O FÓRUM DA PLATAFORMA MOODLE E O CONECTIVISMO
Resumo:
Este trabalho tem como objectivos demonstrar que, no contexto da utilização das tecnologias na educação, o fórum constitui uma ferramenta privilegiada de Comunicação Educacional, passível de ser usada com sucesso numa estratégia de aprendizagem, e justificar que a utilização de um fórum, no âmbito do ensino a distância, se enquadra na Teoria do Conectivismo, de George Siemens.
Palavras chave: Fórum, Moodle, LMS, Conectivismo
Introdução:
A fim de poder estabelecer o paralelismo pretendido entre o Conectivismo e uma experiência de uso do fórum do Moodle para realização de práticas de leitura e escrita, penso ser oportuno começar por dar a conhecer a Plataforma Moodle, o seu fórum e a Teoria do Conectivismo.
A Plataforma Moodle
O Moodle, acrónimo para Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente de aprendizagem dinâmico modular e orientado a objectos), é um Sistema de Gestão de Aprendizagem (SGA), também designado por Learning Management System (LMS), Course Management System (CMS), ou Virtual Learning Environment (VLE), e consiste numa plataforma de e-learning acessível através da Internet ou de uma rede local, organizada em torno de um conjunto de ferramentas de cariz construtivista.
O Moodle dispõe das funcionalidades habituais de uma plataforma de e-learning (fóruns, chats, wikis, blogs, testes, inquéritos, workshops, glossários, etc.), as quais podem facilmente ser disponibilizadas em qualquer disciplina.
As plataformas e-learning permitem que professores sem competências específicas de programação possam criar e gerir disciplinas, onde alunos devidamente autorizados podem entrar, aceder a informação, interagir, partilhar e colaborar uns com os outros.
O Moodle permite a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas, grupos de trabalho colaborativo e comunidades de aprendizagem.
Foi criado em 1999, na Curtin University of Technology, em Perth, na Austrália, por Martin Dougiamas, com o objectivo de promover um espaço de colaboração, onde os seus utilizadores poderiam permutar saberes, numa grande comunidade aberta.
O Moodle foi desenhado para ser flexível, modificável e compatível. Foi escrito usando a linguagem PHP (Hypertext Preprocessor), e é distribuído livremente na forma de Open Source Software (OSS), sob Licença de Software Livre GNU Public License (GPL).
O Moodle distingue-se de outras plataformas por enfatizar o facto de os alunos (e não apenas os professores) poderem contribuir para a experiência de aprendizagem, participando activamente de diversas formas (e não tanto a publicação de informação por parte do professor), o que resulta numa melhor aprendizagem na perspectiva do aprendente.
O Moodle tornou-se um enorme fenómeno a nível mundial, tornando-se a mais popular de entre as plataformas de e-learning comerciais, graças à sua filosofia inovadora e à sua facilidade de utilização.
Esta plataforma, traduzida em mais de 60 idiomas, é usada em contextos de e-learning, b-learning, ou como complemento de formação presencial, por mais de 45.000 alunos, dispersos por cerca de 200 países, incluindo empresas, escolas e universidades.
O Fórum do Moodle
De entre as funcionalidades que o Moodle possui, o Fórum é, sem dúvida, uma das mais importantes e utilizadas.
É nesta actividade que tem lugar a interacção, o debate e a discussão entre os participantes de um curso, sobre variados assuntos, bem como a partilha de ideias e de recursos, o esclarecimento de dúvidas e a divulgação de avisos e outras informações.
A participação nos fóruns, no ensino a distância, é fundamental para a construção do grupo, dado que é através dele que os participantes conversam sobre várias questões e assuntos pertinentes. Contudo, poderá ser, também, um espaço de convívio e socialização, onde os participantes têm a possibilidade de se conhecer melhor, o que reforça a Presença Social de cada um dos elementos do grupo.
No Moodle, a actividade do fórum caracteriza-se do seguinte modo:
• A comunicação é efectuada através de mensagens escritas.
• A comunicação é assíncrona, isto é, a troca de mensagens entre os participantes é realizada sem necessidade de estes estarem online em simultâneo.
• As mensagens estão organizadas de forma hierárquica em temas (mensagens principais que originam um debate ou conversação) e respostas (aos temas e às próprias respostas).
• As mensagens podem ser visualizadas pelos participantes, em qualquer momento, através da plataforma.
• Os participantes têm a opção de receber e enviar cópias das novas mensagens via e-mail para todos os que estão inscritos no curso.
A página inicial do fórum exibe os diferentes temas publicados e apresenta os tópicos de discussão em curso.
Um participante de uma disciplina pode ou não ser subscritor de um fórum da disciplina.
Um participante subscritor pode consultar as mensagens do fórum através da plataforma e recebe no seu e-mail as novas mensagens inseridas naquele fórum. Um participante não subscritor detém igualmente a primeira possibilidade, mas não a segunda.
A plataforma Moodle possibilita quatro tipos de fórum:
• No primeiro, cada participante propõe um tema de discussão. Permite que cada participante possa abrir apenas um novo tópico. Porém, todos podem responder livremente, sem limite de intervenções.
• O Fórum de perguntas e respostas permite propor vários temas de discussão (questões) e responder aos temas apresentados pelos outros participantes. No entanto, as respostas dos outros participantes a cada tema só são visíveis depois de o aluno submeter a sua própria.
• O Fórum padrão de utilização geral possibilita propor vários temas de discussão e responder aos temas apresentados pelos outros participantes. Este fórum, por ser um fórum aberto, permite que todos os participantes possam iniciar um novo tópico de discussão quando desejarem.
• O Fórum de um único tema apresenta uma única discussão simples: o tópico do fórum aparece numa única página. É utilizado, habitualmente, para organizar discussões breves centradas numa temática precisa.
Segundo o artigo Handbook of Emerging Technologies for Learning, de George Siemens e Peter Tittenberger, 2009, "New technologies can be grouped by their affordances - action potential - in six categories:
• Access resources
• Declare or state presence (as currently online or in declaring physical proximity through GPS)
• Expression through tools such as Second Life or profile features of most social networking site
• Creation of new content and resources through blogs and wikis
• Interaction with others through asynchronous and synchronous tools like discussion forums, Twitter, Skype, Elgg
• Aggregation of resources and relationships through Facebook, iGoogle, or NetVibes."
Assim, presença, criação e interacção constituem as affordances que poderemos observar num fórum.
A Teoria do Conectivismo
O Conectivismo é uma teoria proposta por George Siemens, em 2004, centrada na aprendizagem orientada para os novos contextos educativos, na actual e conturbada era digital, com um cada vez maior impacto da aprendizagem informal e uma crescente mobilidade dos aprendentes.
Segundo esta teoria, a aprendizagem é um processo que ocorre num ambiente onde os elementos fundamentais estão em constante alteração. Assim, a aprendizagem pode residir fora do ser humano e as conexões que nos capacitam a aprender mais são mais importantes que os nossos conhecimentos actuais. Ou seja, a habilidade de aprender o que vamos precisar amanhã é mais importante do que aquilo que sabemos hoje. A aprendizagem leva a que o “saber como” e o “saber o quê” sejam substituídos pelo “saber onde”. Uma vez que já não é possível ter, de antemão, todo o conhecimento necessário para a resolução de um problema, torna-se imperioso saber onde se situa o conhecimento adicional e explorá-lo. Neste quadro, o que é relevante para um indivíduo é a sua rede de conexões com os nós do conhecimento.
De acordo com Siemens, no seu artigo Connectivism: A Learning Theory for the Digital Age, Dezembro, 2004, "Connectivism is the integration of principles explored by chaos, network, and complexity and self-organization theories. Learning is a process that occurs within nebulous environments of shifting core elements - not entirely under the control of the individual. Learning (defined as actionable knowledge) can reside outside of ourselves (within an organization or a database), is focused on connecting specialized information sets, and the connections that enable us to learn more are more important than our current state of knowing.
Connectivism is driven by the understanding that decisions are based on rapidly altering foundations. New information is continually being acquired and the ability to draw distinctions between important and unimportant information is vital. Also critical is the ability to recognize when new information alters the landscape based on decisions made yesterday
Principles of Connectivism:
• Learning and knowledge rests in diversity of opinions.
• Learning is a process of connecting specialized nodes or information sources.
• Learning may reside in non-human appliances.
• Capacity to know more is more critical than what is currently known.
• Nurturing and maintaining connections is needed to facilitate continual learning.
• Ability to see connections between fields, ideas, and concepts is a core skill.
• Currency (accurate, up-to-date knowledge) is the intent of all connectivist learning activities.
• Decision-making is itself a learning process. Choosing what to learn and the meaning of incoming information is seen through the lens of a shifting reality. While there is a right answer now, it may be wrong tomorrow due to alterations in the information climate affecting the decision."
Desenvolvimento:
Paralelismo entre uma experiência de uso do fórum do Moodle para realização de práticas de leitura e escrita e o Conectivismo
O livro Moodle: Estratégias Pedagógicas e Estudos de Caso "disponibiliza os resultados de investigações realizadas por pesquisadores vinculados a instituições brasileiras, espanholas, inglesas, portuguesas e australianas que quotidianamente constroem diferentes sentidos para o Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle."
No capítulo Tecendo saberes na rede: o Moodle como espaço significativo de leitura e escrita, "a autora Obdália Ferraz discute e relata uma experiência de uso de algumas interfaces do Moodle - fórum, chat, diário e wiki - para realização de práticas de leitura e escrita, no contexto académico."
É esta obra (e este capítulo, em particular) que pretendo utilizar como caso real, com o objectivo de demonstrar que, no contexto da utilização das tecnologias na educação, o fórum constitui uma ferramenta privilegiada de Comunicação Educacional, passível de ser usada com sucesso numa estratégia para a aprendizagem.
O outro objectivo deste trabalho prende-se com a justificação de como a utilização de um fórum, num contexto de ensino a distância, se enquadra na Teoria do Conectivismo, elaborada, em 2004, por George Siemens.
Neste sentido, irei produzir breves comentários a excertos do referido capítulo, contextualizando-os nos objectivos que acabei de enunciar.
"As actividades de leitura e escrita no Moodle poderão ser de grande importância no auxílio à construção do conhecimento e no engendramento de propostas que possam dinamizar o ensino-aprendizagem da leitura e escrita, a fim de que estas se tornem práticas enraizadas na vida dos sujeitos aprendentes. Através das interfaces fórum, chat, diário, wiki, o Moodle poderá promover, entre os sujeitos que nele vivenciam a leitura e escrita, um novo modo de experimentar essas práticas, que se apresentam de forma plurivocal, inacabada, sugerindo continuidade, construção infinita."
Na utilização de um fórum, a aprendizagem e o conhecimento residem inequivocamente na multiplicidade de opiniões, possibilitando a troca de ideias, conceitos, reflexões e sensibilidades, o que irá possibilitar a construção do conhecimento da forma plurivocal referida pela autora.
Apesar da diversidade de opiniões, é primordial o rigor da informação publicada, elemento fundamental de todas as actividades de aprendizagem conectivistas.
"O Moodle tem proporcionado um diálogo entre seus interlocutores através de suas interfaces fórum, chat e wiki, favorecendo o exercício da interação, pondo em prática o princípio constitutivo da linguagem, que é o dialogismo."
Os fóruns, tirando partido das suas affordances, Presença, Criação e Interacção, poderão, assim, ser usados para o diálogo, a interacção e o intercâmbio, produzindo um movimento dialógico entre textos, o dialogismo de Mikhail Bakhtin.
"As interfaces do Moodle são amigáveis e podem constituir dinâmicos cenários de leitura/escrita, nos quais os sujeitos interagem, mediados pela linguagem hipermediática. Fórum, chat, diário e wiki foram interfaces do Moodle utilizadas para colocar a leitura e escrita digital em prática - a escrita nos fóruns e wikis ganharam um formato hipertextual -, propiciando aos sujeitos envolvidos construir conhecimentos, na interação com os outros co-autores no processo de aprendizagem. Essa atividade conjunta propiciou aos participantes escrever e reescrever textos e, portanto, intervir nos conteúdos, sugerir novos caminhos, de modo que compartilhavam, além do sentimento comunitário, a construção social de um hipertexto."
Sendo a aprendizagem, de acordo com George Siemens, o processo de estabelecer ligações, crescer e navegar em redes, a utilização da linguagem hipermediática e do formato hipertextual num fórum irá nutrir e aprofundar relações e conexões, necessárias para a facilitação da aprendizagem.
Este processo de aprendizagem, sustentado em fóruns, recorre ao acesso a nós especializados e a fontes de informação, onde o conhecimento e a cognição são distribuídos através de redes de pessoas e tecnologia.
"A primeira experiência de leitura e produção de texto realizada nos fóruns permitiu que, a partir da vivência em grupo, da interlocução em rede, através de uma metodologia de problematização, se estabelecesse entre os sujeitos envolvidos uma dinâmica comunicacional, na qual aprofundaram temas a partir de leituras prévias, fazendo aflorar outras discussões. (...) Durante cinco fóruns realizados, percebemos que se estabeleceu entre os sujeitos uma relação de respeito à diferença e respeito ao que o outro é e expressa."
Segundo Siemens, a aprendizagem já não é uma actividade individualista, mas sim colaborativa e colectiva. É justamente nessa vivência em grupo e nessa interlocução em rede, com o necessário respeito pelos outros intervenientes, que o fórum se revela uma ferramenta privilegiada para estabelecer a dinâmica comunicacional que possibilita a problematização das diversas questões em colocadas a debate, bem como a discussão que poderá permitirá chegar a conclusões e a consensos.
"Essas tessituras de sentido, presentificadas nos diálogos, tanto nos chats como nos fóruns, revelavam dos sujeitos participantes as necessidades de "dizer", ainda silenciadas no espaço escolar convencional, os saberes, desejos e valores que não cabem no espaço dos cadernos e deveres escolares."
A Teoria do Conectivismo refere que a aprendizagem é um processo que ocorre em ambientes nebulosos de elementos fundamentais em transformação. É precisamente nesta profunda diferença entre o espaço escolar convencional e este novo e aliciante ambiente nebuloso, em constante ebulição, de redes de pessoas e tecnologia que reside um dos principais motivos da adesão massiva de indivíduos que escolhem o ensino a distância como forma de prosseguir o seu percurso académico.
"O Moodle se caracterizou, para os sujeitos, nessas vivências de leitura/escrita, como propositor de actividades criativas, nas quais professor - que tem o papel de mediador - e alunos tiveram oportunidade de navegar, modificar, interrogar, dialogar. Os graduandos não se posicionaram apenas como consumidores de informação, mas como produtores na construção social do conhecimento, uma vez que interferiram, modificaram, acrescentaram, organizaram a estrutura das produções realizadas, individual ou colectivamente. (...) O AVA possibilitou a manifestação da autoria/co-autoria por parte de alguns dos sujeitos participantes, que ousaram sair da condição de receptores de informações para assumirem uma postura de questionamento, investigação e pesquisa nos momentos de discussão nos fóruns e chats."
O facto de os aprendentes poderem abandonar o tradicional papel de consumidores e receptores de informação e passarem a contribuir activamente para a experiência de aprendizagem, questionando, investigando, pesquisando, produzindo e publicando (eles próprios, e não apenas os professores) conteúdos é, indiscutivelmente, uma das maiores virtudes da plataforma Moodle.
"A experiência nos apontou a necessidade de que haja, paralelamente à escrita colaborativa, principalmente se essa for totalmente a distância, outro canal de comunicação, seja a partir da interface síncrona - o chat - seja da interface assíncrona - o fórum -, a fim de que o grupo possa discutir as dificuldades e avanços, a interação entre os co-autores e sobre o texto que está sendo construído."
Com efeito, num fórum, a comunicação é assíncrona, isto é, a troca de mensagens entre os participantes é realizada sem necessidade de estes estarem online em simultâneo. Este facto potencia enormemente a comunicação entre os elementos de uma comunidade de aprendizagem, dado que cada elemento não fica dependente da disponibilidade de outros para participar nos debates e efectuar as suas contribuições no fórum.
"O Moodle dispõe de um conjunto de ferramentas que podem ser seleccionadas pelo professor de acordo com seus objectivos pedagógicos. Dessa forma podemos conceber cursos que utilizem fóruns, diários, chats, questionários, textos wiki, objectos de aprendizagem sob o padrão SCORM, publicar materiais de quaisquer tipos de arquivos, dentre outras funcionalidades."
O "saber como" e o "saber o quê" foram substituídos pelo "saber onde", princípio tão caro a Siemens e indispensável actualmente em qualquer actividade de ensino/aprendizagem. Neste sentido, o enorme manancial de informação produzido no universo dos fóruns e os objectos de aprendizagem que têm vindo a ser desenvolvidos tirando partido das inúmeras ferramentas e dos múltiplos serviços da Web 2.0 constituem um inestimável e gigantesco recurso que irá permitir uma frutuosa e efectiva actualização do conhecimento.
Conclusão:
Em face do exposto, penso que poderemos estabelecer que a utilização do fórum, num contexto de aprendizagem a distância, cumpre os princípios enunciados na Teoria do Conectivismo, constituindo-se como uma ferramenta muitíssimo válida num proveitoso processo de aprendizagem.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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