terça-feira, 11 de maio de 2010

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE - Síntese da Actividade 4

Temática: A VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

Actividade 4: Debate sobre a Autenticidade e Transparência na Rede


Após o debate efectuado sobre a Autenticidade e Transparência na Rede, cumpre agora fazer a sua síntese.
Para esse efeito, usarei as questões que foram lançadas pelo Prof. António Teixeira para resumir o essencial da discussão levada a cabo ao longo destes dias.


- Em que medida a nossa identidade digital é um prolongamento da nossa identidade pública ou um campo alternativo de expressão de uma dimensão escondida da nossa personalidade íntima?

Em relação a esta primeira pergunta, comecei por afirmar o seguinte:
"Ao reflectir sobre o que ocorre na Comunicação Mediada por Computador (CMC), gostaria de não me afastar muito do que acontece na comunicação face-a-face (FTF), dado que os actores de ambas as formas de comunicação são os mesmos indivíduos.
É certo que as condições em que se estabelece essa comunicação são muito diferentes, nomeadamente a inexistência de contacto visual e a ausência de informação sobre o interlocutor.
Assim, cada um poderá optar por diversas atitudes: revelar (ou não) a sua verdadeira identidade e assumir (ou não) as suas habituais atitudes, opiniões e formas de pensar e agir. Ou seja, cada um poderá assumir o seu eu ou, pelo contrário, adoptar um eu diferente, ao sabor da sua imaginação ou dos seus objectivos.
Perante isto, levantam-se mais barreiras na descodificação, conhecimento e compreensão do nosso parceiro de comunicação, o que para alguns poderá ser desconfortável, mas poderá constituir um aliciante para outros.
Com efeito, grande parte da CMC dá-se intencionalmente em circunstâncias ou condições ambíguas ou dúbias.
Acresce o facto de os utilizadores da rede mundial não estar inequivocamente dividida entre estes dois grupos. Grande parte dos cibernautas assume alternadamente protagonismo em ambos os campos, um pouco à imagem de Dr. Heckel and Mr. Jive.
(...) a Net veio ampliar extraordinariamente estes cenários e exacerbar profundamente estes comportamentos.
Consequente mente, os receios e os riscos são agora maiores, não obstante os seus benefícios e as suas vantagens também serem.
Como nos comportamos nós, utilizadores da Internet, quer enquanto emissores, quer enquanto receptores? Ou seja, como agimos nós quer enquanto protagonistas, quer enquanto analistas de comportamentos?
Creio que a resposta reside na exacerbação. Quem, na comunicação FTF, assume habitualmente uma postura cautelosa e prudente, tenderá a desenvolver na CMC uma postura ainda mais precavida e previdente. Quem, pelo contrário, assume na comunicação FTF uma atitude mais aberta e liberal, tendencialmente desenvolverá na CMC uma atitude igualmente mais desinibida e temerária."


Helena:
"A identidade virtual é ela própria uma construção e consequentemente pode ser um prolongamento da identidade pública. Mas, também pode ser uma construção mais fantasiosa com todo o tipo de objectivos em vistas - forma de expressar desejos ou fantasias, de ultrapassar barreiras na comunicação, de se integrar num determinado ambiente, entre outras. Na verdade ninguém precisa de se apresentar com honestidade online. Os utilizadores do ciberespaço têm a liberdade para construir a sua identidade virtual como entenderem ou conseguirem imaginar. Todas as opções são possíveis no ciberespaço.
(...) os comportamentos típicos mostram uma tendência que as pessoas têm de revelar as melhores qualidades e tentar esconder os aspectos mais vulneráveis. O anonimato leva a uma maior desinibição e à apresentação do “verdadeiro eu” e não à “fabricação” e ao engano. Os resultados dos estudos levam o autor a concluir que embora as CMCs possibilitem oportunidades para a construção de identidades alternativas (identity play), as pessoas consideram difícil apresentar um “eu” que não seja o seu verdadeiro (real me).
Parece-me que a apresentação do eu pode ser mais ou menos fantasiosa, mas mesmo em rede há mecanismos que regulamentam o comportamento do cibernauta - a famosa netiqueta - como exemplifica Pierre Lévy. Há formas do grupo pôr os elementos na ordem, de incluir ou de excluir e também de perceber se as pessoas estão ou não a mentir ou a fantasiar na sua apresentação pois em algum momento a pessoa é inconsistente e a verdade acaba por surgir. O exemplo dado nas páginas 95 a 99 é ilustrativo das relações na net. Pelo facto de não haver uma presença física visível, pode-se construir entidades fantasiosas e usá-las de vários modos.
Aprender a dizer o que é correcto é uma competência social que me parece tão valida para a vida real como para a vida online. É uma questão de relacionamento humano.
Em muitas situações de nossa vida também não sabemos determinar se as pessoas com quem convivemos são realmente como dizem ser. Estas questões da verdade da identidade são muito complexas também na vida real onde estamos a olhar uns para os outros. (às vezes, muitas sem ver nada!)
Queria também lançar outra questão, será que a identidade digital tem que corresponder à identidade real para que as pessoas se entendam e trabalhem colaborativamente? A apresentação é apenas uma parte do que damos a conhecer de nós próprios, muito mais damos a conhecer através do nosso comportamento online (a forma como interagimos com os outros) - do que fazemos (os produtos que produzimos)."


Margarida:
"A forma como as pessoas se comportam na internet é curiosa. O estudo que a Helena fala diz que há uma maior desinibição e isso leva à apresentação do verdadeiro eu. (...) as pessoas sentiam-se mais à vontade para dizerem o que queriam e isso nem sempre era bom. Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros, às vezes não fazem essa censura e o resultado pode ser mau. (...) A internet fez com que o verdadeiro eu dele aparecesse. Neste caso não foi uma falsa identidade mas uma extensão da sua identidade mais oculta que apareceu e fez estragos nas relações cara a cara. Este exemplo e as referências que apresentei fazem pensar que o problema da identidade digital não é só o fingimento mas também o excesso de sinceridade e transparência."

Denyze:
"(...) o indivíduo pode se mostrar como gostaria de ser, me parece que a Rede possibilita que situações mal resolvidas de um indivíduo (como por exemplo aparência física, ou características psicológicas) possam ser escondidas por detrás da tela. Uma pessoa tímida consegue facilmente se comunicar “protegida” pela sensação de segurança de estar atrás do computador.
O ser humano idealiza um modelo pessoal e a Internet permite que ele viva conforme idealizou e fale tudo que tem vontade. E tenho que concordar neste ponto com a colega Margarida que isso nem sempre é bom. E finalizo aqui, repetindo algumas de suas palavras: Há alguns limites que a sociedade põe ao nosso eu e as pessoas aprendem a não dizerem tudo o que são e o que pensam, para serem aceites socialmente. Na internet, como não estão a olhar para os outros essa regra não vale."


Joaquim:
"Em relação à nossa identidade digital acho que ela é uma expressão da nossa identidade. A internet permite-nos mostrar de uma forma fácil as várias facetas da nossa personalidade ou, seja, de certa forma, como diz Suler, "desconstruirmo-nos" online: um pacato trabalhador de um qualquer escritório pode-se transformar num terrível e sanguinário caçador de orcs num MUD, num especialista em batalhas da II Guerra Mundial num fórum de discussão ou num locutor de rádio num podcast. Estas múltiplas facetas deste pacato funcionário existiriam mesmo sem a internet, mas a rede veio permitir foi que ele se exprima de uma forma que seria impossível (ou, nalguns casos, mal vista - por exemplo, os jogadores de Dungeons and Dragons antes da Internet eram considerados como um grupo "estranho" e quase secreto) há 30 anos atrás."


- O perigo da fraude intelectual (ex.: plágio) aumentou com o advento da internet?

Quanto à prática de plágio, respondi da seguinte forma:
"Sem dúvida que sim.
Cada vez mais assistimos a um número preocupantemente crescente de utilização de material escrito ou multimédia produzido por terceiros, sem a indispensável citação ou referência, muitas vezes com a intenção de atalhar caminho e poupar esforços, seja em contexto académico, jornalístico ou na produção de conhecimento.
A tentação de evitar horas, quando não semanas ou meses, de árduo, e por vezes penoso, trabalho de estudo e reflexão é enorme. Mesmo a tarefa de redigir o texto copiado é evitável, recorrendo ao "copy/paste".
E esta tendência manifesta-se desde o mais elementar trabalho do ensino básico ou preparatório, até ao nível de Teses de Mestrado ou de Doutoramento, como por diversas vezes já foi detectado.
Em todos os casos de indevida ou incorrecta utilização da Internet, a responsabilidade está, a meu ver, muito mais na natureza humana do que na tecnologia em si.
Os parágrafos que citei acima, recolhidos do artigo citado, encerram a postura que a comunidade académica deve assumir em relação à fraude intelectual, estigmatizando e ostracizando aqueles que recorrerem a esta prática.
É, porém, necessário que os professores, desde a escolaridade mais precoce, alertem os seus alunos para a 'armadilha' que esta prática constitui, tentando, assim, evitar que este hábito se instale, e pior, que passe impune."


Joaquim:
"Sempre houve plágio mas penso que a ideia geralmente aceite é que ele tem vindo a aumentar, o que explicaria o aparecimento de software para a detecção de plágios (...)
Se a ideia de se utilizar o trabalho de outra pessoa (no todo ou em parte) sem o referir não é nova, o que mudou foi o fácil acesso ao gigantesco manancial de informação que é a Internet. Recentemente soube do caso de um trabalho universitário que era uma tradução integral de um artigo de uma revista australiana, algo que teria sido praticamente impensável antes da existência da Internet (qual teria sido a probabilidade de um estudante português nos tempos pré-internet saber sequer da existência de uma revista publicada na Austrália? Não impossível, mas certamente muitíssimo remota).
Mas a existência desta informação disponível não pode ser a única causa para os plágios com recurso à Internet.
A percepção que eu tenho é de que há efectivamente um aumento dos casos de plágio.
O caso dos sites que vendem trabalhos é realmente um negócio que corre de vento em poupa na net (li algures que, só nos Estados Unidos, existem mais de 200 destes sites). Lembro-me de uma vez ter consultado um e realmente havia quase de tudo para quase todos os gostos e à la carte. Tecnicamente não será um plágio porque os autores foram pagos pelo seu trabalho mas é certamente desonesto.
Concordo com a Margarida em relação ao papel importante dos professores neste assunto (mas temos de concordar que é uma guerra difícil)."


Margarida:
"Eu também tenho a noção que há mais plágio com a Internet, apesar de sempre ter existido.
(...) o plágio não é levado a sério. As pessoas copiam e deixam-se copiar como se isso fosse normal. Fazem isso na escola e estão tão habituados que continuam pela vida fora, na vida profissional. Mas o plágio é um crime.
As pessoas acham que tirar alguma coisa da internet não é grave porque a internet é pública. Mas o facto de uma informação ou um estudo se tornar público na internet não significa que não tenha direitos de autor.
A culpa do plágio não é da internet, mas das pessoas sem ética que a utilizam. Mas se não houvesse uma internet tão generalizada, o plágio não era tão fácil. Como evitar que ele aconteça é que é difícil. Pode-se tentar fazer com que as pessoas sejam mais conscientes, mas não sei se todos querem sê-lo.
Os professores têm um papel importante em tentar desenvolver o espírito cívico dos futuros cidadãos. Para além de explicar porque é que o plágio está errado, é importante mostrar que ele não é valorizado. A atitude da Helena está certa. Devolver um trabalho plagiado com a nota de 0 valores mostra ao aluno que é um crime sem recompensa. É possível que assim ele aprenda que não deve repetir essa cópia ilegal. E se o professor valorizar bastante os trabalhos em que se os alunos dão a sua opinião pessoal, em que mostram que são criativos na maneira como usam a informação, pode ser que eles se sintam menos motivados a fazer plágio."


Denyze:
"Concordo com os colegas quando afirmam que o plágio sempre existiu, o que mudou é que com a internet o acesso e a velocidade com que tudo pode ser encontrado é o que fez com que a fraude intelectual aumentasse.
A tecnologia não tem responsabilidade pela expansão destes casos, esses padrões de comportamento têm relação com aspectos éticos e morais. Não só o plágio, como a pirataria existem porque encontram na sociedade uma parcela de pessoas predispostas e que não vêem problema no uso livre de que está na internet.
A pesquisa apresentada pela Margarida reforça que plágio, mesmo sendo crime, não é levado a sério, é um fato usual na vida das pessoas.
Não seria este padrão social que vem sendo imposto com mais força pelo uso das tecnologias uma amostra de que precisamos evoluir com a Cibercultura, levantando bandeiras como a ética e a moral?"


Helena:
"Depois de ler os posts sobre a parte do plágio, dei por mim a pensar nos sites que vendem ensaios por encomenda e num caso em França em que o ministério da educação mandou encerrar um site que vendia trabalhos de casa! Portanto, como atitude moral é de todo criticável, é uma fraude. Como negócio parece que vai de vento em popa.
Isso deixa-me enquanto professora e também como aluna um tanto confusa, porque a verdade dos factos é inegável. Então como é que podemos gerir isso? E geri-lo numa sociedade onde a informação é cada vez mais acessível e fácil de usar e plagiar. Copiar um trabalho ou partes de texto daqui e dali tem sido a forma mais usual neste últimos tempos de se fazer "trabalho de pesquisa"!
Já nem sei quantos trabalhos devolvi com nota 0, devido a este facilitismo.
É uma questão preocupante, a facilidade com qualquer pessoa pode fazer passar por seu aquilo que pertence aos outros. Parece-me que esta noção de propriedade intelectual é ainda algo que precisa de ser interiorizado.
Será que na nossa sociedade actual podemos simplesmente chamar plágio ao corte e costura, à colagem e à citação ou estamos perante um modo de procedimento que se vai generalizando, porque a tecnologia assim o permite? Neste caso, podemos aceitar um trabalho feito desta forma como válido? Com que critérios?"



- É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?

No que diz respeito a esta questão, comecei por escrever:
"A resposta dependerá, obviamente, do conceito de "controlar" que considerarmos.
Se entendermos "controlar" como uma forma de tecnicamente administrar e superintender a rede, nomeadamente, decidir quem pode ou não a ela ter acesso, ou de censurar o seu conteúdo, a resposta será: Não.
Porém, o controlo poderá ser feito de formas mais subtis, mas eficazes, como, por exemplo, utilizar a rede para propaganda, desinformação, ou mesmo intoxicação da opinião pública.
O que teriam feito Salazar e António Ferro, ou Hitler e Goebbles, se no seu tempo existisse a Internet?
Outros exemplos de controlo exercido através da Internet serão o recrutamento de jovens bombistas suicidas recorrendo aos websites utilizados para esse efeito, ou as comunidades virtuais onde se estimula o ódio fundamentalista e onde se ensina a produzir engenhos explosivos caseiros.
Há, de facto, diversas tentativas para controlar a rede. Mas a Humanidade já aprendeu a viver com isso. Desde sempre os povos tentaram contornar os caminhos cerceados para a informação e para cultura, mesmo correndo o risco de vida, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial, onde quem fosse surpreendido a ouvir a BBC na rádio era sumariamente fuzilado pela Gestapo, ou em Portugal, nos tempos em que possuir livros de autores "subversivos" era sinónimo de sérios problemas com a PIDE.
Felizmente que hoje é reduzido o número de pessoas a quem é barrado o acesso à Internet.
Hoje temos a liberdade como algo adquirido e isso faz-nos esquecer os povos que não a possuem.
Uma das vantagens da rede mundial é que tecnicamente é muito mais difícil sobre ela exercer a censura. O lápis azul aqui é muito menos eficiente."


Joaquim:
"O Fernando colocou uma questão interessante: qual o conceito de "controlar". Para podermos continuar proponho a seguinte definição: capacidade de impedir ou limitar o acesso à rede bem como definir os conteúdos permitidos através da censura.
Devido ao facto de a Internet, desde a sua origem, não ter centro (aliás, a ideia era que as comunicações pudessem continuar a funcionar em caso de um ataque nuclear) mas ser uma rede de redes em que cada nó é independente dá a ideia de que a internet não pode ser controlada. Esta ideia não é inteiramente verdadeira. Dois casos, extremos, podem ser citados: a China e a Coreia do Norte (mas também o Irão e outros países fundamentalistas) que limitam (não a 100% é certo, mas trata-se de um limite) o acesso dos seus cidadãos à rede. Mas não pensemos que estes casos só existem em países não democráticos. Basta lembrarmo-nos da proposta de lei francesa sobre o corte do acesso à Internet para quem seja apanhado a fazer downloads ilegais ou a proposta de Lei S.773 do Senado americano que atribuía ao presidente o poder de assumir o controle temporário das redes privadas e desligar computadores privados da Internet (...).
O problema de quem controla a Internet é actualmente um tema de acesa discussão (...) já que o ICANN (Internet Assigned Names and Numbers), uma das instituições de topo da regulação da Internet, (...) é uma instituição privada americana sob supervisão do governo americano. Vários países têm tentado criar um organismo internacional à semelhança da União das Telecomunicações Internacionais mas o governo americano tem-se oposto a isso.
O controle do acesso pode ser feito por quem possua o controle dos sistemas de telecomunicações - telefone ou infraestruturas de fibra, por exemplo. Por outro lado, temos os ISPs que podem, através das suas firewalls impedir o acesso a grupos de endereços de um determinado país ou de uma empresa (penso que é isto que a China e a Coreia do Norte fazem). Um sistema autoritário que impeça os seus cidadãos de ter aceso a telefone ou ligações por cabo/fibra (como acontece na Coreia do Norte) está, efectivamente a controlar a Internet.
Quem controla o nó da rede pode controlar pelo menos uma parte dela.
Portanto, quanto à pergunta se é a possível controlar a rede penso que a resposta é sim. Quanto a quem tem esse poder é uma questão mais complexa. A nível de um país, obviamente o governo mas não devemos descartar a possibilidade de algum controlo (mesmo que ilegal) por parte dos ISPs. Como se pode ver pela proposta S.773 do Senado americano o embrião deste controle, apresentado sobre a forma de algo excepcional em tempo de crise, existe.
O que me preocupa seriamente não são os países não democráticos como a China ou a Coreia do Norte mas sim a tentação, visível nas propostas do Senado americano ou do governo francês que mencionei. Se consultarmos o artigo sobre a censura na internet da wikipédia aparecem países democráticos como a Austrália, a Bélgica, o Canadá, a Dinamarca e a Finlândia."


Margarida:
"Realmente é importante esclarecer o que quer dizer controlar a rede. Se for controlar o acesso à rede ou se for limitar o acesso a certas páginas, acho que há maneiras de conseguir isso. Certos governos totalitários já conseguiram isso. Mas nesse caso acho que estamos mais na linha de anular a rede do que de a controlar. É quase deixar que alguma coisa circule, para fingir que existe acesso a ela, mas anulando toda a filosofia por detrás da internet.
Para mim, preocupa-me mais a ideia de controlar o conteúdo da rede. Não sei se é possível. Infelizmente, há páginas com conteúdo criminoso, umas ligadas a pedofilia, a tráfico humano, a xenofobia, a terrorismo, etc. Quando essas páginas são detectadas, é feito um esforço de as retirar da rede ou de localizar quem está por detrás delas. Mas é um trabalho infeliz. A rede é tão vasta e quem a utiliza mal é tão habilidoso que consegue contornar isso e criar novas páginas sem grandes problemas.
No entanto, cada um de nós pode dar um contributo para tentar controlar a rede neste sentido. Por exemplo, em Portugal, existe a Linha Alerta - Internet Segura onde podemos denunciar um site de conteúdo ilegal. É só recorrer ao site da linha, neste endereço: http://linhaalerta.internetsegura.pt/. É um bom exercício de cidadania.


Helena:
"A Margarida levantou uma questão muito interessante em relação ao que se entende por controlo da net. Eu sempre pensei que a net era como a vida real. Têm de tudo um pouco, bom, mau, assim assim, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder. Acho que o controlo tem de ser feito pelo acesso. A que sites podemos aceder em segurança? Como nos podemos movimentar com segurança na net? Que riscos corremos ao frequentar certos sites, etc. Mas um controlo que seja baseado nos valores e interesses das pessoas.
A net expõe-nos mais que o mundo real, em muitos aspectos, pois através de programas especiais tipo os cookies, as empresas podem ver que tipo de produtos nos interessam e usar essa informação para nos mandar publicidade aos montes. Por exemplo, eu estou constantemente a receber publicidade de empresas de formação online e de sites educativos para inglês!
Tal como na vida real se aprende que espaços devemos frequentar em segurança ou que espaços nos interessam, na net é semelhante. Temos de aprender a proteger-nos. A decisão penso deve caber às pessoas a nível individual e às famílias e não aos poderes governamentais. Afinal a liberdade é um direito humano. E a responsabilidade um dever.
Exagero de protecção não me parece boa prática. Acho que devemos conviver com o que é bom e com o que é menos bom para sabermos distinguir as coisas e fazer os nossos juízos de valor. Afinal "quem não se guarda, não é bem guardado!"
A questão de quem controlo a quê na net, não é tanto uma questão moral, como económica. A Net é poder e é acima de tudo dinheiro, muito dinheiro, por isso essa questão é pertinente, para os governos e para as companhias, mais do que para os simples utilizadores. Como cidadão, podemos e devemos (na minha opinião) usar de bom senso e dos serviços do género que a Margarida sugere. Como professora, no entanto, penso que a censura prévia de sites tem duas reacções - leva a uma maior curiosidade e dai à asneira! É um pouco como o tabaco, toda a gente sabe que faz mal, bons conselhos abundam, mas todos querem experimentar! Ou leva a uma utilização da net que de certo modo é artificial, porque só mostra o que é considerado, pelos outros (pais, professores, governos, etc) como adequado e seguro. É uma posição muito paternalista e que pode trazer mais maus resultados do que bons, porque a tendência das pessoas é sempre saltar a rede!
Quem controla a rede é-me indiferente, o que é certo é que ela constitui um recurso valioso, uma ferramenta de trabalho ou um espaço de lazer a que todas as pessoas podem ter acesso. A questão da segurança é mais pertinente. Saber como agir, que procedimentos ter para estar em segurança é importante, tal como é importante na vida real. A Net é apenas mais um espaço. Saber andar neste mundo com bom senso e juízo é tão preciso como na vida real, porque o espaço pode ser virtual mas os perigos são reais."


Denyze:
"(...) concordando com o post da Helena, também penso que “a net tem de tudo um pouco, bom, mau, muito bom e muito mau, com todas as implicações morais e educativas (ou não) a questão não está no que a net tem mas no que queremos aceder”.
Tudo relacionado com a internet vem evoluindo de uma forma avassaladora, acho que estamos num momento de educarmos as novas gerações para esse mundo novo e sem volta, que com certeza traz coisas negativas, o fácil acesso ao plágio, o perigo da exposição indevida, o acesso a conteúdos ilícitos, o uso ilimitado provocando dependência a essa vida paralela e inclusive a criminalidade... afinal nos dias actuais se faz tudo pela internet. Mas por outro lado devemos considerar também os benefícios deste acesso ilimitado (se bem conduzido), as possibilidades para educação a qualquer hora e em qualquer lugar... vejam o nosso caso estou do Brasil e me sinto aí perto de vocês em nossos debates, os artigos e textos de grandes autores a que temos acesso, os simuladores que permitem situações reais em treinos de risco no caso de pilotos por exemplo, a comunicação com uma velocidade jamais imaginada... bom resumindo penso que assim como regras sociais foram criadas para nossa convivência em grupo, aos poucos regras vão sendo criadas para normalizar o uso da Rede.
Quanto à questão: É possível alguma entidade particular ou alguém (e se sim, qual ou quem) controlar a rede?
Penso que não, a não ser nos casos, muito bem lembrados pelo colega Joaquim e pala colega Margarida, de países não democráticos como, por exemplo, China e a Coreia do Norte. Até porque assim como já citado pelos colegas existem interesses económicos por trás da Rede.
Particularmente não acho que controlar é o caso, o que devemos sim é educar nossos jovens e crianças para o uso adequado da Internet. Assim como fazemos na vida o que é certo e o que é errado... o mesmo vale para o uso da tecnologia."



- Em que medida a rede é segura e em que medida a informação nela partilhada é confiável? Quem o pode garantir?

Por fim, no que toca à confiabilidade da informação contida da rede, referi o seguinte:
"Bom, parece-me preferível viver com uma desagradável certeza, do que com uma doce ilusão.
Dada a forma como a Internet foi concebida desde a sua génese e a possibilidade de qualquer pessoa ou entidade poder publicar conteúdos, sobretudo desde o "advento" da Web 2.0, não é "oficialmente" possível autenticar ou validar a informação nem a sua transparência ou qualidade, nem é possível garantir a idoneidade da utilização dessa informação.
Mas é aqui, precisamente, que residem os elementos mais valiosos e preciosos da Internet.
É certo que a rede não é segura e a informação nela partilhada não é confiável. Contudo, são estas características intrínsecas da Internet que fazem com o eterno e sempre presente apetite por parte de Estados, governos, ou outras entidades e indivíduos, de controlar e utilizar em seu proveito os meios de comunicação não posso ser totalmente posto em prática na rede mundial."


Joaquim:
"Quanto à segunda questão colocada pelo professor concordo com o Fernando. Na era da Web 2.0 em que não são precisos grandes conhecimentos para colocar informação na rede é praticamente impossível autenticar ou validar a informação bem como a sua qualidade a não ser em caso muito pontuais como a Wikipédia (mesmo assim com falhas) ou sites de entidades científicas como as universidades ou institutos.
Em relação à segurança acho que a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos: não divulgar informação demasiado pessoal ou colocar fotografias comprometedoras, por exemplo (algo que, por vezes, é difícil fazer os nossos alunos entender). É claro que com o aumento do comércio online e a deslocação de cada vez mais serviços públicos para a net a segurança dos dados é um problema importante.
A Helena coloca a questão "em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade" e acho que é bom reflectirmos um pouco sobre isso. Os mass media são, de certa forma, como a primeira web: há um grupo restrito de pessoas que têm acesso à publicação. Por exemplo, se eu quiser publicar um livro e não conseguir uma editora para o fazer isso ir-me-á custar aproximadamente €1000 por uma tiragem de 200 exemplares que poderão, eventualmente, vir a ser vendidos. A publicação do mesmo trabalho na net (com um número potencial de leitores bastante grande) terá custo zero, o que significa que a percentagem de pessoas que podem publicar algo é agora a mais alta da História e como não há nenhum controlo prévio a capacidade de reconhecer a veracidade da informação a que acedemos é muito importante.
É claro que nem tudo o que é publicado nos mass media tradicionais é fiável (há jornais, revistas e livros que devem ser lidos com uma boa dose de desconfiança) mas a quantidade de informação é agora tão gigantesca (em 2002, a quantidade de nova informação difundida através dos vários media foi de 5 exabytes ou seja 5,000,000,000,000,000,000 - ou 5 mil milhões de gigabytes) que é um verdadeiro problema."


Margarida:
"O Joaquim põe outra questão que também me preocupa, que é a segurança da rede no sentido de termos os nossos dados seguros. Não acho que a rede seja segura, pois os piratas que circulam nela são muito perigosos. Não sinto segurança para fazer compras pela internet se tiver de colocar dados meus como o nº de contribuinte ou de cartão de crédito, pois esses dados podem ser detectados por esses piratas e mal utilizados. Mas no site das Finanças acaba por estar toda a nossa informação. Acaba por ser um risco, mas espera-se que esse site seja seguro. Se formos a pensar nisso tudo, só temos duas hipóteses: ou usamos a rede sabendo que há alguns riscos e por isso tentamos ter um comportamento seguro evitando colocar os nossos dados em sites não oficiais, ou simplesmente não usamos a rede a não ser para procurar informações. Mas acho que as facilidades que a rede dá acabam por nos fazer optar pela primeira hipótese.
A Helena pergunta por que razão a net é menos fiável que os outros mass media. Realmente os outros mass media também não são todos fiáveis. Temos de saber escolher aqueles em que podemos confiar e aqueles em que não podemos. O problema da net é que está disponível para mais pessoas. Até as crianças a usam e isso já pode tornar a net mais perigosa.
Por isso é que é importante que os pais e os professores ensinem as crianças a usar a rede em segurança.
Tal como o Fernando diz, a internet permite que qualquer pessoa ou entidade possa publicar conteúdos. É isso que caracteriza a rede. Mas isso não significa que não podemos confiar na informação que encontramos na rede. Não podemos é confiar em toda a informação. Temos de usar os sites ligados a entidades e empresas responsáveis quando queremos procurar informações de confiança. Temos é de nos lembrar que a rede não funciona só para dar informações. Também serve para as pessoas partilharem pontos de vista. Nesses espaços de partilha o que é dito pode não ser fiável, mas não é por isso que não devem existir."


Helena:
"Procurando responder a segunda questão, (...) ponho outra questão: em que medida é que a informação difundida pelos clássicos mass media é fiável e que garante essa fiabilidade?
Porque razão a net é menos fiável que os outros mass media?
Acho que tudo depende dos sites e das comunidades online. Há sites em que a confiança é dada pelo facto de estarem associados a prestigiadas instituições e por isso confiamos neles, sem reservas. Talvez por isso eles sejam óptimos para o fishing! Como aconteceu com o portal das finanças e com a Porto Editora.
Concordo com o Joaquim. De facto, muitos sites na net são extensões dessas instituições e são uma forma de apresentação pública e de publicidade. Por isso a informação neles contida será fiável, para bem da própria instituição. Sendo assim podemos confiar neles e na autenticidade das informações que disponibilizam. Nada como o prestígio da instituição para garantir a autenticidade das informações. Isso é tão valido para a net como para o mundo real.
No entanto, se formos por natureza desconfiados, nada é fiável. Tudo pode ser questionado. Mesmo sem ser na net, sabemos que os mass media clássicos manipulam a informação, mas continuam a sua missão de informar! Não é pelo facto de estar escrito que é verdade, nem pelo facto de passar em filme na TV que se pode acreditar sem reservas. Em última análise "A verdade é aquilo em que acreditamos".
Na net qualquer pessoa pode publicar o conteúdo que quiser. No entanto, os sites institucionais e os news grupos são regulados por mecanismos que garantem a fiabilidade das informações publicadas. A questão, parece-me, está também na capacidade de se perceber a diferença entre factos e opiniões. E de se filtrar a informação pertinente. Na net é talvez mais difícil porque somos submersos em informação que é muitas vezes contraditória.
Precisamos de afinar as nossas capacidades de filtragem, interpretação e juízos.
É preciso ensinar as crianças e já agora os adultos também a usar a net em segurança. Se bem que as questões de segurança não se prendem só com os filtros e os sistemas de protecção de acesso aos sites, mas e acima de tudo das pessoas saberem usar a net para seu benefício e saberem comportar-se. Isso aplica-se também na vida real - não fales com estranhos, não dês informações pessoais a estranhos, não te encontres sozinho com pessoas que conheces mal ou não conheces de todo.
Quantas pessoas adultas também não são vítimas de todo o tipo de enganos e assédios via net?
O perigo não está na Net em si, mas no uso que as pessoas fazem dela. Estamos perante um meio de comunicação bilateral muito poderoso porque pode ser multimédia e que ainda é muito novo na vida das pessoas. Através dele fazem-se as coisas mais estranhas. Mas fazem-se porque as pessoas assim querem ou deixam. É preciso saber dizer não. Desligar o site ou o computador quando for preciso.
O perigo real está nas relações que se estabelecem e elas podem ser estabelecidas por meio da net ou por meio do telemóvel por exemplo. Ou noutro espaço qualquer.
Saber estar seja em que situação for com bom senso e juízo é sempre aconselhável!"


Denyze:
"Realmente, a segurança na rede é um assunto que preocupa governos, serviços públicos, privados e até mesmo a própria polícia que vem tendo que se adaptar para investigar crimes que utilizam a Internet como cenário.
Concordo com a afirmação do Joaquim, “a Internet pode ser um local tão inseguro como partes das nossas cidades. A questão está em sabermos reconhecer esses perigos.”
Quanto a informação confiável depende do local onde estamos acessando, conforme já dito aqui pelos demais colegas, estes devem estar associados a prestigiadas instituições... mas mesmo assim quem pode garantir? Não acho que esta resposta pode ser dada, afinal garantia, não temos.
O que acho impressionante é que mesmo com todos estes riscos as operações comerciais pela rede e a divulgação de perfis pessoais e comunidades de relacionamento crescem a cada dia; temos que conviver com a Cibercultura sendo educados para este mundo, pois os que nascem neste novo tempo (nativos digitais) vêem a rede como parte de sua vida e sendo assim ambiente seguro, onde tudo é possível, o que pode muitas vezes ser perigoso."

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