua aceitação começa a revelar dificuldades, pode encontrar-se em ambos os tipos de produção: as técnicas (inicialmente bastante incipientes e que evoluíram, mais tarde, para terrivelmente eficazes) de Publicidade e Markting, com acções cada vez mais elaboradas e sofisticadas, capazes de cativar o mais refractário.
Ou seja, a produção do conhecimento passou a reger-se pelas leis do mercado e o conhecimento passou a ser produzido e comercializado como um mero bem de consumo, sujeito a objectivos e a intenções que não têm a ver, apenas, com a sua produção desinteressada. Para comprovar a que acabo de referir, basta pensarmos na ênfase que é dada actualmente aos direitos de autor e à propriedade intelectual, na sobreposição de critérios editoriais aos critérios científicos, aos objectivos profissionais subjacentes à produção desse conhecimento, ou reflectirmos sobre a quantidade de doutoramentos que, nos últimos anos, e devido à nova legislação, tiveram lugar com o objectivo de garantir a continuidade da carreira docente universitária.
Longe vão os tempos em que a produção do conhecimento era desprendida e desligada de intuitos profissionais, comerciais ou de lucro, como acontecia na Antiguidade Clássica.
Até aqui, foi possível estabelecer um paralelismo entre o que diz respeito a estes dois universos de produção: o dos bens de consumo e do conhecimento. Porém, não nos é possível prever como irá evoluir daqui em diante, pois a história iniciada com a Revolução Industrial ainda não chegou ao seu epílogo e, portanto, ainda não nos é possível recolher esses ensinamentos. O papel da História acaba aqui. Com ela compreendemos melhor o passado e o presente, mas não nos permite fazer futurologia.
Porém, sabemos que os excessos e alguns desvarios do período Moderno, nomeadamente uma visão exclusivamente racional e objectiva, levaram, no final do séc. XVIII, ao aparecimento do Romantismo, um movimento, político, filosófico e artístico caracterizado por uma visão do mundo contrária ao racionalismo, marcado pelo lirismo, pela subjectividade, pela emoção e pelo eu, e nostálgico do passado pré-moderno.
O Romantismo, sustentado filosoficamente em três pilares, o individualismo, o subjectivismo e a intensidade, passou a designar uma visão do mundo centrada no indivíduo e pretendeu revelar a parte do homem oculta pelas convenções estéticas e sociais. Contra a ordem e a rigidez intelectual clássica, os artistas românticos imprimiram maior importância à imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais poderiam alcançar o sublime e o genial, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo.
Não é de prever que algo idêntico aconteça num futuro próximo, em relação à produção do conhecimento e surja um movimento neo-neo-Romântico (provavelmente com outra designação) com o objectivo de libertar a produção do conhecimento das necessidades e dos constrangimentos com que hoje se debate?
No actual formato de sociedade industrializada, parece-me difícil, dado que se me afigura impossível dissociar essa produção das necessidades de sobrevivência económica e de prossecução da carreira profissional, mas seria seguramente uma produção mais isenta, mais objectiva e mais fecunda, caso fosse possível.
[1] Pere Molas, El Concepto de Edad Moderna Europea, 1993.
[2] Dietrich Schwanitz, Cultura: Tudo o que é preciso saber, 6ª edição, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2006.
Caros colegas
A ausência de auto-moderação acaba por ser uma forma de moderação.
Se, porventura, for essa a estratégia de moderação escolhida pelo grupo-turma, ainda que tacitamente, por inexistência de uma deliberação nesse sentido, creio que isso não retirará empenho nem participação a este debate.
Assim, posto que o prazo limite para o términus desta actividade expira daqui a 3 dias e dado que sempre privilegiei o pragmatismo e o conteúdo em detrimento da forma, sugiro que, para evitar um impasse decorrente da falta de definição, até agora, de estratégia de moderação e de quem a concretizará (provavelmente por todos estarmos assoberbados com as actividades das várias UCs), cada um apresente as suas reflexões tendentes a dar respostas às questões lançadas pelo professor sobre esta temática.
Neste sentido, exponho, de seguida, a minha interpretação em relação ao tema em causa, a problemática da produção do conhecimento.
Os historiadores fixam, habitualmente, o período da Idade Moderna entre 1453, ano da queda de Constantinopla e, consequentemente, do Império Romano do Oriente, e 1789, ano em que se dá o começo da Revolução Francesa, pondo fim ao Antigo Regime e iniciando o período da pós-modernidade, a Idade Contemporânea.
"Neste período, entre os séculos XVI e XVIII, assistiu-se ao desenvolvimento europeu, caracterizado pela passagem do feudalismo, singularizado por um mundo rural dominado pelas relações senhoriais, ao capitalismo, caracterizado pelo dinamismo da sociedade urbana ". [1]
O conceito de modernidade remonta aos sécs. XV e XVI e remete-nos para as polémicas renascentistas em que várias correntes humanistas defendiam a ideia de uma vida nova, moderna, por oposição ao passado cultural escolástico medieval, antigo.
Assim, o termo "moderno", que surgiu para caracterizar uma época muito concreta, em que e sociedade europeia se libertava do medievalismo, acabou por ver modificado o seu significado ao longo do tempo, traduzindo, nos dias de hoje, o conceito de presente, actual.
"A partir de 1765, com a invenção e o posterior melhoramento da máquina a vapor por James Watt, inicia-se, na Inglaterra, a Revolução Industrial, que iria modificar o mundo a uma velocidade cada vez maior. Depois disso, nada continuou como dantes. Surgiu um novo tipo de inferno. Tinha chegado o capitalismo. Neste sistema, grandes capitais conduziram a que se reunissem energias enormes para mover muitas máquinas que eram manejadas por muitos homens em simultâneo a fim de produzirem enormes quantidades de produtos de massas para mercados gigantescos para voltarem a gerar quantidades gigantescas de capitais. Uma vez posto em marcha, este processo foi-se acelerando a si próprio. Este sistema fabril possibilitou a pior espécie de exploração desde as pedreiras de Siracusa e a mina de prata de Potosi. Os trabalhadores já não estavam organizados em corporações e, assim sendo, encontravam-se desprotegidos. Trabalhavam por uma miséria em turnos de dez a doze horas, em condições sanitárias horríveis e viviam em bairros de barracas. Essa situação deveria tornar-se o pretexto para a criação dos sindicatos e para a crítica do capitalismo de Karl Marx. A aceleração da transformação de todas as condições de vida causa uma revolução cultural que designamos por Romantismo ". [2]
Fiz esta talvez um pouco longa introdução com o objectivo de tentar contextualizar o parágrafo com que o Prof. António Teixeira dá início a este debate.
Com efeito, "O traço típico da modernidade foi a aceleração da vida. Tudo se tornou mais rápido e, consequentemente, mais instável e menos certo. Com a pós-modernidade, esse traço não se perdeu."
A aceleração da produção do conhecimento não foi excepção e a nova dimensão que esta adquiriu, com o alargamento exponencial do número dos produtores e utilizadores do conhecimento, tem uma notável semelhança com o colossal aumento de produção de bens de consumo e do alargamento dos mercados para a sua colocação, que a Revolução Industrial veio despoletar.
Ou seja, criou-se um capitalismo da produção do conhecimento, onde um grande número de investigadores, cientistas e intelectuais, trabalhando tantas vezes mais de doze horas diária, conduziu a que se publicasse um número cada vez maior de artigos e obras científicas, a fim de satisfazer a crescente procura por parte de um número cada vez maior de consumidores desse conhecimento. Uma vez posto em marcha, este processo foi-se acelerando a si próprio.
Uma das consequências desta aceleração da produção do conhecimento foi a possível rápida desactualização desse conhecimento (ou parte dele), correndo por vezes o risco de perder a sua utilidade e validade.
De facto, podemos verificar que o mesmo tem acontecido na produção de bens de consumo, onde a evolução e o melhoramente de um produto, ou a criação de um novo, levaram à inevitável diminuição das vendas e ao esquecimento do produto original.
Uma das soluções adoptadas para tentar potenciar a colocação de um produto, quando a sua aceitação começa a revelar dificuldades, pode encontrar-se em ambos os tipos de produção: as técnicas (inicialmente bastante incipientes e que evoluíram, mais tarde, para terrivelmente eficazes) de Publicidade e Markting, com acções cada vez mais elaboradas e sofisticadas, capazes de cativar o mais refractário.
Ou seja, a produção do conhecimento passou a reger-se pelas leis do mercado e o conhecimento passou a ser produzido e comercializado como um mero bem de consumo, sujeito a objectivos e a intenções que não têm a ver, apenas, com a sua produção desinteressada. Para comprovar a que acabo de referir, basta pensarmos na ênfase que é dada actualmente aos direitos de autor e à propriedade intelectual, na sobreposição de critérios editoriais aos critérios científicos, aos objectivos profissionais subjacentes à produção desse conhecimento, ou reflectirmos sobre a quantidade de doutoramentos que, nos últimos anos, e devido à nova legislação, tiveram lugar com o objectivo de garantir a continuidade da carreira docente universitária.
Longe vão os tempos em que a produção do conhecimento era desprendida e desligada de intuitos profissionais, comerciais ou de lucro, como acontecia na Antiguidade Clássica.
Até aqui, foi possível estabelecer um paralelismo entre o que diz respeito a estes dois universos de produção: o dos bens de consumo e do conhecimento. Porém, não nos é possível prever como irá evoluir daqui em diante, pois a história iniciada com a Revolução Industrial ainda não chegou ao seu epílogo e, portanto, ainda não nos é possível recolher esses ensinamentos. O papel da História acaba aqui. Com ela compreendemos melhor o passado e o presente, mas não nos permite fazer futurologia.
Porém, sabemos que os excessos e alguns desvarios do período Moderno, nomeadamente uma visão exclusivamente racional e objectiva, levaram, no final do séc. XVIII, ao aparecimento do Romantismo, um movimento, político, filosófico e artístico caracterizado por uma visão do mundo contrária ao racionalismo, marcado pelo lirismo, pela subjectividade, pela emoção e pelo eu, e nostálgico do passado pré-moderno.
O Romantismo, sustentado filosoficamente em três pilares, o individualismo, o subjectivismo e a intensidade, passou a designar uma visão do mundo centrada no indivíduo e pretendeu revelar a parte do homem oculta pelas convenções estéticas e sociais. Contra a ordem e a rigidez intelectual clássica, os artistas românticos imprimiram maior importância à imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais poderiam alcançar o sublime e o genial, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo.
Não é de prever que algo idêntico aconteça num futuro próximo, em relação à produção do conhecimento e surja um movimento neo-neo-Romântico (provavelmente com outra designação) com o objectivo de libertar a produção do conhecimento das necessidades e dos constrangimentos com que hoje se debate?
No actual formato de sociedade industrializada, parece-me difícil, dado que se me afigura impossível dissociar essa produção das necessidades de sobrevivência económica e de prossecução da carreira profissional, mas seria seguramente uma produção mais isenta, mais objectiva e mais fecunda, caso fosse possível.
[1] Pere Molas, El Concepto de Edad Moderna Europea, 1993.
[2] Dietrich Schwanitz, Cultura: Tudo o que é preciso saber, 6ª edição, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2006.
domingo, 13 de junho de 2010
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE
Temática: A REDE COMO INTERFACE EDUCATIVO (II)
Actividade 6: Debate sobre o Futuro da Aprendizagem
Aqui deixo a minha reflexão em relação às últimas questões que nos foram colocadas.
Quais serão, afinal, as tecnologias mais interessantes para o desenvolvimento das potencialidades da aprendizagem?
Se tivesse que apostar 100 € nas tecnologias que gostaria de ver concretizadas de um futuro relativamente próximo, apostaria 80 € em conteúdos e software e 20 € em tudo o resto (nomeadamente hardware e equipamentos).
O que existe actualmente faz-me lembrar de uma criança que recebeu no Natal uma PSP caríssima, apenas com um jogo (relativamente mais barato) do qual se irá fartar, por repetidamente o jogar ao longo dos 5 anos seguintes.
Penso que nos deixámos enredar demasiadamente nas estratégias do marketing extremamente agressivo e suges-tivo, que nos gera constantemente necessidades que nem sempre temos. Isso levou-nos a sentir que precisamos de ter sempre o último gadget, a última versão seja do que for, ou o state of the art em qualquer domínio.
Mas será que temos mesmo? Será que isso é consentâneo com a realidade económica e financeira do nosso país e do nosso sistema de ensino?
Parece-me que a atitude sensata a tomar, neste aspecto, será tentar fazer a melhor omeleta possível com os ovos de que dispomos, ao invés de exigir continuamente mais ovos, uma melhor frigideira ou um fogão mais recente.
E isso passa por aproveitar melhor o parque informático existente actualmente, tirando melhor e mais eficaz partido dos meios de que dispomos.
Um caminho possível será o de fomentar a criação de mais e melhores conteúdos, à medida da nossa realidade cultural e da nossa identidade, e de acordo com as nossas necessidades específicas e envolver universidades, escolas e centros de formação, bem como os seus professores, formadores e alunos.
Como se deve desenvolver a preparação dos estudantes e professores para a boa e eficaz utilização da tecnologia?
Na preparação e formação dos professores, parece-me necessário que haja um maior esforço e investimento financeiro e de tempo por parte destes. Não recuso a ideia de que poderá haver um conjunto de acções de forma-ção promovidas (ou pelo menos financiadas) pelo Ministério da Educação, mas cabe a qualquer trabalhador diligenciar no sentido de se actualizar e investir na sua formação.
O que diríamos, enquanto clientes, de um ortopedista ou de um cardiologista que, por desconhecer as técnicas e os métodos mais recentes e mais eficazes, não conduziu correctamente a nossa avaliação, diagnóstico e terapia?
Provavelmente, chamar-lhe-íamos incompetente.
O mesmo acontece connosco, professores e formadores. Teremos que ser nós a conduzir o nosso processo de constante formação ao longo do nosso percurso profissional e não estar à espera que um qualquer D. Sebastião saia do nevoeiro para nos suprir essa necessidade.
É certo que isso irá ser oneroso e consumirá tempo que talvez preferíssemos dedicar à família, ao lazer, ou simplesmente ao descanso, mas é o preço a pagar para nos mantermos actualizados e à altura do que de nós é exigido.
Qual o papel do planeamento estratégico na disseminação institucional da utilização da tecnologia em educação?
Habitualmente, ouvimos dizer que a maior capacidade dos portugueses, enquanto povo, é a sua enorme capacidade de "desenrasque" (expressão tão portuguesa!). Ora, essa não é a nossa maior virtude, é o nosso pior defeito.
Somos incapazes de estudar, prever, simular, testar, projectar, planear. E, depois, temos que trabalhar em cima do joelho, navegar à vista sem rumo correctamente traçado, em suma, "desenrascar".
Não pretendo ser um profeta da desgraça, mas sinto que "planeamento estratégico" é algo a que somos avessos. Nem nos soa bem. Cheira a esforço, trabalho, aborrecimento. E o sol está tão bonito e a praia aqui tão perto...
Isto tem o seu quê de cultural. Os nórdicos aprenderam ao longo dos milénios que, se na altura da chegada do Inverno, não tiverem mantimentos e combustível armazenados em quantidade suficiente, se os seus sistemas de comunicações e entreajuda não estiverem estabelecidos convenientemente e se o apoio médico e social não estiver devidamente planeado e estruturado, dificilmente sobreviverão até à Primavera seguinte.
Em contrapartida, nas regiões meridionais os povos adoptaram uma estratégia muito mais despreocupada em relação ao assegurar da sua existência, pois bastará um pontapé no coqueiro para cair a refeição seguinte. E mesmo dormindo na praia, não se morre de frio...
Mas esta postura não poderá ser implementada na preparação dos nosso jovens para a vida, em geral, e para o mercado de trabalho, em particular. Dá asneira.
Afinal, talvez aquela coisa, o "planeamento estratégico", dê jeito. Mas o que é isso e como se faz?
Bom, vamos formar algumas comissões para indagar e averiguar esse conceito. Uma no Ministério de Educação e talvez uma na Assembleia da República.
Também será necessário contratar alguns assessores, consultores e conselheiros.
E será indispensável dotar essas comissões de avultados meios, equipamentos, viaturas e administrativos, sem os quais não será possível trabalhar com dignidade.
Obviamente que umas visitas ao estrangeiro em classe executiva e com hospedagem nos melhores hotéis serão imprescindíveis para conhecer o que se faz noutros países.
Até que um belo dia um chato de um jornalista publica algo sem sentido, um ataque pessoal aos membros da comissão, levantando calúnias e referindo-se a aspectos irrelevantes como a ausência de apresentação de relatórios e resultados práticos, absurdos como incumprimento de prazos, atoardas como custos incomportáveis, etc.
O melhor será criar uma comissão de inquérito para provar que esta é uma cabala e que o referido jornal actuou de forma parcial, com o objectivo de denegrir a imagem dos envolvidos, movido por inconfessados objectivos partidários, que em nada dignificam o país nem o sistema democrático...
Olá, Helena
Aquilo que pretendi no meu post foi caricaturar a forma como a alma lusa se comporta em relação ao planeamento estratégico. Como qualquer caricatura, prima pelo exagero. No entanto, e apesar disso, creio não ter andado muito longe daquilo que se passa no nosso país no que diz respeito à forma como as coisas acontecem quando é necessário planear estrategicamente.
Não há semana em que não passe nos jornais ou nos noticiários televisivos um chorrilho de onerosas incompetências e flagrantes desonestidades na concepção e implementação de projectos faraónicos absolutamente desaconselháveis, ou mesmo inexequíveis, nos mais diversos domínios. Isto choca-me e desagrada-me profundamente.
Um país que pouco produz não se pode dar ao luxo de desbaratar os seus exíguos recursos devido a governantes e gestores incapazes, gananciosos e sem escrúpulos.
Vamos pôr de lado, neste debate, a corrupção e a desonestidade (isso será matéria para outras instâncias) e concentrarmo-nos na questão que comentaste no teu post: o planeamento versus improvisação (o termo "desenrasque" não é muito elegante, mas é seguramente mais divertido).
Referes na tua intervenção "Quanto ao dessenrascanço, é possivelmente a nossa melhor arma para lidar com a inconstância, com os imprevistos e com a velocidade vertiginosa com que a tecnologia avança e nos leva por arrasto. E nisso acho que conseguimos ser bastante bons. (...) A atitude perante a constante mudança mais saudável é mesmo essa - improvisar e desenrrascar à medida que as situações para resolver surgem. Isso não é mau, pelo contrário é até bastante bom."
Perdoa-me discordar de ti. Creio que, quanto maior forem a inconstância, os imprevistos e a velocidade dos avanços da tecnologia, mais premente se torna analisar, estudar, planear, projectar e menos margem fica para a improvisação e para o nacional porreirismo do "desculpem lá qualquer coisinha".
Permite que te dê alguns exemplos (e com eles não quero dizer que tudo o que é nacional é mau e tudo o que se faz para lá de Vilar Formoso é bom):
Considera as escandalosas derrapagens financeiras e as enormes ultrapassagens dos prazos em obras públicas como a Casa da Música e o Metro do Porto, a Ponte Europa, em Coimbra, as Portas do Mar, em Ponta Delgada, o campo de jogos da Bela Vista, em Setúbal, a Lagoa das Águas Mansas, na Madeira, as obras de revitalização do rio Este, em Braga, as novas auto-estradas, etc. (quando fui ao Google pesquisar sobre casos de derrapagens financeiras nas nossas obras públicas fiquei siderado com a sua quantidade e com os montantes envolvidos!)
Encontrei, ainda, no site da TSF (http://tsf.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=717491) esta notícia, da qual que transcrevo o início:
"Tribunal de Contas justifica derrapagem com falta de planeamento: A derrapagem financeira do orçamento da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, dos previstos 182,3 para 300,9 milhões de euros, resultou de insuficiente planeamento e orçamentação do projecto, defendeu hoje o Tribunal de Contas."
O que é preocupante é que estas anomalias não são fruto do acaso, nem do azar, nem de condições inclementes da meteorologia, mas resultantes de um sistema que está estruturado para funcionar precisamente assim (com as contrapartidas financeiras das obras suplementares) e por manifesta falta de planeamento, ou de planeamento incorrecto.
Em contrapartida, a Ponte do Milénio, sobre o Mar do Norte, ligando a Dinamarca à Suécia, foi inaugurada em 2000, pasme-se, dentro do prazo previsto, num investimento que ficou aquém do previsto e sem vítimas mortais na sua construção!
Concordo com a tua professora inglesa, quando ela diz que "nada corre exactamente como planificado." Quase sempre certo. A Lei de Murphy é implacável. Mas importa indagar porque isso acontece. Uma causa possível será um conjunto de variáveis que não são mensuráveis nem previsíveis e, como tal, estão fora do nosso controlo, e que acabam por ser prejudiciais na boa implementação do plano traçado. Outra causa que podemos considerar será um deficiente e imperfeito projecto. É aqui que, segundo a tua exposição, se torna necessária a nossa lendária capacidade de "desenrasque".
Ora, no nosso soalheiro rincão à beira-mar plantado, o que verifico é que quase sempre é a segunda causa que impera, o que nos leva a suprir os 10% correctamente planeados com 90% de "desenrascanço".
Não seria preferível o contrário? 90% correctamente projectado e 10% de improviso perante o fortuito e o imponderável?
Convictamente, penso que sim. O depauperado erário público e a nossa honestidade colectiva enquanto Estado e Povo agradeceriam.
O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias
Afigura-se-me difícil estabelecer a delimitação entre até onde deve ir o esforço do sistema de ensino, e dos professores em particular, em motivar, aliciar e tornar mais apelativa a aprendizagem para os alunos e a necessidade de fazer com que estes cumpram a sua parte no processo, ou seja, esforçarem-se por trabalhar, estudar e aprender. Não consigo, nem quero, dizer isto com metáforas ou subterfúgios.
Estaremos no bom caminho ao tentar usar a tecnologia quase exclusivamente para "agradar" aos alunos e tornar-lhes a aquisição de competências mais "simpática" e menos esforçada e trabalhosa?
Sem dúvida que a tecnologia poderá desempenhar este papel e considero, mesmo, que assim deve ser. Mas fica-me a sensação que se está a exagerar. Em última instância, o ideal supremo da utilização da tecnologia na aprendizagem seria permitir o download de conteúdos e competências directamente do suporte digital para o cérebro dos aprendentes. Isso seria, finalmente, a realização do sonho do boémio estudante de Coimbra, quando, com inveja, diz ao Rio Mondego: ditoso és tu, que segues o teu curso sem nunca saíres do leito.
É, de facto, preciso chegar aos alunos de uma forma que lhes seja agradável, que lhes desperte a atenção e, se possível, que os empolgue e estimule, mas não me parece correcto baixar o nível de exigência nem ceder a tentações de facilitismo. É imperioso que os alunos se esforcem e estudem. Já se deram demasiados passos no sentido de fazer passar a mensagem de que é possível obter resultados sem trabalho árduo. E quando digo "obter resultados" não me refiro a certificações enganosas e enganadoras.
Parece-me necessário mais bom senso e uma atitude mais reflectida e ponderada nesta matéria.
Outro dos problemas que afecta actualmente a educação prende-se com o aparecimento, digamos nos 15 anos mais recentes, deste último conjunto de novas tecnologias, que ainda não foi suficientemente integrado e digerido por todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem. O uso de qualquer tecnologia neste campo deveria ser neutra e natural por parte dos seus utilizadores, de forma a que nem se desse por ela e as atenções se pudessem centrar nos conteúdos que estivessem a ser abordados. Fala-se da tecnologia do presente (e até mesmo já com algum passado) como se fossem as tecnologias do futuro. Isto demonstra bem o quanto a sua utilização ainda está longe de ser pacífica e consensual. E que esforço imenso será necessário para que isso aconteça.
Porém, admitindo que isso tivesse sido alcançado, quantas tecnologias ainda mais recentes não teriam surgido já, tornando os recém-habilitados nessas tecnologias nos mais recentes tecno-excluídos?
O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias tornou-se cada vez mais curto e ainda não sabemos tirar partido disso, com enormes prejuízos ao nível da instabilidade gerada em todo o sistema de ensino e na impossibilidade de rentabilizar os investimentos, a formação e a implementação de novos sistemas e equipamentos, dada o seu reduzido período de vida útil.
É para este problema que é necessário encontrar, não direi soluções finais e definitivas, mas formas de, mesmo neste mar alteroso de sucessivas e muito rápidas alterações tecnológicas, ser possível ministrar um ensino eficaz e com qualidade.
Actividade 6: Debate sobre o Futuro da Aprendizagem
Aqui deixo a minha reflexão em relação às últimas questões que nos foram colocadas.
Quais serão, afinal, as tecnologias mais interessantes para o desenvolvimento das potencialidades da aprendizagem?
Se tivesse que apostar 100 € nas tecnologias que gostaria de ver concretizadas de um futuro relativamente próximo, apostaria 80 € em conteúdos e software e 20 € em tudo o resto (nomeadamente hardware e equipamentos).
O que existe actualmente faz-me lembrar de uma criança que recebeu no Natal uma PSP caríssima, apenas com um jogo (relativamente mais barato) do qual se irá fartar, por repetidamente o jogar ao longo dos 5 anos seguintes.
Penso que nos deixámos enredar demasiadamente nas estratégias do marketing extremamente agressivo e suges-tivo, que nos gera constantemente necessidades que nem sempre temos. Isso levou-nos a sentir que precisamos de ter sempre o último gadget, a última versão seja do que for, ou o state of the art em qualquer domínio.
Mas será que temos mesmo? Será que isso é consentâneo com a realidade económica e financeira do nosso país e do nosso sistema de ensino?
Parece-me que a atitude sensata a tomar, neste aspecto, será tentar fazer a melhor omeleta possível com os ovos de que dispomos, ao invés de exigir continuamente mais ovos, uma melhor frigideira ou um fogão mais recente.
E isso passa por aproveitar melhor o parque informático existente actualmente, tirando melhor e mais eficaz partido dos meios de que dispomos.
Um caminho possível será o de fomentar a criação de mais e melhores conteúdos, à medida da nossa realidade cultural e da nossa identidade, e de acordo com as nossas necessidades específicas e envolver universidades, escolas e centros de formação, bem como os seus professores, formadores e alunos.
Como se deve desenvolver a preparação dos estudantes e professores para a boa e eficaz utilização da tecnologia?
Na preparação e formação dos professores, parece-me necessário que haja um maior esforço e investimento financeiro e de tempo por parte destes. Não recuso a ideia de que poderá haver um conjunto de acções de forma-ção promovidas (ou pelo menos financiadas) pelo Ministério da Educação, mas cabe a qualquer trabalhador diligenciar no sentido de se actualizar e investir na sua formação.
O que diríamos, enquanto clientes, de um ortopedista ou de um cardiologista que, por desconhecer as técnicas e os métodos mais recentes e mais eficazes, não conduziu correctamente a nossa avaliação, diagnóstico e terapia?
Provavelmente, chamar-lhe-íamos incompetente.
O mesmo acontece connosco, professores e formadores. Teremos que ser nós a conduzir o nosso processo de constante formação ao longo do nosso percurso profissional e não estar à espera que um qualquer D. Sebastião saia do nevoeiro para nos suprir essa necessidade.
É certo que isso irá ser oneroso e consumirá tempo que talvez preferíssemos dedicar à família, ao lazer, ou simplesmente ao descanso, mas é o preço a pagar para nos mantermos actualizados e à altura do que de nós é exigido.
Qual o papel do planeamento estratégico na disseminação institucional da utilização da tecnologia em educação?
Habitualmente, ouvimos dizer que a maior capacidade dos portugueses, enquanto povo, é a sua enorme capacidade de "desenrasque" (expressão tão portuguesa!). Ora, essa não é a nossa maior virtude, é o nosso pior defeito.
Somos incapazes de estudar, prever, simular, testar, projectar, planear. E, depois, temos que trabalhar em cima do joelho, navegar à vista sem rumo correctamente traçado, em suma, "desenrascar".
Não pretendo ser um profeta da desgraça, mas sinto que "planeamento estratégico" é algo a que somos avessos. Nem nos soa bem. Cheira a esforço, trabalho, aborrecimento. E o sol está tão bonito e a praia aqui tão perto...
Isto tem o seu quê de cultural. Os nórdicos aprenderam ao longo dos milénios que, se na altura da chegada do Inverno, não tiverem mantimentos e combustível armazenados em quantidade suficiente, se os seus sistemas de comunicações e entreajuda não estiverem estabelecidos convenientemente e se o apoio médico e social não estiver devidamente planeado e estruturado, dificilmente sobreviverão até à Primavera seguinte.
Em contrapartida, nas regiões meridionais os povos adoptaram uma estratégia muito mais despreocupada em relação ao assegurar da sua existência, pois bastará um pontapé no coqueiro para cair a refeição seguinte. E mesmo dormindo na praia, não se morre de frio...
Mas esta postura não poderá ser implementada na preparação dos nosso jovens para a vida, em geral, e para o mercado de trabalho, em particular. Dá asneira.
Afinal, talvez aquela coisa, o "planeamento estratégico", dê jeito. Mas o que é isso e como se faz?
Bom, vamos formar algumas comissões para indagar e averiguar esse conceito. Uma no Ministério de Educação e talvez uma na Assembleia da República.
Também será necessário contratar alguns assessores, consultores e conselheiros.
E será indispensável dotar essas comissões de avultados meios, equipamentos, viaturas e administrativos, sem os quais não será possível trabalhar com dignidade.
Obviamente que umas visitas ao estrangeiro em classe executiva e com hospedagem nos melhores hotéis serão imprescindíveis para conhecer o que se faz noutros países.
Até que um belo dia um chato de um jornalista publica algo sem sentido, um ataque pessoal aos membros da comissão, levantando calúnias e referindo-se a aspectos irrelevantes como a ausência de apresentação de relatórios e resultados práticos, absurdos como incumprimento de prazos, atoardas como custos incomportáveis, etc.
O melhor será criar uma comissão de inquérito para provar que esta é uma cabala e que o referido jornal actuou de forma parcial, com o objectivo de denegrir a imagem dos envolvidos, movido por inconfessados objectivos partidários, que em nada dignificam o país nem o sistema democrático...
Olá, Helena
Aquilo que pretendi no meu post foi caricaturar a forma como a alma lusa se comporta em relação ao planeamento estratégico. Como qualquer caricatura, prima pelo exagero. No entanto, e apesar disso, creio não ter andado muito longe daquilo que se passa no nosso país no que diz respeito à forma como as coisas acontecem quando é necessário planear estrategicamente.
Não há semana em que não passe nos jornais ou nos noticiários televisivos um chorrilho de onerosas incompetências e flagrantes desonestidades na concepção e implementação de projectos faraónicos absolutamente desaconselháveis, ou mesmo inexequíveis, nos mais diversos domínios. Isto choca-me e desagrada-me profundamente.
Um país que pouco produz não se pode dar ao luxo de desbaratar os seus exíguos recursos devido a governantes e gestores incapazes, gananciosos e sem escrúpulos.
Vamos pôr de lado, neste debate, a corrupção e a desonestidade (isso será matéria para outras instâncias) e concentrarmo-nos na questão que comentaste no teu post: o planeamento versus improvisação (o termo "desenrasque" não é muito elegante, mas é seguramente mais divertido).
Referes na tua intervenção "Quanto ao dessenrascanço, é possivelmente a nossa melhor arma para lidar com a inconstância, com os imprevistos e com a velocidade vertiginosa com que a tecnologia avança e nos leva por arrasto. E nisso acho que conseguimos ser bastante bons. (...) A atitude perante a constante mudança mais saudável é mesmo essa - improvisar e desenrrascar à medida que as situações para resolver surgem. Isso não é mau, pelo contrário é até bastante bom."
Perdoa-me discordar de ti. Creio que, quanto maior forem a inconstância, os imprevistos e a velocidade dos avanços da tecnologia, mais premente se torna analisar, estudar, planear, projectar e menos margem fica para a improvisação e para o nacional porreirismo do "desculpem lá qualquer coisinha".
Permite que te dê alguns exemplos (e com eles não quero dizer que tudo o que é nacional é mau e tudo o que se faz para lá de Vilar Formoso é bom):
Considera as escandalosas derrapagens financeiras e as enormes ultrapassagens dos prazos em obras públicas como a Casa da Música e o Metro do Porto, a Ponte Europa, em Coimbra, as Portas do Mar, em Ponta Delgada, o campo de jogos da Bela Vista, em Setúbal, a Lagoa das Águas Mansas, na Madeira, as obras de revitalização do rio Este, em Braga, as novas auto-estradas, etc. (quando fui ao Google pesquisar sobre casos de derrapagens financeiras nas nossas obras públicas fiquei siderado com a sua quantidade e com os montantes envolvidos!)
Encontrei, ainda, no site da TSF (http://tsf.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=717491) esta notícia, da qual que transcrevo o início:
"Tribunal de Contas justifica derrapagem com falta de planeamento: A derrapagem financeira do orçamento da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, dos previstos 182,3 para 300,9 milhões de euros, resultou de insuficiente planeamento e orçamentação do projecto, defendeu hoje o Tribunal de Contas."
O que é preocupante é que estas anomalias não são fruto do acaso, nem do azar, nem de condições inclementes da meteorologia, mas resultantes de um sistema que está estruturado para funcionar precisamente assim (com as contrapartidas financeiras das obras suplementares) e por manifesta falta de planeamento, ou de planeamento incorrecto.
Em contrapartida, a Ponte do Milénio, sobre o Mar do Norte, ligando a Dinamarca à Suécia, foi inaugurada em 2000, pasme-se, dentro do prazo previsto, num investimento que ficou aquém do previsto e sem vítimas mortais na sua construção!
Concordo com a tua professora inglesa, quando ela diz que "nada corre exactamente como planificado." Quase sempre certo. A Lei de Murphy é implacável. Mas importa indagar porque isso acontece. Uma causa possível será um conjunto de variáveis que não são mensuráveis nem previsíveis e, como tal, estão fora do nosso controlo, e que acabam por ser prejudiciais na boa implementação do plano traçado. Outra causa que podemos considerar será um deficiente e imperfeito projecto. É aqui que, segundo a tua exposição, se torna necessária a nossa lendária capacidade de "desenrasque".
Ora, no nosso soalheiro rincão à beira-mar plantado, o que verifico é que quase sempre é a segunda causa que impera, o que nos leva a suprir os 10% correctamente planeados com 90% de "desenrascanço".
Não seria preferível o contrário? 90% correctamente projectado e 10% de improviso perante o fortuito e o imponderável?
Convictamente, penso que sim. O depauperado erário público e a nossa honestidade colectiva enquanto Estado e Povo agradeceriam.
O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias
Afigura-se-me difícil estabelecer a delimitação entre até onde deve ir o esforço do sistema de ensino, e dos professores em particular, em motivar, aliciar e tornar mais apelativa a aprendizagem para os alunos e a necessidade de fazer com que estes cumpram a sua parte no processo, ou seja, esforçarem-se por trabalhar, estudar e aprender. Não consigo, nem quero, dizer isto com metáforas ou subterfúgios.
Estaremos no bom caminho ao tentar usar a tecnologia quase exclusivamente para "agradar" aos alunos e tornar-lhes a aquisição de competências mais "simpática" e menos esforçada e trabalhosa?
Sem dúvida que a tecnologia poderá desempenhar este papel e considero, mesmo, que assim deve ser. Mas fica-me a sensação que se está a exagerar. Em última instância, o ideal supremo da utilização da tecnologia na aprendizagem seria permitir o download de conteúdos e competências directamente do suporte digital para o cérebro dos aprendentes. Isso seria, finalmente, a realização do sonho do boémio estudante de Coimbra, quando, com inveja, diz ao Rio Mondego: ditoso és tu, que segues o teu curso sem nunca saíres do leito.
É, de facto, preciso chegar aos alunos de uma forma que lhes seja agradável, que lhes desperte a atenção e, se possível, que os empolgue e estimule, mas não me parece correcto baixar o nível de exigência nem ceder a tentações de facilitismo. É imperioso que os alunos se esforcem e estudem. Já se deram demasiados passos no sentido de fazer passar a mensagem de que é possível obter resultados sem trabalho árduo. E quando digo "obter resultados" não me refiro a certificações enganosas e enganadoras.
Parece-me necessário mais bom senso e uma atitude mais reflectida e ponderada nesta matéria.
Outro dos problemas que afecta actualmente a educação prende-se com o aparecimento, digamos nos 15 anos mais recentes, deste último conjunto de novas tecnologias, que ainda não foi suficientemente integrado e digerido por todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem. O uso de qualquer tecnologia neste campo deveria ser neutra e natural por parte dos seus utilizadores, de forma a que nem se desse por ela e as atenções se pudessem centrar nos conteúdos que estivessem a ser abordados. Fala-se da tecnologia do presente (e até mesmo já com algum passado) como se fossem as tecnologias do futuro. Isto demonstra bem o quanto a sua utilização ainda está longe de ser pacífica e consensual. E que esforço imenso será necessário para que isso aconteça.
Porém, admitindo que isso tivesse sido alcançado, quantas tecnologias ainda mais recentes não teriam surgido já, tornando os recém-habilitados nessas tecnologias nos mais recentes tecno-excluídos?
O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias tornou-se cada vez mais curto e ainda não sabemos tirar partido disso, com enormes prejuízos ao nível da instabilidade gerada em todo o sistema de ensino e na impossibilidade de rentabilizar os investimentos, a formação e a implementação de novos sistemas e equipamentos, dada o seu reduzido período de vida útil.
É para este problema que é necessário encontrar, não direi soluções finais e definitivas, mas formas de, mesmo neste mar alteroso de sucessivas e muito rápidas alterações tecnológicas, ser possível ministrar um ensino eficaz e com qualidade.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE
Temática: A REDE COMO INTERFACE EDUCATIVO (II)
O Futuro da Aprendizagem
Inequívoca e irreversivelmente, a sociedade em rede está a alterar a educação e, necessariamente, o futuro da aprendizagem não poderá ser dissociado da transformação que a sociedade está a sofrer.
Perante estes factos, qual será, então, o futuro da aprendizagem?
Para responder a esta questão que nos foi colocada pelo Prof. António Teixeira, qual é o grau de "liberdade especulativa" que temos? Vou tomar como referência a introdução feita pelo professor na abertura do debate: "Pouco importa que acertemos no que irá ser. O mais provável é falhar as previsões. O que importa é testar os limites das nossas possibilidades, verificar o que desejamos, discutir o que podemos desejar."
Assim, sejamos ambiciosos. Ousemos sonhar.
Que melhores objectivos poderíamos ter para estas transformações do que aquelas que contribuíssem para uma mais efectiva aquisição de competências e uma mais alargada apreensão de conhecimentos por parte dos estudantes, uma melhor preparação destes para a fase inicial da sua carreira profissional (dado que o restante percurso na vida activa terá que se apoiar na aprendizagem ao longo da vida) e uma melhor formação enquanto cidadãos e profissionais para o seu ingresso no mercado de trabalho?
Os objectivos de carácter geral que enunciei poderiam ser desenvolvidos em objectivos mais específicos, tais como a utilização da tecnologia como um factor motivador adicional para os alunos (diria mesmo, que a utilização da tecnologia tornasse irresistível para estes a frequência das aulas, a execução de trabalhos e actividades e o estudo individual), o aumento da produtividade e do rendimento nas tarefas escolares, o alargamento efectivo e fecundo das fontes e dos recursos de aprendizagem, ou a possibilidade de utilização da Rede como um palco ou uma tribuna com audiência em todo o mundo.
Serão estes objectivos demasiado ambiciosos? Creio que poderão ser, de facto, mas "o sonho comanda a vida".
"Há vinte anos atrás, o futuro da aprendizagem era uma longínqua suspeita daquilo em que se transformou.
E de hoje a vinte anos? Porque, onde e como iremos aprender?"
Qual poderia ser o contributo mais importante da tecnologia com vista a melhorar o modo como aprendemos hoje?
Muito tempo passou desde o quadro de ardósia e o giz ou da caneta de aparo e a tinta permanente até ao Magalhães e aos quadros interactivos.
Desenvolveram-se iniciativas de ensino a distância como a Tele-Escola ou as emissões televisivas do Ano Propedêutico. Trilharam-se, no nosso país, os caminhos desbravados pela inglesa Open University.
Passámos por reformas educativas e por profundas remodelações da organização do ensino e dos programas escolares. Experimentámos, inovámos, conservámos, avançámos e regredimos.
E agora? Que passos irão ser dados? E em que direcção?
Alguns caminhos que poderão ser seguidos terão a ver com a concretização da Web 3.0 e com o desenvolvimento da televisão interactiva.
A Web 3.0, ou Web semântica, "pretende ser a organização e o uso de maneira mais inteligente de todo o conhecimento já disponível na Internet" (Wikipédia).
Esta "revolução" da Web, a concretizar-se, permitiria um acesso muito mais racional e eficaz ao vastíssimo manancial de informação actualmente existente na Web, mas que a sua actual desorganização e a ausência de mecanismos que a permitam explorar de forma mais eficiente e produtiva não permitem aproveitar na sua plenitude.
Outra ferramenta que poderá extremamente útil no ensino a distância será a televisão interactiva. Com efeito, este recurso já está a ser objecto de investigação por parte da Universidade Aberta, esperando-se que a sua implementação e desenvolvimento disponibilizem uma nova e preciosa ferramenta, a juntar às já existentes no arsenal tecnológico actual.
Um aumento de velocidade de transmissão na Internet também será bem-vinda, de forma a que a passagem dos programas e aplicações tradicionais para plataformas e portais seja mais fácil e obtenha maior adesão, ultrapassando alguns constrangimentos actuais.
O vídeo "The Future of Learning" (edited for the Department of Children, Schools and Families for the Schools' Minister (Jim Knights) to use in his speech at the huge annual BETT Show in London's Olympia) produzido pelo Prof. Stephen J. Heppell (consultor para a área da educação), dá-nos uma esclarecida visão do quanto a tecnologia poderá ser útil no ensino. Porém, a mensagem que considero mais forte neste pequeno filme é que, independentemente dos meios e recursos de que dispomos no ensino e na aprendizagem, será sempre através de duro e persistente trabalho que conseguiremos alcançar os nossos objectivos e obter o sucesso que desejamos.
O Futuro da Aprendizagem
Inequívoca e irreversivelmente, a sociedade em rede está a alterar a educação e, necessariamente, o futuro da aprendizagem não poderá ser dissociado da transformação que a sociedade está a sofrer.
Perante estes factos, qual será, então, o futuro da aprendizagem?
Para responder a esta questão que nos foi colocada pelo Prof. António Teixeira, qual é o grau de "liberdade especulativa" que temos? Vou tomar como referência a introdução feita pelo professor na abertura do debate: "Pouco importa que acertemos no que irá ser. O mais provável é falhar as previsões. O que importa é testar os limites das nossas possibilidades, verificar o que desejamos, discutir o que podemos desejar."
Assim, sejamos ambiciosos. Ousemos sonhar.
Que melhores objectivos poderíamos ter para estas transformações do que aquelas que contribuíssem para uma mais efectiva aquisição de competências e uma mais alargada apreensão de conhecimentos por parte dos estudantes, uma melhor preparação destes para a fase inicial da sua carreira profissional (dado que o restante percurso na vida activa terá que se apoiar na aprendizagem ao longo da vida) e uma melhor formação enquanto cidadãos e profissionais para o seu ingresso no mercado de trabalho?
Os objectivos de carácter geral que enunciei poderiam ser desenvolvidos em objectivos mais específicos, tais como a utilização da tecnologia como um factor motivador adicional para os alunos (diria mesmo, que a utilização da tecnologia tornasse irresistível para estes a frequência das aulas, a execução de trabalhos e actividades e o estudo individual), o aumento da produtividade e do rendimento nas tarefas escolares, o alargamento efectivo e fecundo das fontes e dos recursos de aprendizagem, ou a possibilidade de utilização da Rede como um palco ou uma tribuna com audiência em todo o mundo.
Serão estes objectivos demasiado ambiciosos? Creio que poderão ser, de facto, mas "o sonho comanda a vida".
"Há vinte anos atrás, o futuro da aprendizagem era uma longínqua suspeita daquilo em que se transformou.
E de hoje a vinte anos? Porque, onde e como iremos aprender?"
Qual poderia ser o contributo mais importante da tecnologia com vista a melhorar o modo como aprendemos hoje?
Muito tempo passou desde o quadro de ardósia e o giz ou da caneta de aparo e a tinta permanente até ao Magalhães e aos quadros interactivos.
Desenvolveram-se iniciativas de ensino a distância como a Tele-Escola ou as emissões televisivas do Ano Propedêutico. Trilharam-se, no nosso país, os caminhos desbravados pela inglesa Open University.
Passámos por reformas educativas e por profundas remodelações da organização do ensino e dos programas escolares. Experimentámos, inovámos, conservámos, avançámos e regredimos.
E agora? Que passos irão ser dados? E em que direcção?
Alguns caminhos que poderão ser seguidos terão a ver com a concretização da Web 3.0 e com o desenvolvimento da televisão interactiva.
A Web 3.0, ou Web semântica, "pretende ser a organização e o uso de maneira mais inteligente de todo o conhecimento já disponível na Internet" (Wikipédia).
Esta "revolução" da Web, a concretizar-se, permitiria um acesso muito mais racional e eficaz ao vastíssimo manancial de informação actualmente existente na Web, mas que a sua actual desorganização e a ausência de mecanismos que a permitam explorar de forma mais eficiente e produtiva não permitem aproveitar na sua plenitude.
Outra ferramenta que poderá extremamente útil no ensino a distância será a televisão interactiva. Com efeito, este recurso já está a ser objecto de investigação por parte da Universidade Aberta, esperando-se que a sua implementação e desenvolvimento disponibilizem uma nova e preciosa ferramenta, a juntar às já existentes no arsenal tecnológico actual.
Um aumento de velocidade de transmissão na Internet também será bem-vinda, de forma a que a passagem dos programas e aplicações tradicionais para plataformas e portais seja mais fácil e obtenha maior adesão, ultrapassando alguns constrangimentos actuais.
O vídeo "The Future of Learning" (edited for the Department of Children, Schools and Families for the Schools' Minister (Jim Knights) to use in his speech at the huge annual BETT Show in London's Olympia) produzido pelo Prof. Stephen J. Heppell (consultor para a área da educação), dá-nos uma esclarecida visão do quanto a tecnologia poderá ser útil no ensino. Porém, a mensagem que considero mais forte neste pequeno filme é que, independentemente dos meios e recursos de que dispomos no ensino e na aprendizagem, será sempre através de duro e persistente trabalho que conseguiremos alcançar os nossos objectivos e obter o sucesso que desejamos.
terça-feira, 11 de maio de 2010
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE - Síntese da Actividade 4
Temática: A VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Actividade 4: Debate sobre a Autenticidade e Transparência na Rede
Após o debate efectuado sobre a Autenticidade e Transparência na Rede, cumpre agora fazer a sua síntese.
Para esse efeito, usarei as questões que foram lançadas pelo Prof. António Teixeira para resumir o essencial da discussão levada a cabo ao longo destes dias.
- Em que medida a nossa identidade digital é um prolongamento da nossa identidade pública ou um campo alternativo de expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima?
Em relação a esta primeira pergunta, comecei por afirmar o seguinte:
"Ao reflectir sobre o que ocorre na Comunicação Mediada por Computador (CMC), gostaria de não me afastar muito do que acontece na comunicação face-a-face (FTF), dado que os actores de ambas as formas de comunicação são os mesmos indivíduos.
É certo que as condições em que se estabelece essa comunicação são muito diferentes, nomeadamente a inexistência de contacto visual e a ausência de informação sobre o interlocutor.
Assim, cada um poderá optar por diversas atitudes: revelar (ou não) a sua verdadeira identidade e assumir (ou não) as suas habituais atitudes, opiniões e formas de pensar e agir. Ou seja, cada um poderá assumir o seu eu ou, pelo contrário, adoptar um eu diferente, ao sabor da sua imaginação ou dos seus objectivos.
Perante isto, levantam-se mais barreiras na descodificação, conhecimento e compreensão do nosso parceiro de comunicação, o que para alguns poderá ser desconfortável, mas poderá constituir um aliciante para outros.
Com efeito, grande parte da CMC dá-se intencionalmente em circunstâncias ou condições ambíguas ou dúbias.
Acresce o facto de os utilizadores da rede mundial não estar inequivocamente dividida entre estes dois grupos. Grande parte dos cibernautas assume alternadamente protagonismo em ambos os campos, um pouco à imagem de Dr. Heckel and Mr. Jive.
(...) a Net veio ampliar extraordinariamente estes cenários e exacerbar profundamente estes comportamentos.
Consequente mente, os receios e os riscos são agora maiores, não obstante os seus benefícios e as suas vantagens também serem.
Como nos comportamos nós, utilizadores da Internet, quer enquanto emissores, quer enquanto receptores? Ou seja, como agimos nós quer enquanto protagonistas, quer enquanto analistas de comportamentos?
Creio que a resposta reside na exacerbação. Quem, na comunicação FTF, assume habitualmente uma postura cautelosa e prudente, tenderá a desenvolver na CMC uma postura ainda mais precavida e previdente. Quem, pelo contrário, assume na comunicação FTF uma atitude mais aberta e liberal, tendencialmente desenvolverá na CMC uma atitude igualmente mais desinibida e temerária."
Helena:
"A identidade virtual é ela própria uma construção e consequentemente pode ser um prolongamento da identidade pública. Mas, também pode ser uma construção mais fantasiosa com todo o tipo de objectivos em vistas - forma de expressar desejos ou fantasias, de ultrapassar barreiras na comunicação, de se integrar num determinado ambiente, entre outras. Na verdade ninguém precisa de se apresentar com honestidade online. Os utilizadores do ciberespaço têm a liberdade para construir a sua identidade virtual como entenderem ou conseguirem imaginar. Todas as opções são possíveis no ciberespaço.
(...) os comportamentos típicos mostram uma tendência que as pessoas têm de revelar as melhores qualidades e tentar esconder os aspectos mais vulneráveis. O anonimato leva a uma maior desinibição e à apresentação do “verdadeiro eu” e não à “fabricação” e ao engano. Os resultados dos estudos levam o autor a concluir que embora as CMCs possibilitem oportunidades para a construção de identidades alternativas (identity play), as pessoas consideram difícil apresentar um “eu” que não seja o seu verdadeiro (real me).
Parece-me que a apresentação do eu pode ser mais ou menos fantasiosa, mas mesmo em rede há mecanismos que regulamentam o comportamento do cibernauta - a famosa netiqueta - como exemplifica Pierre Lévy. Há formas do grupo pôr os elementos na ordem, de incluir ou de excluir e também de perceber se as pessoas estão ou não a mentir ou a fantasiar na sua apresentação pois em algum momento a pessoa é inconsistente e a verdade acaba por surgir. O exemplo dado nas páginas 95 a 99 é ilustrativo das relações na net. Pelo facto de não haver uma presença física visível, pode-se construir entidades fantasiosas e usá-las de vários modos.
Aprender a dizer o que é correcto é uma competência social que me parece tão valida para a vida real como para a vida online. É uma questão de relacionamento humano.
Em muitas situações de nossa vida também não sabemos determinar se as pessoas com quem convivemos são realmente como dizem ser. Estas questões da verdade da identidade são muito complexas também na vida real onde estamos a olhar uns para os outros. (às vezes, muitas sem ver nada!)
Queria também lançar outra questão, será que a identidade digital tem que corresponder à identidade real para que as pessoas se entendam e trabalhem colaborativamente? A apresentação é apenas uma parte do que damos a conhecer de nós próprios, muito mais damos a conhecer através do nosso comportamento online (a forma como interagimos com os outros) - do que fazemos (os produtos que produzimos)."
Margarida:
"A forma como as pessoas se comportam na internet é curiosa. O estudo que a Helena fala diz que há uma maior desinibição e isso leva à apresentação do verdadeiro eu. (...) as pessoas sentiam-se mais à vontade para dizerem o que queriam e isso nem sempre era bom. Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros, às vezes não fazem essa censura e o resultado pode ser mau. (...) A internet fez com que o verdadeiro eu dele aparecesse. Neste caso não foi uma falsa identidade mas uma extensão da sua identidade mais oculta que apareceu e fez estragos nas relações cara a cara. Este exemplo e as referências que apresentei fazem pensar que o problema da identidade digital não é só o fingimento mas também o excesso de sinceridade e transparência."
Denyze:
"(...) o indivíduo pode se mostrar como gostaria de ser, me parece que a Rede possibilita que situações mal resolvidas de um indivíduo (como por exemplo aparência física, ou características psicológicas) possam ser escondidas por detrás da tela. Uma pessoa tímida consegue facilmente se comunicar “protegida” pela sensação de segurança de estar atrás do computador.
O ser humano idealiza um modelo pessoal e a Internet permite que ele viva conforme idealizou e fale tudo que tem vontade. E tenho que concordar neste ponto com a colega Margarida que isso nem sempre é bom. E finalizo aqui, repetindo algumas de suas palavras: Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros essa regra não vale."
Joaquim:
"Em relação à nossa identidade digital acho que ela é uma expressão da nossa identidade. A internet permite-nos mostrar de uma forma fácil as várias facetas da nossa personalidade ou, seja, de certa forma, como diz Suler, "desconstruirmo-nos" online: um pacato trabalhador de um qualquer escritório pode-se transformar num terrível e sanguinário caçador de orcs num MUD, num especialista em batalhas da II Guerra Mundial num fórum de discussão ou num locutor de rádio num podcast. Estas múltiplas facetas deste pacato funcionário existiriam mesmo sem a internet, mas a rede veio permitir foi que ele se exprima de uma forma que seria impossível (ou, nalguns casos, mal vista - por exemplo, os jogadores de Dungeons and Dragons antes da Internet eram considerados como um grupo "estranho" e quase secreto) há 30 anos atrás."
- O perigo da fraude intelectual (ex.: plágio) aumentou com o advento da internet?
Quanto à prática de plágio, respondi da seguinte forma:
"Sem dúvida que sim.
Cada vez mais assistimos a um número preocupantemente crescente de utilização de material escrito ou multimédia produzido por terceiros, sem a indispensável citação ou referência, muitas vezes com a intenção de atalhar caminho e poupar esforços, seja em contexto académico, jornalístico ou na produção de conhecimento.
A tentação de evitar horas, quando não semanas ou meses, de árduo, e por vezes penoso, trabalho de estudo e reflexão é enorme. Mesmo a tarefa de redigir o texto copiado é evitável, recorrendo ao "copy/paste".
E esta tendência manifesta-se desde o mais elementar trabalho do ensino básico ou preparatório, até ao nível de Teses de Mestrado ou de Doutoramento, como por diversas vezes já foi detectado.
Em todos os casos de indevida ou incorrecta utilização da Internet, a responsabilidade está, a meu ver, muito mais na natureza humana do que na tecnologia em si.
Os parágrafos que citei acima, recolhidos do artigo citado, encerram a postura que a comunidade académica deve assumir em relação à fraude intelectual, estigmatizando e ostracizando aqueles que recorrerem a esta prática.
É, porém, necessário que os professores, desde a escolaridade mais precoce, alertem os seus alunos para a 'armadilha' que esta prática constitui, tentando, assim, evitar que este hábito se instale, e pior, que passe impune."
Joaquim:
"Sempre houve plágio mas penso que a ideia geralmente aceite é que ele tem vindo a aumentar, o que explicaria o aparecimento de software para a detecção de plágios (...)
Se a ideia de se utilizar o trabalho de outra pessoa (no todo ou em parte) sem o referir não é nova, o que mudou foi o fácil acesso ao gigantesco manancial de informação que é a Internet. Recentemente soube do caso de um trabalho universitário que era uma tradução integral de um artigo de uma revista australiana, algo que teria sido praticamente impensável antes da existência da Internet (qual teria sido a probabilidade de um estudante português nos tempos pré-internet saber sequer da existência de uma revista publicada na Austrália? Não impossível, mas certamente muitíssimo remota).
Mas a existência desta informação disponível não pode ser a única causa para os plágios com recurso à Internet.
A percepção que eu tenho é de que há efectivamente um aumento dos casos de plágio.
O caso dos sites que vendem trabalhos é realmente um negócio que corre de vento em poupa na net (li algures que, só nos Estados Unidos, existem mais de 200 destes sites). Lembro-me de uma vez ter consultado um e realmente havia quase de tudo para quase todos os gostos e à la carte. Tecnicamente não será um plágio porque os autores foram pagos pelo seu trabalho mas é certamente desonesto.
Concordo com a Margarida em relação ao papel importante dos professores neste assunto (mas temos de concordar que é uma guerra difícil)."
Margarida:
"Eu também tenho a noção que há mais plágio com a Internet, apesar de sempre ter existido.
(...) o plágio não é levado a sério. As pessoas copiam e deixam-se copiar como se isso fosse normal. Fazem isso na escola e estão tão habituados que continuam pela vida fora, na vida profissional. Mas o plágio é um crime.
As pessoas acham que tirar alguma coisa da internet não é grave porque a internet é pública. Mas o facto de uma informação ou um estudo se tornar público na internet não significa que não tenha direitos de autor.
A culpa do plágio não é da internet, mas das pessoas sem ética que a utilizam. Mas se não houvesse uma internet tão generalizada, o plágio não era tão fácil. Como evitar que ele aconteça é que é difícil. Pode-se tentar fazer com que as pessoas sejam mais conscientes, mas não sei se todos querem sê-lo.
Os professores têm um papel importante em tentar desenvolver o espírito cívico dos futuros cidadãos. Para além de explicar porque é que o plágio está errado, é importante mostrar que ele não é valorizado. A atitude da Helena está certa. Devolver um trabalho plagiado com a nota de 0 valores mostra ao aluno que é um crime sem recompensa. É possível que assim ele aprenda que não deve repetir essa cópia ilegal. E se o professor valorizar bastante os trabalhos em que se os alunos dão a sua opinião pessoal, em que mostram que são criativos na maneira como usam a informação, pode ser que eles se sintam menos motivados a fazer plágio."
Denyze:
"Concordo com os colegas quando afirmam que o plágio sempre existiu, o que mudou é que com a internet o acesso e a velocidade com que tudo pode ser encontrado é o que fez com que a fraude intelectual aumentasse.
A tecnologia não tem responsabilidade pela expansão destes casos, esses padrões de comportamento têm relação com aspectos éticos e morais. Não só o plágio, como a pirataria existem porque encontram na sociedade uma parcela de pessoas predispostas e que não vêem problema no uso livre de que está na internet.
A pesquisa apresentada pela Margarida reforça que plágio, mesmo sendo crime, não é levado a sério, é um fato usual na vida das pessoas.
Não seria este padrão social que vem sendo imposto com mais força pelo uso das tecnologias uma amostra de que precisamos evoluir com a Cibercultura, levantando bandeiras como a ética e a moral?"
Helena:
"Depois de ler os posts sobre a parte do plágio, dei por mim a pensar nos sites que vendem ensaios por encomenda e num caso em França em que o ministério da educação mandou encerrar um site que vendia trabalhos de casa! Portanto, como atitude moral é de todo criticável, é uma fraude. Como negócio parece que vai de vento em popa.
Isso deixa-me enquanto professora e também como aluna um tanto confusa, porque a verdade dos factos é inegável. Então como é que podemos gerir isso? E geri-lo numa sociedade onde a informação é cada vez mais acessível e fácil de usar e plagiar. Copiar um trabalho ou partes de texto daqui e dali tem sido a forma mais usual neste últimos tempos de se fazer "trabalho de pesquisa"!
Já nem sei quantos trabalhos devolvi com nota 0, devido a este facilitismo.
É uma questão preocupante, a facilidade com qualquer pessoa pode fazer passar por seu aquilo que pertence aos outros. Parece-me que esta noção de propriedade intelectual é ainda algo que precisa de ser interiorizado.
Será que na nossa sociedade actual podemos simplesmente chamar plágio ao corte e costura, à colagem e à citação ou estamos perante um modo de procedimento que se vai generalizando, porque a tecnologia assim o permite? Neste caso, podemos aceitar um trabalho feito desta forma como válido? Com que critérios?"
- É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
No que diz respeito a esta questão, comecei por escrever:
"A resposta dependerá, obviamente, do conceito de "controlar" que considerarmos.
Se entendermos "controlar" como uma forma de tecnicamente administrar e superintender a rede, nomeadamente, decidir quem pode ou não a ela ter acesso, ou de censurar o seu conteúdo, a resposta será: Não.
Porém, o controlo poderá ser feito de formas mais subtis, mas eficazes, como, por exemplo, utilizar a rede para propaganda, desinformação, ou mesmo intoxicação da opinião pública.
O que teriam feito Salazar e António Ferro, ou Hitler e Goebbles, se no seu tempo existisse a Internet?
Outros exemplos de controlo exercido através da Internet serão o recrutamento de jovens bombistas suicidas recorrendo aos websites utilizados para esse efeito, ou as comunidades virtuais onde se estimula o ódio fundamentalista e onde se ensina a produzir engenhos explosivos caseiros.
Há, de facto, diversas tentativas para controlar a rede. Mas a Humanidade já aprendeu a viver com isso. Desde sempre os povos tentaram contornar os caminhos cerceados para a informação e para cultura, mesmo correndo o risco de vida, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial, onde quem fosse surpreendido a ouvir a BBC na rádio era sumariamente fuzilado pela Gestapo, ou em Portugal, nos tempos em que possuir livros de autores "subversivos" era sinónimo de sérios problemas com a PIDE.
Felizmente que hoje é reduzido o número de pessoas a quem é barrado o acesso à Internet.
Hoje temos a liberdade como algo adquirido e isso faz-nos esquecer os povos que não a possuem.
Uma das vantagens da rede mundial é que tecnicamente é muito mais difícil sobre ela exercer a censura. O lápis azul aqui é muito menos eficiente."
Joaquim:
"O Fernando colocou uma questão interessante: qual o conceito de "controlar". Para podermos continuar proponho a seguinte definição: capacidade de impedir ou limitar o acesso à rede bem como definir os conteúdos permitidos através da censura.
Devido ao facto de a Internet, desde a sua origem, não ter centro (aliás, a ideia era que as comunicações pudessem continuar a funcionar em caso de um ataque nuclear) mas ser uma rede de redes em que cada nó é independente dá a ideia de que a internet não pode ser controlada. Esta ideia não é inteiramente verdadeira. Dois casos, extremos, podem ser citados: a China e a Coreia do Norte (mas também o Irão e outros países fundamentalistas) que limitam (não a 100% é certo, mas trata-se de um limite) o acesso dos seus cidadãos à rede. Mas não pensemos que estes casos só existem em países não democráticos. Basta lembrarmo-nos da proposta de lei francesa sobre o corte do acesso à Internet para quem seja apanhado a fazer downloads ilegais ou a proposta de Lei S.773 do Senado americano que atribuía ao presidente o poder de assumir o controle temporário das redes privadas e desligar computadores privados da Internet (...).
O problema de quem controla a Internet é actualmente um tema de acesa discussão (...) já que o ICANN (Internet Assigned Names and Numbers), uma das instituições de topo da regulação da Internet, (...) é uma instituição privada americana sob supervisão do governo americano. Vários países têm tentado criar um organismo internacional à semelhança da União das Telecomunicações Internacionais mas o governo americano tem-se oposto a isso.
O controle do acesso pode ser feito por quem possua o controle dos sistemas de telecomunicações - telefone ou infraestruturas de fibra, por exemplo. Por outro lado, temos os ISPs que podem, através das suas firewalls impedir o acesso a grupos de endereços de um determinado país ou de uma empresa (penso que é isto que a China e a Coreia do Norte fazem). Um sistema autoritário que impeça os seus cidadãos de ter aceso a telefone ou ligações por cabo/fibra (como acontece na Coreia do Norte) está, efectivamente a controlar a Internet.
Quem controla o nó da rede pode controlar pelo menos uma parte dela.
Portanto, quanto à pergunta se é a possível controlar a rede penso que a resposta é sim. Quanto a quem tem esse poder é uma questão mais complexa. A nível de um país, obviamente o governo mas não devemos descartar a possibilidade de algum controlo (mesmo que ilegal) por parte dos ISPs. Como se pode ver pela proposta S.773 do Senado americano o embrião deste controle, apresentado sobre a forma de algo excepcional em tempo de crise, existe.
O que me preocupa seriamente não são os países não democráticos como a China ou a Coreia do Norte mas sim a tentação, visível nas propostas do Senado americano ou do governo francês que mencionei. Se consultarmos o artigo sobre a censura na internet da wikipédia aparecem países democráticos como a Austrália, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca e a Finlândia."
Margarida:
"Realmente é importante esclarecer o que quer dizer controlar a rede. Se for controlar o acesso à rede ou se for limitar o acesso a certas páginas, acho que há maneiras de conseguir isso. Certos governos totalitários já conseguiram isso. Mas nesse caso acho que estamos mais na linha de anular a rede do que de a controlar. É quase deixar que alguma coisa circule, para fingir que existe acesso a ela, mas anulando toda a filosofia por detrás da internet.
Para mim, preocupa-me mais a ideia de controlar o conteúdo da rede. Não sei se é possível. Infelizmente, há páginas com conteúdo criminoso, umas ligadas a pedofilia, a tráfico humano, a xenofobia, a terrorismo, etc. Quando essas páginas são detectadas, é feito um esforço de as retirar da rede ou de localizar quem está por detrás delas. Mas é um trabalho infeliz. A rede é tão vasta e quem a utiliza mal é tão habilidoso que consegue contornar isso e criar novas páginas sem grandes problemas.
No entanto, cada um de nós pode dar um contributo para tentar controlar a rede neste sentido. Por exemplo, em Portugal, existe a Linha Alerta - Internet Segura onde podemos denunciar um site de conteúdo ilegal. É só recorrer ao site da linha, neste endereço: http://linhaalerta.internetsegura.pt/. É um bom exercício de cidadania.
Helena:
"A Margarida levantou uma questão muito interessante em relação ao que se entende por controlo da net. Eu sempre pensei que a net era como a vida real. Têm de tudo um pouco, bom, mau, assim assim, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder. Acho que o controlo tem de ser feito pelo acesso. A que sites podemos aceder em segurança? Como nos podemos movimentar com segurança na net? Que riscos corremos ao frequentar certos sites, etc. Mas um controlo que seja baseado nos valores e interesses das pessoas.
A net expõe-nos mais que o mundo real, em muitos aspectos, pois através de programas especiais tipo os cookies, as empresas podem ver que tipo de produtos nos interessam e usar essa informação para nos mandar publicidade aos montes. Por exemplo, eu estou constantemente a receber publicidade de empresas de formação online e de sites educativos para inglês!
Tal como na vida real se aprende que espaços devemos frequentar em segurança ou que espaços nos interessam, na net é semelhante. Temos de aprender a proteger-nos. A decisão penso deve caber às pessoas a nível individual e às famílias e não aos poderes governamentais. Afinal a liberdade é um direito humano. E a responsabilidade um dever.
Exagero de protecção não me parece boa prática. Acho que devemos conviver com o que é bom e com o que é menos bom para sabermos distinguir as coisas e fazer os nossos juízos de valor. Afinal "quem não se guarda, não é bem guardado!"
A questão de quem controlo a quê na net, não é tanto uma questão moral, como económica. A Net é poder e é acima de tudo dinheiro, muito dinheiro, por isso essa questão é pertinente, para os governos e para as companhias, mais do que para os simples utilizadores. Como cidadão, podemos e devemos (na minha opinião) usar de bom senso e dos serviços do género que a Margarida sugere. Como professora, no entanto, penso que a censura prévia de sites tem duas reacções - leva a uma maior curiosidade e dai à asneira! É um pouco como o tabaco, toda a gente sabe que faz mal, bons conselhos abundam, mas todos querem experimentar! Ou leva a uma utilização da net que de certo modo é artificial, porque só mostra o que é considerado, pelos outros (pais, professores, governos, etc) como adequado e seguro. É uma posição muito paternalista e que pode trazer mais maus resultados do que bons, porque a tendência das pessoas é sempre saltar a rede!
Quem controla a rede é-me indiferente, o que é certo é que ela constitui um recurso valioso, uma ferramenta de trabalho ou um espaço de lazer a que todas as pessoas podem ter acesso. A questão da segurança é mais pertinente. Saber como agir, que procedimentos ter para estar em segurança é importante, tal como é importante na vida real. A Net é apenas mais um espaço. Saber andar neste mundo com bom senso e juízo é tão preciso como na vida real, porque o espaço pode ser virtual mas os perigos são reais."
Denyze:
"(...) concordando com o post da Helena, também penso que “a net tem de tudo um pouco, bom, mau, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder”.
Tudo relacionado com a internet vem evoluindo de uma forma avassaladora, acho que estamos num momento de educarmos as novas gerações para esse mundo novo e sem volta, que com certeza traz coisas negativas, o fácil acesso ao plágio, o perigo da exposição indevida, o acesso a conteúdos ilícitos, o uso ilimitado provocando dependência a essa vida paralela e inclusive a criminalidade... afinal nos dias actuais se faz tudo pela internet. Mas por outro lado devemos considerar também os benefícios deste acesso ilimitado (se bem conduzido), as possibilidades para educação a qualquer hora e em qualquer lugar... vejam o nosso caso estou do Brasil e me sinto aí perto de vocês em nossos debates, os artigos e textos de grandes autores a que temos acesso, os simuladores que permitem situações reais em treinos de risco no caso de pilotos por exemplo, a comunicação com uma velocidade jamais imaginada... bom resumindo penso que assim como regras sociais foram criadas para nossa convivência em grupo, aos poucos regras vão sendo criadas para normalizar o uso da Rede.
Quanto à questão: É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
Penso que não, a não ser nos casos, muito bem lembrados pelo colega Joaquim e pala colega Margarida, de países não democráticos como, por exemplo, China e a Coreia do Norte. Até porque assim como já citado pelos colegas existem interesses económicos por trás da Rede.
Particularmente não acho que controlar é o caso, o que devemos sim é educar nossos jovens e crianças para o uso adequado da Internet. Assim como fazemos na vida o que é certo e o que é errado... o mesmo vale para o uso da tecnologia."
- Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?
Por fim, no que toca à confiabilidade da informação contida da rede, referi o seguinte:
"Bom, parece-me preferível viver com uma desagradável certeza, do que com uma doce ilusão.
Dada a forma como a Internet foi concebida desde a sua génese e a possibilidade de qualquer pessoa ou entidade poder publicar conteúdos, sobretudo desde o "advento" da Web 2.0, não é "oficialmente" possível autenticar ou validar a informação nem a sua transparência ou qualidade, nem é possível garantir a idoneidade da utilização dessa informação.
Mas é aqui, precisamente, que residem os elementos mais valiosos e preciosos da Internet.
É certo que a rede não é segura e a informação nela partilhada não é confiável. Contudo, são estas características intrínsecas da Internet que fazem com o eterno e sempre presente apetite por parte de Estados, governos, ou outras entidades e indivíduos, de controlar e utilizar em seu proveito os meios de comunicação não posso ser totalmente posto em prática na rede mundial."
Joaquim:
"Quanto à segunda questão colocada pelo professor concordo com o Fernando. Na era da Web 2.0 em que não são precisos grandes conhecimentos para colocar informação na rede é praticamente impossível autenticar ou validar a informação bem como a sua qualidade a não ser em caso muito pontuais como a Wikipédia (mesmo assim com falhas) ou sites de entidades científicas como as universidades ou institutos.
Em relação à segurança acho que a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos: não divulgar informação demasiado pessoal ou colocar fotografias comprometedoras, por exemplo (algo que, por vezes, é difícil fazer os nossos alunos entender). É claro que com o aumento do comércio online e a deslocação de cada vez mais serviços públicos para a net a segurança dos dados é um problema importante.
A Helena coloca a questão "em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade" e acho que é bom reflectirmos um pouco sobre isso. Os mass media são, de certa forma, como a primeira web: há um grupo restrito de pessoas que têm acesso à publicação. Por exemplo, se eu quiser publicar um livro e não conseguir uma editora para o fazer isso ir-me-á custar aproximadamente €1000 por uma tiragem de 200 exemplares que poderão, eventualmente, vir a ser vendidos. A publicação do mesmo trabalho na net (com um número potencial de leitores bastante grande) terá custo zero, o que significa que a percentagem de pessoas que podem publicar algo é agora a mais alta da História e como não há nenhum controlo prévio a capacidade de reconhecer a veracidade da informação a que acedemos é muito importante.
É claro que nem tudo o que é publicado nos mass media tradicionais é fiável (há jornais, revistas e livros que devem ser lidos com uma boa dose de desconfiança) mas a quantidade de informação é agora tão gigantesca (em 2002, a quantidade de nova informação difundida através dos vários media foi de 5 exabytes ou seja 5,000,000,000,000,000,000 - ou 5 mil milhões de gigabytes) que é um verdadeiro problema."
Margarida:
"O Joaquim põe outra questão que também me preocupa, que é a segurança da rede no sentido de termos os nossos dados seguros. Não acho que a rede seja segura, pois os piratas que circulam nela são muito perigosos. Não sinto segurança para fazer compras pela internet se tiver de colocar dados meus como o nº de contribuinte ou de cartão de crédito, pois esses dados podem ser detectados por esses piratas e mal utilizados. Mas no site das Finanças acaba por estar toda a nossa informação. Acaba por ser um risco, mas espera-se que esse site seja seguro. Se formos a pensar nisso tudo, só temos duas hipóteses: ou usamos a rede sabendo que há alguns riscos e por isso tentamos ter um comportamento seguro evitando colocar os nossos dados em sites não oficiais, ou simplesmente não usamos a rede a não ser para procurar informações. Mas acho que as facilidades que a rede dá acabam por nos fazer optar pela primeira hipótese.
A Helena pergunta por que razão a net é menos fiável que os outros mass media. Realmente os outros mass media também não são todos fiáveis. Temos de saber escolher aqueles em que podemos confiar e aqueles em que não podemos. O problema da net é que está disponível para mais pessoas. Até as crianças a usam e isso já pode tornar a net mais perigosa.
Por isso é que é importante que os pais e os professores ensinem as crianças a usar a rede em segurança.
Tal como o Fernando diz, a internet permite que qualquer pessoa ou entidade possa publicar conteúdos. É isso que caracteriza a rede. Mas isso não significa que não podemos confiar na informação que encontramos na rede. Não podemos é confiar em toda a informação. Temos de usar os sites ligados a entidades e empresas responsáveis quando queremos procurar informações de confiança. Temos é de nos lembrar que a rede não funciona só para dar informações. Também serve para as pessoas partilharem pontos de vista. Nesses espaços de partilha o que é dito pode não ser fiável, mas não é por isso que não devem existir."
Helena:
"Procurando responder a segunda questão, (...) ponho outra questão: em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade?
Porque razão a net é menos fiável que os outros mass media?
Acho que tudo depende dos sites e das comunidades online. Há sites em que a confiança é dada pelo facto de estarem associados a prestigiadas instituições e por isso confiamos neles, sem reservas. Talvez por isso eles sejam óptimos para o fishing! Como aconteceu com o portal das finanças e com a Porto Editora.
Concordo com o Joaquim. De facto, muitos sites na net são extensões dessas instituições e são uma forma de apresentação pública e de publicidade. Por isso a informação neles contida será fiável, para bem da própria instituição. Sendo assim podemos confiar neles e na autenticidade das informações que disponibilizam. Nada como o prestígio da instituição para garantir a autenticidade das informações. Isso é tão valido para a net como para o mundo real.
No entanto, se formos por natureza desconfiados, nada é fiável. Tudo pode ser questionado. Mesmo sem ser na net, sabemos que os mass media clássicos manipulam a informação, mas continuam a sua missão de informar! Não é pelo facto de estar escrito que é verdade, nem pelo facto de passar em filme na TV que se pode acreditar sem reservas. Em última análise "A verdade é aquilo em que acreditamos".
Na net qualquer pessoa pode publicar o conteúdo que quiser. No entanto, os sites institucionais e os news grupos são regulados por mecanismos que garantem a fiabilidade das informações publicadas. A questão, parece-me, está também na capacidade de se perceber a diferença entre factos e opiniões. E de se filtrar a informação pertinente. Na net é talvez mais difícil porque somos submersos em informação que é muitas vezes contraditória.
Precisamos de afinar as nossas capacidades de filtragem, interpretação e juízos.
É preciso ensinar as crianças e já agora os adultos também a usar a net em segurança. Se bem que as questões de segurança não se prendem só com os filtros e os sistemas de protecção de acesso aos sites, mas e acima de tudo das pessoas saberem usar a net para seu benefício e saberem comportar-se. Isso aplica-se também na vida real - não fales com estranhos, não dês informações pessoais a estranhos, não te encontres sozinho com pessoas que conheces mal ou não conheces de todo.
Quantas pessoas adultas também não são vítimas de todo o tipo de enganos e assédios via net?
O perigo não está na Net em si, mas no uso que as pessoas fazem dela. Estamos perante um meio de comunicação bilateral muito poderoso porque pode ser multimédia e que ainda é muito novo na vida das pessoas. Através dele fazem-se as coisas mais estranhas. Mas fazem-se porque as pessoas assim querem ou deixam. É preciso saber dizer não. Desligar o site ou o computador quando for preciso.
O perigo real está nas relações que se estabelecem e elas podem ser estabelecidas por meio da net ou por meio do telemóvel por exemplo. Ou noutro espaço qualquer.
Saber estar seja em que situação for com bom senso e juízo é sempre aconselhável!"
Denyze:
"Realmente, a segurança na rede é um assunto que preocupa governos, serviços públicos, privados e até mesmo a própria polícia que vem tendo que se adaptar para investigar crimes que utilizam a Internet como cenário.
Concordo com a afirmação do Joaquim, “a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos.”
Quanto a informação confiável depende do local onde estamos acessando, conforme já dito aqui pelos demais colegas, estes devem estar associados a prestigiadas instituições... mas mesmo assim quem pode garantir? Não acho que esta resposta pode ser dada, afinal garantia, não temos.
O que acho impressionante é que mesmo com todos estes riscos as operações comerciais pela rede e a divulgação de perfis pessoais e comunidades de relacionamento crescem a cada dia; temos que conviver com a Cibercultura sendo educados para este mundo, pois os que nascem neste novo tempo (nativos digitais) vêem a rede como parte de sua vida e sendo assim ambiente seguro, onde tudo é possível, o que pode muitas vezes ser perigoso."
Actividade 4: Debate sobre a Autenticidade e Transparência na Rede
Após o debate efectuado sobre a Autenticidade e Transparência na Rede, cumpre agora fazer a sua síntese.
Para esse efeito, usarei as questões que foram lançadas pelo Prof. António Teixeira para resumir o essencial da discussão levada a cabo ao longo destes dias.
- Em que medida a nossa identidade digital é um prolongamento da nossa identidade pública ou um campo alternativo de expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima?
Em relação a esta primeira pergunta, comecei por afirmar o seguinte:
"Ao reflectir sobre o que ocorre na Comunicação Mediada por Computador (CMC), gostaria de não me afastar muito do que acontece na comunicação face-a-face (FTF), dado que os actores de ambas as formas de comunicação são os mesmos indivíduos.
É certo que as condições em que se estabelece essa comunicação são muito diferentes, nomeadamente a inexistência de contacto visual e a ausência de informação sobre o interlocutor.
Assim, cada um poderá optar por diversas atitudes: revelar (ou não) a sua verdadeira identidade e assumir (ou não) as suas habituais atitudes, opiniões e formas de pensar e agir. Ou seja, cada um poderá assumir o seu eu ou, pelo contrário, adoptar um eu diferente, ao sabor da sua imaginação ou dos seus objectivos.
Perante isto, levantam-se mais barreiras na descodificação, conhecimento e compreensão do nosso parceiro de comunicação, o que para alguns poderá ser desconfortável, mas poderá constituir um aliciante para outros.
Com efeito, grande parte da CMC dá-se intencionalmente em circunstâncias ou condições ambíguas ou dúbias.
Acresce o facto de os utilizadores da rede mundial não estar inequivocamente dividida entre estes dois grupos. Grande parte dos cibernautas assume alternadamente protagonismo em ambos os campos, um pouco à imagem de Dr. Heckel and Mr. Jive.
(...) a Net veio ampliar extraordinariamente estes cenários e exacerbar profundamente estes comportamentos.
Consequente mente, os receios e os riscos são agora maiores, não obstante os seus benefícios e as suas vantagens também serem.
Como nos comportamos nós, utilizadores da Internet, quer enquanto emissores, quer enquanto receptores? Ou seja, como agimos nós quer enquanto protagonistas, quer enquanto analistas de comportamentos?
Creio que a resposta reside na exacerbação. Quem, na comunicação FTF, assume habitualmente uma postura cautelosa e prudente, tenderá a desenvolver na CMC uma postura ainda mais precavida e previdente. Quem, pelo contrário, assume na comunicação FTF uma atitude mais aberta e liberal, tendencialmente desenvolverá na CMC uma atitude igualmente mais desinibida e temerária."
Helena:
"A identidade virtual é ela própria uma construção e consequentemente pode ser um prolongamento da identidade pública. Mas, também pode ser uma construção mais fantasiosa com todo o tipo de objectivos em vistas - forma de expressar desejos ou fantasias, de ultrapassar barreiras na comunicação, de se integrar num determinado ambiente, entre outras. Na verdade ninguém precisa de se apresentar com honestidade online. Os utilizadores do ciberespaço têm a liberdade para construir a sua identidade virtual como entenderem ou conseguirem imaginar. Todas as opções são possíveis no ciberespaço.
(...) os comportamentos típicos mostram uma tendência que as pessoas têm de revelar as melhores qualidades e tentar esconder os aspectos mais vulneráveis. O anonimato leva a uma maior desinibição e à apresentação do “verdadeiro eu” e não à “fabricação” e ao engano. Os resultados dos estudos levam o autor a concluir que embora as CMCs possibilitem oportunidades para a construção de identidades alternativas (identity play), as pessoas consideram difícil apresentar um “eu” que não seja o seu verdadeiro (real me).
Parece-me que a apresentação do eu pode ser mais ou menos fantasiosa, mas mesmo em rede há mecanismos que regulamentam o comportamento do cibernauta - a famosa netiqueta - como exemplifica Pierre Lévy. Há formas do grupo pôr os elementos na ordem, de incluir ou de excluir e também de perceber se as pessoas estão ou não a mentir ou a fantasiar na sua apresentação pois em algum momento a pessoa é inconsistente e a verdade acaba por surgir. O exemplo dado nas páginas 95 a 99 é ilustrativo das relações na net. Pelo facto de não haver uma presença física visível, pode-se construir entidades fantasiosas e usá-las de vários modos.
Aprender a dizer o que é correcto é uma competência social que me parece tão valida para a vida real como para a vida online. É uma questão de relacionamento humano.
Em muitas situações de nossa vida também não sabemos determinar se as pessoas com quem convivemos são realmente como dizem ser. Estas questões da verdade da identidade são muito complexas também na vida real onde estamos a olhar uns para os outros. (às vezes, muitas sem ver nada!)
Queria também lançar outra questão, será que a identidade digital tem que corresponder à identidade real para que as pessoas se entendam e trabalhem colaborativamente? A apresentação é apenas uma parte do que damos a conhecer de nós próprios, muito mais damos a conhecer através do nosso comportamento online (a forma como interagimos com os outros) - do que fazemos (os produtos que produzimos)."
Margarida:
"A forma como as pessoas se comportam na internet é curiosa. O estudo que a Helena fala diz que há uma maior desinibição e isso leva à apresentação do verdadeiro eu. (...) as pessoas sentiam-se mais à vontade para dizerem o que queriam e isso nem sempre era bom. Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros, às vezes não fazem essa censura e o resultado pode ser mau. (...) A internet fez com que o verdadeiro eu dele aparecesse. Neste caso não foi uma falsa identidade mas uma extensão da sua identidade mais oculta que apareceu e fez estragos nas relações cara a cara. Este exemplo e as referências que apresentei fazem pensar que o problema da identidade digital não é só o fingimento mas também o excesso de sinceridade e transparência."
Denyze:
"(...) o indivíduo pode se mostrar como gostaria de ser, me parece que a Rede possibilita que situações mal resolvidas de um indivíduo (como por exemplo aparência física, ou características psicológicas) possam ser escondidas por detrás da tela. Uma pessoa tímida consegue facilmente se comunicar “protegida” pela sensação de segurança de estar atrás do computador.
O ser humano idealiza um modelo pessoal e a Internet permite que ele viva conforme idealizou e fale tudo que tem vontade. E tenho que concordar neste ponto com a colega Margarida que isso nem sempre é bom. E finalizo aqui, repetindo algumas de suas palavras: Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros essa regra não vale."
Joaquim:
"Em relação à nossa identidade digital acho que ela é uma expressão da nossa identidade. A internet permite-nos mostrar de uma forma fácil as várias facetas da nossa personalidade ou, seja, de certa forma, como diz Suler, "desconstruirmo-nos" online: um pacato trabalhador de um qualquer escritório pode-se transformar num terrível e sanguinário caçador de orcs num MUD, num especialista em batalhas da II Guerra Mundial num fórum de discussão ou num locutor de rádio num podcast. Estas múltiplas facetas deste pacato funcionário existiriam mesmo sem a internet, mas a rede veio permitir foi que ele se exprima de uma forma que seria impossível (ou, nalguns casos, mal vista - por exemplo, os jogadores de Dungeons and Dragons antes da Internet eram considerados como um grupo "estranho" e quase secreto) há 30 anos atrás."
- O perigo da fraude intelectual (ex.: plágio) aumentou com o advento da internet?
Quanto à prática de plágio, respondi da seguinte forma:
"Sem dúvida que sim.
Cada vez mais assistimos a um número preocupantemente crescente de utilização de material escrito ou multimédia produzido por terceiros, sem a indispensável citação ou referência, muitas vezes com a intenção de atalhar caminho e poupar esforços, seja em contexto académico, jornalístico ou na produção de conhecimento.
A tentação de evitar horas, quando não semanas ou meses, de árduo, e por vezes penoso, trabalho de estudo e reflexão é enorme. Mesmo a tarefa de redigir o texto copiado é evitável, recorrendo ao "copy/paste".
E esta tendência manifesta-se desde o mais elementar trabalho do ensino básico ou preparatório, até ao nível de Teses de Mestrado ou de Doutoramento, como por diversas vezes já foi detectado.
Em todos os casos de indevida ou incorrecta utilização da Internet, a responsabilidade está, a meu ver, muito mais na natureza humana do que na tecnologia em si.
Os parágrafos que citei acima, recolhidos do artigo citado, encerram a postura que a comunidade académica deve assumir em relação à fraude intelectual, estigmatizando e ostracizando aqueles que recorrerem a esta prática.
É, porém, necessário que os professores, desde a escolaridade mais precoce, alertem os seus alunos para a 'armadilha' que esta prática constitui, tentando, assim, evitar que este hábito se instale, e pior, que passe impune."
Joaquim:
"Sempre houve plágio mas penso que a ideia geralmente aceite é que ele tem vindo a aumentar, o que explicaria o aparecimento de software para a detecção de plágios (...)
Se a ideia de se utilizar o trabalho de outra pessoa (no todo ou em parte) sem o referir não é nova, o que mudou foi o fácil acesso ao gigantesco manancial de informação que é a Internet. Recentemente soube do caso de um trabalho universitário que era uma tradução integral de um artigo de uma revista australiana, algo que teria sido praticamente impensável antes da existência da Internet (qual teria sido a probabilidade de um estudante português nos tempos pré-internet saber sequer da existência de uma revista publicada na Austrália? Não impossível, mas certamente muitíssimo remota).
Mas a existência desta informação disponível não pode ser a única causa para os plágios com recurso à Internet.
A percepção que eu tenho é de que há efectivamente um aumento dos casos de plágio.
O caso dos sites que vendem trabalhos é realmente um negócio que corre de vento em poupa na net (li algures que, só nos Estados Unidos, existem mais de 200 destes sites). Lembro-me de uma vez ter consultado um e realmente havia quase de tudo para quase todos os gostos e à la carte. Tecnicamente não será um plágio porque os autores foram pagos pelo seu trabalho mas é certamente desonesto.
Concordo com a Margarida em relação ao papel importante dos professores neste assunto (mas temos de concordar que é uma guerra difícil)."
Margarida:
"Eu também tenho a noção que há mais plágio com a Internet, apesar de sempre ter existido.
(...) o plágio não é levado a sério. As pessoas copiam e deixam-se copiar como se isso fosse normal. Fazem isso na escola e estão tão habituados que continuam pela vida fora, na vida profissional. Mas o plágio é um crime.
As pessoas acham que tirar alguma coisa da internet não é grave porque a internet é pública. Mas o facto de uma informação ou um estudo se tornar público na internet não significa que não tenha direitos de autor.
A culpa do plágio não é da internet, mas das pessoas sem ética que a utilizam. Mas se não houvesse uma internet tão generalizada, o plágio não era tão fácil. Como evitar que ele aconteça é que é difícil. Pode-se tentar fazer com que as pessoas sejam mais conscientes, mas não sei se todos querem sê-lo.
Os professores têm um papel importante em tentar desenvolver o espírito cívico dos futuros cidadãos. Para além de explicar porque é que o plágio está errado, é importante mostrar que ele não é valorizado. A atitude da Helena está certa. Devolver um trabalho plagiado com a nota de 0 valores mostra ao aluno que é um crime sem recompensa. É possível que assim ele aprenda que não deve repetir essa cópia ilegal. E se o professor valorizar bastante os trabalhos em que se os alunos dão a sua opinião pessoal, em que mostram que são criativos na maneira como usam a informação, pode ser que eles se sintam menos motivados a fazer plágio."
Denyze:
"Concordo com os colegas quando afirmam que o plágio sempre existiu, o que mudou é que com a internet o acesso e a velocidade com que tudo pode ser encontrado é o que fez com que a fraude intelectual aumentasse.
A tecnologia não tem responsabilidade pela expansão destes casos, esses padrões de comportamento têm relação com aspectos éticos e morais. Não só o plágio, como a pirataria existem porque encontram na sociedade uma parcela de pessoas predispostas e que não vêem problema no uso livre de que está na internet.
A pesquisa apresentada pela Margarida reforça que plágio, mesmo sendo crime, não é levado a sério, é um fato usual na vida das pessoas.
Não seria este padrão social que vem sendo imposto com mais força pelo uso das tecnologias uma amostra de que precisamos evoluir com a Cibercultura, levantando bandeiras como a ética e a moral?"
Helena:
"Depois de ler os posts sobre a parte do plágio, dei por mim a pensar nos sites que vendem ensaios por encomenda e num caso em França em que o ministério da educação mandou encerrar um site que vendia trabalhos de casa! Portanto, como atitude moral é de todo criticável, é uma fraude. Como negócio parece que vai de vento em popa.
Isso deixa-me enquanto professora e também como aluna um tanto confusa, porque a verdade dos factos é inegável. Então como é que podemos gerir isso? E geri-lo numa sociedade onde a informação é cada vez mais acessível e fácil de usar e plagiar. Copiar um trabalho ou partes de texto daqui e dali tem sido a forma mais usual neste últimos tempos de se fazer "trabalho de pesquisa"!
Já nem sei quantos trabalhos devolvi com nota 0, devido a este facilitismo.
É uma questão preocupante, a facilidade com qualquer pessoa pode fazer passar por seu aquilo que pertence aos outros. Parece-me que esta noção de propriedade intelectual é ainda algo que precisa de ser interiorizado.
Será que na nossa sociedade actual podemos simplesmente chamar plágio ao corte e costura, à colagem e à citação ou estamos perante um modo de procedimento que se vai generalizando, porque a tecnologia assim o permite? Neste caso, podemos aceitar um trabalho feito desta forma como válido? Com que critérios?"
- É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
No que diz respeito a esta questão, comecei por escrever:
"A resposta dependerá, obviamente, do conceito de "controlar" que considerarmos.
Se entendermos "controlar" como uma forma de tecnicamente administrar e superintender a rede, nomeadamente, decidir quem pode ou não a ela ter acesso, ou de censurar o seu conteúdo, a resposta será: Não.
Porém, o controlo poderá ser feito de formas mais subtis, mas eficazes, como, por exemplo, utilizar a rede para propaganda, desinformação, ou mesmo intoxicação da opinião pública.
O que teriam feito Salazar e António Ferro, ou Hitler e Goebbles, se no seu tempo existisse a Internet?
Outros exemplos de controlo exercido através da Internet serão o recrutamento de jovens bombistas suicidas recorrendo aos websites utilizados para esse efeito, ou as comunidades virtuais onde se estimula o ódio fundamentalista e onde se ensina a produzir engenhos explosivos caseiros.
Há, de facto, diversas tentativas para controlar a rede. Mas a Humanidade já aprendeu a viver com isso. Desde sempre os povos tentaram contornar os caminhos cerceados para a informação e para cultura, mesmo correndo o risco de vida, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial, onde quem fosse surpreendido a ouvir a BBC na rádio era sumariamente fuzilado pela Gestapo, ou em Portugal, nos tempos em que possuir livros de autores "subversivos" era sinónimo de sérios problemas com a PIDE.
Felizmente que hoje é reduzido o número de pessoas a quem é barrado o acesso à Internet.
Hoje temos a liberdade como algo adquirido e isso faz-nos esquecer os povos que não a possuem.
Uma das vantagens da rede mundial é que tecnicamente é muito mais difícil sobre ela exercer a censura. O lápis azul aqui é muito menos eficiente."
Joaquim:
"O Fernando colocou uma questão interessante: qual o conceito de "controlar". Para podermos continuar proponho a seguinte definição: capacidade de impedir ou limitar o acesso à rede bem como definir os conteúdos permitidos através da censura.
Devido ao facto de a Internet, desde a sua origem, não ter centro (aliás, a ideia era que as comunicações pudessem continuar a funcionar em caso de um ataque nuclear) mas ser uma rede de redes em que cada nó é independente dá a ideia de que a internet não pode ser controlada. Esta ideia não é inteiramente verdadeira. Dois casos, extremos, podem ser citados: a China e a Coreia do Norte (mas também o Irão e outros países fundamentalistas) que limitam (não a 100% é certo, mas trata-se de um limite) o acesso dos seus cidadãos à rede. Mas não pensemos que estes casos só existem em países não democráticos. Basta lembrarmo-nos da proposta de lei francesa sobre o corte do acesso à Internet para quem seja apanhado a fazer downloads ilegais ou a proposta de Lei S.773 do Senado americano que atribuía ao presidente o poder de assumir o controle temporário das redes privadas e desligar computadores privados da Internet (...).
O problema de quem controla a Internet é actualmente um tema de acesa discussão (...) já que o ICANN (Internet Assigned Names and Numbers), uma das instituições de topo da regulação da Internet, (...) é uma instituição privada americana sob supervisão do governo americano. Vários países têm tentado criar um organismo internacional à semelhança da União das Telecomunicações Internacionais mas o governo americano tem-se oposto a isso.
O controle do acesso pode ser feito por quem possua o controle dos sistemas de telecomunicações - telefone ou infraestruturas de fibra, por exemplo. Por outro lado, temos os ISPs que podem, através das suas firewalls impedir o acesso a grupos de endereços de um determinado país ou de uma empresa (penso que é isto que a China e a Coreia do Norte fazem). Um sistema autoritário que impeça os seus cidadãos de ter aceso a telefone ou ligações por cabo/fibra (como acontece na Coreia do Norte) está, efectivamente a controlar a Internet.
Quem controla o nó da rede pode controlar pelo menos uma parte dela.
Portanto, quanto à pergunta se é a possível controlar a rede penso que a resposta é sim. Quanto a quem tem esse poder é uma questão mais complexa. A nível de um país, obviamente o governo mas não devemos descartar a possibilidade de algum controlo (mesmo que ilegal) por parte dos ISPs. Como se pode ver pela proposta S.773 do Senado americano o embrião deste controle, apresentado sobre a forma de algo excepcional em tempo de crise, existe.
O que me preocupa seriamente não são os países não democráticos como a China ou a Coreia do Norte mas sim a tentação, visível nas propostas do Senado americano ou do governo francês que mencionei. Se consultarmos o artigo sobre a censura na internet da wikipédia aparecem países democráticos como a Austrália, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca e a Finlândia."
Margarida:
"Realmente é importante esclarecer o que quer dizer controlar a rede. Se for controlar o acesso à rede ou se for limitar o acesso a certas páginas, acho que há maneiras de conseguir isso. Certos governos totalitários já conseguiram isso. Mas nesse caso acho que estamos mais na linha de anular a rede do que de a controlar. É quase deixar que alguma coisa circule, para fingir que existe acesso a ela, mas anulando toda a filosofia por detrás da internet.
Para mim, preocupa-me mais a ideia de controlar o conteúdo da rede. Não sei se é possível. Infelizmente, há páginas com conteúdo criminoso, umas ligadas a pedofilia, a tráfico humano, a xenofobia, a terrorismo, etc. Quando essas páginas são detectadas, é feito um esforço de as retirar da rede ou de localizar quem está por detrás delas. Mas é um trabalho infeliz. A rede é tão vasta e quem a utiliza mal é tão habilidoso que consegue contornar isso e criar novas páginas sem grandes problemas.
No entanto, cada um de nós pode dar um contributo para tentar controlar a rede neste sentido. Por exemplo, em Portugal, existe a Linha Alerta - Internet Segura onde podemos denunciar um site de conteúdo ilegal. É só recorrer ao site da linha, neste endereço: http://linhaalerta.internetsegura.pt/. É um bom exercício de cidadania.
Helena:
"A Margarida levantou uma questão muito interessante em relação ao que se entende por controlo da net. Eu sempre pensei que a net era como a vida real. Têm de tudo um pouco, bom, mau, assim assim, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder. Acho que o controlo tem de ser feito pelo acesso. A que sites podemos aceder em segurança? Como nos podemos movimentar com segurança na net? Que riscos corremos ao frequentar certos sites, etc. Mas um controlo que seja baseado nos valores e interesses das pessoas.
A net expõe-nos mais que o mundo real, em muitos aspectos, pois através de programas especiais tipo os cookies, as empresas podem ver que tipo de produtos nos interessam e usar essa informação para nos mandar publicidade aos montes. Por exemplo, eu estou constantemente a receber publicidade de empresas de formação online e de sites educativos para inglês!
Tal como na vida real se aprende que espaços devemos frequentar em segurança ou que espaços nos interessam, na net é semelhante. Temos de aprender a proteger-nos. A decisão penso deve caber às pessoas a nível individual e às famílias e não aos poderes governamentais. Afinal a liberdade é um direito humano. E a responsabilidade um dever.
Exagero de protecção não me parece boa prática. Acho que devemos conviver com o que é bom e com o que é menos bom para sabermos distinguir as coisas e fazer os nossos juízos de valor. Afinal "quem não se guarda, não é bem guardado!"
A questão de quem controlo a quê na net, não é tanto uma questão moral, como económica. A Net é poder e é acima de tudo dinheiro, muito dinheiro, por isso essa questão é pertinente, para os governos e para as companhias, mais do que para os simples utilizadores. Como cidadão, podemos e devemos (na minha opinião) usar de bom senso e dos serviços do género que a Margarida sugere. Como professora, no entanto, penso que a censura prévia de sites tem duas reacções - leva a uma maior curiosidade e dai à asneira! É um pouco como o tabaco, toda a gente sabe que faz mal, bons conselhos abundam, mas todos querem experimentar! Ou leva a uma utilização da net que de certo modo é artificial, porque só mostra o que é considerado, pelos outros (pais, professores, governos, etc) como adequado e seguro. É uma posição muito paternalista e que pode trazer mais maus resultados do que bons, porque a tendência das pessoas é sempre saltar a rede!
Quem controla a rede é-me indiferente, o que é certo é que ela constitui um recurso valioso, uma ferramenta de trabalho ou um espaço de lazer a que todas as pessoas podem ter acesso. A questão da segurança é mais pertinente. Saber como agir, que procedimentos ter para estar em segurança é importante, tal como é importante na vida real. A Net é apenas mais um espaço. Saber andar neste mundo com bom senso e juízo é tão preciso como na vida real, porque o espaço pode ser virtual mas os perigos são reais."
Denyze:
"(...) concordando com o post da Helena, também penso que “a net tem de tudo um pouco, bom, mau, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder”.
Tudo relacionado com a internet vem evoluindo de uma forma avassaladora, acho que estamos num momento de educarmos as novas gerações para esse mundo novo e sem volta, que com certeza traz coisas negativas, o fácil acesso ao plágio, o perigo da exposição indevida, o acesso a conteúdos ilícitos, o uso ilimitado provocando dependência a essa vida paralela e inclusive a criminalidade... afinal nos dias actuais se faz tudo pela internet. Mas por outro lado devemos considerar também os benefícios deste acesso ilimitado (se bem conduzido), as possibilidades para educação a qualquer hora e em qualquer lugar... vejam o nosso caso estou do Brasil e me sinto aí perto de vocês em nossos debates, os artigos e textos de grandes autores a que temos acesso, os simuladores que permitem situações reais em treinos de risco no caso de pilotos por exemplo, a comunicação com uma velocidade jamais imaginada... bom resumindo penso que assim como regras sociais foram criadas para nossa convivência em grupo, aos poucos regras vão sendo criadas para normalizar o uso da Rede.
Quanto à questão: É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
Penso que não, a não ser nos casos, muito bem lembrados pelo colega Joaquim e pala colega Margarida, de países não democráticos como, por exemplo, China e a Coreia do Norte. Até porque assim como já citado pelos colegas existem interesses económicos por trás da Rede.
Particularmente não acho que controlar é o caso, o que devemos sim é educar nossos jovens e crianças para o uso adequado da Internet. Assim como fazemos na vida o que é certo e o que é errado... o mesmo vale para o uso da tecnologia."
- Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?
Por fim, no que toca à confiabilidade da informação contida da rede, referi o seguinte:
"Bom, parece-me preferível viver com uma desagradável certeza, do que com uma doce ilusão.
Dada a forma como a Internet foi concebida desde a sua génese e a possibilidade de qualquer pessoa ou entidade poder publicar conteúdos, sobretudo desde o "advento" da Web 2.0, não é "oficialmente" possível autenticar ou validar a informação nem a sua transparência ou qualidade, nem é possível garantir a idoneidade da utilização dessa informação.
Mas é aqui, precisamente, que residem os elementos mais valiosos e preciosos da Internet.
É certo que a rede não é segura e a informação nela partilhada não é confiável. Contudo, são estas características intrínsecas da Internet que fazem com o eterno e sempre presente apetite por parte de Estados, governos, ou outras entidades e indivíduos, de controlar e utilizar em seu proveito os meios de comunicação não posso ser totalmente posto em prática na rede mundial."
Joaquim:
"Quanto à segunda questão colocada pelo professor concordo com o Fernando. Na era da Web 2.0 em que não são precisos grandes conhecimentos para colocar informação na rede é praticamente impossível autenticar ou validar a informação bem como a sua qualidade a não ser em caso muito pontuais como a Wikipédia (mesmo assim com falhas) ou sites de entidades científicas como as universidades ou institutos.
Em relação à segurança acho que a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos: não divulgar informação demasiado pessoal ou colocar fotografias comprometedoras, por exemplo (algo que, por vezes, é difícil fazer os nossos alunos entender). É claro que com o aumento do comércio online e a deslocação de cada vez mais serviços públicos para a net a segurança dos dados é um problema importante.
A Helena coloca a questão "em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade" e acho que é bom reflectirmos um pouco sobre isso. Os mass media são, de certa forma, como a primeira web: há um grupo restrito de pessoas que têm acesso à publicação. Por exemplo, se eu quiser publicar um livro e não conseguir uma editora para o fazer isso ir-me-á custar aproximadamente €1000 por uma tiragem de 200 exemplares que poderão, eventualmente, vir a ser vendidos. A publicação do mesmo trabalho na net (com um número potencial de leitores bastante grande) terá custo zero, o que significa que a percentagem de pessoas que podem publicar algo é agora a mais alta da História e como não há nenhum controlo prévio a capacidade de reconhecer a veracidade da informação a que acedemos é muito importante.
É claro que nem tudo o que é publicado nos mass media tradicionais é fiável (há jornais, revistas e livros que devem ser lidos com uma boa dose de desconfiança) mas a quantidade de informação é agora tão gigantesca (em 2002, a quantidade de nova informação difundida através dos vários media foi de 5 exabytes ou seja 5,000,000,000,000,000,000 - ou 5 mil milhões de gigabytes) que é um verdadeiro problema."
Margarida:
"O Joaquim põe outra questão que também me preocupa, que é a segurança da rede no sentido de termos os nossos dados seguros. Não acho que a rede seja segura, pois os piratas que circulam nela são muito perigosos. Não sinto segurança para fazer compras pela internet se tiver de colocar dados meus como o nº de contribuinte ou de cartão de crédito, pois esses dados podem ser detectados por esses piratas e mal utilizados. Mas no site das Finanças acaba por estar toda a nossa informação. Acaba por ser um risco, mas espera-se que esse site seja seguro. Se formos a pensar nisso tudo, só temos duas hipóteses: ou usamos a rede sabendo que há alguns riscos e por isso tentamos ter um comportamento seguro evitando colocar os nossos dados em sites não oficiais, ou simplesmente não usamos a rede a não ser para procurar informações. Mas acho que as facilidades que a rede dá acabam por nos fazer optar pela primeira hipótese.
A Helena pergunta por que razão a net é menos fiável que os outros mass media. Realmente os outros mass media também não são todos fiáveis. Temos de saber escolher aqueles em que podemos confiar e aqueles em que não podemos. O problema da net é que está disponível para mais pessoas. Até as crianças a usam e isso já pode tornar a net mais perigosa.
Por isso é que é importante que os pais e os professores ensinem as crianças a usar a rede em segurança.
Tal como o Fernando diz, a internet permite que qualquer pessoa ou entidade possa publicar conteúdos. É isso que caracteriza a rede. Mas isso não significa que não podemos confiar na informação que encontramos na rede. Não podemos é confiar em toda a informação. Temos de usar os sites ligados a entidades e empresas responsáveis quando queremos procurar informações de confiança. Temos é de nos lembrar que a rede não funciona só para dar informações. Também serve para as pessoas partilharem pontos de vista. Nesses espaços de partilha o que é dito pode não ser fiável, mas não é por isso que não devem existir."
Helena:
"Procurando responder a segunda questão, (...) ponho outra questão: em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade?
Porque razão a net é menos fiável que os outros mass media?
Acho que tudo depende dos sites e das comunidades online. Há sites em que a confiança é dada pelo facto de estarem associados a prestigiadas instituições e por isso confiamos neles, sem reservas. Talvez por isso eles sejam óptimos para o fishing! Como aconteceu com o portal das finanças e com a Porto Editora.
Concordo com o Joaquim. De facto, muitos sites na net são extensões dessas instituições e são uma forma de apresentação pública e de publicidade. Por isso a informação neles contida será fiável, para bem da própria instituição. Sendo assim podemos confiar neles e na autenticidade das informações que disponibilizam. Nada como o prestígio da instituição para garantir a autenticidade das informações. Isso é tão valido para a net como para o mundo real.
No entanto, se formos por natureza desconfiados, nada é fiável. Tudo pode ser questionado. Mesmo sem ser na net, sabemos que os mass media clássicos manipulam a informação, mas continuam a sua missão de informar! Não é pelo facto de estar escrito que é verdade, nem pelo facto de passar em filme na TV que se pode acreditar sem reservas. Em última análise "A verdade é aquilo em que acreditamos".
Na net qualquer pessoa pode publicar o conteúdo que quiser. No entanto, os sites institucionais e os news grupos são regulados por mecanismos que garantem a fiabilidade das informações publicadas. A questão, parece-me, está também na capacidade de se perceber a diferença entre factos e opiniões. E de se filtrar a informação pertinente. Na net é talvez mais difícil porque somos submersos em informação que é muitas vezes contraditória.
Precisamos de afinar as nossas capacidades de filtragem, interpretação e juízos.
É preciso ensinar as crianças e já agora os adultos também a usar a net em segurança. Se bem que as questões de segurança não se prendem só com os filtros e os sistemas de protecção de acesso aos sites, mas e acima de tudo das pessoas saberem usar a net para seu benefício e saberem comportar-se. Isso aplica-se também na vida real - não fales com estranhos, não dês informações pessoais a estranhos, não te encontres sozinho com pessoas que conheces mal ou não conheces de todo.
Quantas pessoas adultas também não são vítimas de todo o tipo de enganos e assédios via net?
O perigo não está na Net em si, mas no uso que as pessoas fazem dela. Estamos perante um meio de comunicação bilateral muito poderoso porque pode ser multimédia e que ainda é muito novo na vida das pessoas. Através dele fazem-se as coisas mais estranhas. Mas fazem-se porque as pessoas assim querem ou deixam. É preciso saber dizer não. Desligar o site ou o computador quando for preciso.
O perigo real está nas relações que se estabelecem e elas podem ser estabelecidas por meio da net ou por meio do telemóvel por exemplo. Ou noutro espaço qualquer.
Saber estar seja em que situação for com bom senso e juízo é sempre aconselhável!"
Denyze:
"Realmente, a segurança na rede é um assunto que preocupa governos, serviços públicos, privados e até mesmo a própria polícia que vem tendo que se adaptar para investigar crimes que utilizam a Internet como cenário.
Concordo com a afirmação do Joaquim, “a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos.”
Quanto a informação confiável depende do local onde estamos acessando, conforme já dito aqui pelos demais colegas, estes devem estar associados a prestigiadas instituições... mas mesmo assim quem pode garantir? Não acho que esta resposta pode ser dada, afinal garantia, não temos.
O que acho impressionante é que mesmo com todos estes riscos as operações comerciais pela rede e a divulgação de perfis pessoais e comunidades de relacionamento crescem a cada dia; temos que conviver com a Cibercultura sendo educados para este mundo, pois os que nascem neste novo tempo (nativos digitais) vêem a rede como parte de sua vida e sendo assim ambiente seguro, onde tudo é possível, o que pode muitas vezes ser perigoso."
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