domingo, 13 de junho de 2010

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE

Temática: A REDE COMO INTERFACE EDUCATIVO (II)

 
Actividade 6: Debate sobre o Futuro da Aprendizagem

Aqui deixo a minha reflexão em relação às últimas questões que nos foram colocadas.


Quais serão, afinal, as tecnologias mais interessantes para o desenvolvimento das potencialidades da aprendizagem?
Se tivesse que apostar 100 € nas tecnologias que gostaria de ver concretizadas de um futuro relativamente próximo, apostaria 80 € em conteúdos e software e 20 € em tudo o resto (nomeadamente hardware e equipamentos).
O que existe actualmente faz-me lembrar de uma criança que recebeu no Natal uma PSP caríssima, apenas com um jogo (relativamente mais barato) do qual se irá fartar, por repetidamente o jogar ao longo dos 5 anos seguintes.
Penso que nos deixámos enredar demasiadamente nas estratégias do marketing extremamente agressivo e suges-tivo, que nos gera constantemente necessidades que nem sempre temos. Isso levou-nos a sentir que precisamos de ter sempre o último gadget, a última versão seja do que for, ou o state of the art em qualquer domínio.
Mas será que temos mesmo? Será que isso é consentâneo com a realidade económica e financeira do nosso país e do nosso sistema de ensino?
Parece-me que a atitude sensata a tomar, neste aspecto, será tentar fazer a melhor omeleta possível com os ovos de que dispomos, ao invés de exigir continuamente mais ovos, uma melhor frigideira ou um fogão mais recente.
E isso passa por aproveitar melhor o parque informático existente actualmente, tirando melhor e mais eficaz partido dos meios de que dispomos.
Um caminho possível será o de fomentar a criação de mais e melhores conteúdos, à medida da nossa realidade cultural e da nossa identidade, e de acordo com as nossas necessidades específicas e envolver universidades, escolas e centros de formação, bem como os seus professores, formadores e alunos.

Como se deve desenvolver a preparação dos estudantes e professores para a boa e eficaz utilização da tecnologia?
Na preparação e formação dos professores, parece-me necessário que haja um maior esforço e investimento financeiro e de tempo por parte destes. Não recuso a ideia de que poderá haver um conjunto de acções de forma-ção promovidas (ou pelo menos financiadas) pelo Ministério da Educação, mas cabe a qualquer trabalhador diligenciar no sentido de se actualizar e investir na sua formação.
O que diríamos, enquanto clientes, de um ortopedista ou de um cardiologista que, por desconhecer as técnicas e os métodos mais recentes e mais eficazes, não conduziu correctamente a nossa avaliação, diagnóstico e terapia?
Provavelmente, chamar-lhe-íamos incompetente.
O mesmo acontece connosco, professores e formadores. Teremos que ser nós a conduzir o nosso processo de constante formação ao longo do nosso percurso profissional e não estar à espera que um qualquer D. Sebastião saia do nevoeiro para nos suprir essa necessidade.
É certo que isso irá ser oneroso e consumirá tempo que talvez preferíssemos dedicar à família, ao lazer, ou simplesmente ao descanso, mas é o preço a pagar para nos mantermos actualizados e à altura do que de nós é exigido.

Qual o papel do planeamento estratégico na disseminação institucional da utilização da tecnologia em educação?
Habitualmente, ouvimos dizer que a maior capacidade dos portugueses, enquanto povo, é a sua enorme capacidade de "desenrasque" (expressão tão portuguesa!). Ora, essa não é a nossa maior virtude, é o nosso pior defeito.
Somos incapazes de estudar, prever, simular, testar, projectar, planear. E, depois, temos que trabalhar em cima do joelho, navegar à vista sem rumo correctamente traçado, em suma, "desenrascar".
Não pretendo ser um profeta da desgraça, mas sinto que "planeamento estratégico" é algo a que somos avessos. Nem nos soa bem. Cheira a esforço, trabalho, aborrecimento. E o sol está tão bonito e a praia aqui tão perto...
Isto tem o seu quê de cultural. Os nórdicos aprenderam ao longo dos milénios que, se na altura da chegada do Inverno, não tiverem mantimentos e combustível armazenados em quantidade suficiente, se os seus sistemas de comunicações e entreajuda não estiverem estabelecidos convenientemente e se o apoio médico e social não estiver devidamente planeado e estruturado, dificilmente sobreviverão até à Primavera seguinte.
Em contrapartida, nas regiões meridionais os povos adoptaram uma estratégia muito mais despreocupada em relação ao assegurar da sua existência, pois bastará um pontapé no coqueiro para cair a refeição seguinte. E mesmo dormindo na praia, não se morre de frio...
Mas esta postura não poderá ser implementada na preparação dos nosso jovens para a vida, em geral, e para o mercado de trabalho, em particular. Dá asneira.
Afinal, talvez aquela coisa, o "planeamento estratégico", dê jeito. Mas o que é isso e como se faz?
Bom, vamos formar algumas comissões para indagar e averiguar esse conceito. Uma no Ministério de Educação e talvez uma na Assembleia da República.
Também será necessário contratar alguns assessores, consultores e conselheiros.
E será indispensável dotar essas comissões de avultados meios, equipamentos, viaturas e administrativos, sem os quais não será possível trabalhar com dignidade.
Obviamente que umas visitas ao estrangeiro em classe executiva e com hospedagem nos melhores hotéis serão imprescindíveis para conhecer o que se faz noutros países.
Até que um belo dia um chato de um jornalista publica algo sem sentido, um ataque pessoal aos membros da comissão, levantando calúnias e referindo-se a aspectos irrelevantes como a ausência de apresentação de relatórios e resultados práticos, absurdos como incumprimento de prazos, atoardas como custos incomportáveis, etc.
O melhor será criar uma comissão de inquérito para provar que esta é uma cabala e que o referido jornal actuou de forma parcial, com o objectivo de denegrir a imagem dos envolvidos, movido por inconfessados objectivos partidários, que em nada dignificam o país nem o sistema democrático...


Olá, Helena

Aquilo que pretendi no meu post foi caricaturar a forma como a alma lusa se comporta em relação ao planeamento estratégico. Como qualquer caricatura, prima pelo exagero. No entanto, e apesar disso, creio não ter andado muito longe daquilo que se passa no nosso país no que diz respeito à forma como as coisas acontecem quando é necessário planear estrategicamente.
Não há semana em que não passe nos jornais ou nos noticiários televisivos um chorrilho de onerosas incompetências e flagrantes desonestidades na concepção e implementação de projectos faraónicos absolutamente desaconselháveis, ou mesmo inexequíveis, nos mais diversos domínios. Isto choca-me e desagrada-me profundamente.
Um país que pouco produz não se pode dar ao luxo de desbaratar os seus exíguos recursos devido a governantes e gestores incapazes, gananciosos e sem escrúpulos.
Vamos pôr de lado, neste debate, a corrupção e a desonestidade (isso será matéria para outras instâncias) e concentrarmo-nos na questão que comentaste no teu post: o planeamento versus improvisação (o termo "desenrasque" não é muito elegante, mas é seguramente mais divertido).
Referes na tua intervenção "Quanto ao dessenrascanço, é possivelmente a nossa melhor arma para lidar com a inconstância, com os imprevistos e com a velocidade vertiginosa com que a tecnologia avança e nos leva por arrasto. E nisso acho que conseguimos ser bastante bons. (...) A atitude perante a constante mudança mais saudável é mesmo essa - improvisar e desenrrascar à medida que as situações para resolver surgem. Isso não é mau, pelo contrário é até bastante bom."
Perdoa-me discordar de ti. Creio que, quanto maior forem a inconstância, os imprevistos e a velocidade dos avanços da tecnologia, mais premente se torna analisar, estudar, planear, projectar e menos margem fica para a improvisação e para o nacional porreirismo do "desculpem lá qualquer coisinha".
Permite que te dê alguns exemplos (e com eles não quero dizer que tudo o que é nacional é mau e tudo o que se faz para lá de Vilar Formoso é bom):
Considera as escandalosas derrapagens financeiras e as enormes ultrapassagens dos prazos em obras públicas como a Casa da Música e o Metro do Porto, a Ponte Europa, em Coimbra, as Portas do Mar, em Ponta Delgada, o campo de jogos da Bela Vista, em Setúbal, a Lagoa das Águas Mansas, na Madeira, as obras de revitalização do rio Este, em Braga, as novas auto-estradas, etc. (quando fui ao Google pesquisar sobre casos de derrapagens financeiras nas nossas obras públicas fiquei siderado com a sua quantidade e com os montantes envolvidos!)
Encontrei, ainda, no site da TSF (http://tsf.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=717491) esta notícia, da qual que transcrevo o início:
"Tribunal de Contas justifica derrapagem com falta de planeamento: A derrapagem financeira do orçamento da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, dos previstos 182,3 para 300,9 milhões de euros, resultou de insuficiente planeamento e orçamentação do projecto, defendeu hoje o Tribunal de Contas."
O que é preocupante é que estas anomalias não são fruto do acaso, nem do azar, nem de condições inclementes da meteorologia, mas resultantes de um sistema que está estruturado para funcionar precisamente assim (com as contrapartidas financeiras das obras suplementares) e por manifesta falta de planeamento, ou de planeamento incorrecto.
Em contrapartida, a Ponte do Milénio, sobre o Mar do Norte, ligando a Dinamarca à Suécia, foi inaugurada em 2000, pasme-se, dentro do prazo previsto, num investimento que ficou aquém do previsto e sem vítimas mortais na sua construção!
Concordo com a tua professora inglesa, quando ela diz que "nada corre exactamente como planificado." Quase sempre certo. A Lei de Murphy é implacável. Mas importa indagar porque isso acontece. Uma causa possível será um conjunto de variáveis que não são mensuráveis nem previsíveis e, como tal, estão fora do nosso controlo, e que acabam por ser prejudiciais na boa implementação do plano traçado. Outra causa que podemos considerar será um deficiente e imperfeito projecto. É aqui que, segundo a tua exposição, se torna necessária a nossa lendária capacidade de "desenrasque".
Ora, no nosso soalheiro rincão à beira-mar plantado, o que verifico é que quase sempre é a segunda causa que impera, o que nos leva a suprir os 10% correctamente planeados com 90% de "desenrascanço".
Não seria preferível o contrário? 90% correctamente projectado e 10% de improviso perante o fortuito e o imponderável?
Convictamente, penso que sim. O depauperado erário público e a nossa honestidade colectiva enquanto Estado e Povo agradeceriam.



O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias
Afigura-se-me difícil estabelecer a delimitação entre até onde deve ir o esforço do sistema de ensino, e dos professores em particular, em motivar, aliciar e tornar mais apelativa a aprendizagem para os alunos e a necessidade de fazer com que estes cumpram a sua parte no processo, ou seja, esforçarem-se por trabalhar, estudar e aprender. Não consigo, nem quero, dizer isto com metáforas ou subterfúgios.
Estaremos no bom caminho ao tentar usar a tecnologia quase exclusivamente para "agradar" aos alunos e tornar-lhes a aquisição de competências mais "simpática" e menos esforçada e trabalhosa?
Sem dúvida que a tecnologia poderá desempenhar este papel e considero, mesmo, que assim deve ser. Mas fica-me a sensação que se está a exagerar. Em última instância, o ideal supremo da utilização da tecnologia na aprendizagem seria permitir o download de conteúdos e competências directamente do suporte digital para o cérebro dos aprendentes. Isso seria, finalmente, a realização do sonho do boémio estudante de Coimbra, quando, com inveja, diz ao Rio Mondego: ditoso és tu, que segues o teu curso sem nunca saíres do leito.
É, de facto, preciso chegar aos alunos de uma forma que lhes seja agradável, que lhes desperte a atenção e, se possível, que os empolgue e estimule, mas não me parece correcto baixar o nível de exigência nem ceder a tentações de facilitismo. É imperioso que os alunos se esforcem e estudem. Já se deram demasiados passos no sentido de fazer passar a mensagem de que é possível obter resultados sem trabalho árduo. E quando digo "obter resultados" não me refiro a certificações enganosas e enganadoras.
Parece-me necessário mais bom senso e uma atitude mais reflectida e ponderada nesta matéria.
Outro dos problemas que afecta actualmente a educação prende-se com o aparecimento, digamos nos 15 anos mais recentes, deste último conjunto de novas tecnologias, que ainda não foi suficientemente integrado e digerido por todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem. O uso de qualquer tecnologia neste campo deveria ser neutra e natural por parte dos seus utilizadores, de forma a que nem se desse por ela e as atenções se pudessem centrar nos conteúdos que estivessem a ser abordados. Fala-se da tecnologia do presente (e até mesmo já com algum passado) como se fossem as tecnologias do futuro. Isto demonstra bem o quanto a sua utilização ainda está longe de ser pacífica e consensual. E que esforço imenso será necessário para que isso aconteça.
Porém, admitindo que isso tivesse sido alcançado, quantas tecnologias ainda mais recentes não teriam surgido já, tornando os recém-habilitados nessas tecnologias nos mais recentes tecno-excluídos?
O ciclo de desenvolvimento e aparecimento de novas tecnologias tornou-se cada vez mais curto e ainda não sabemos tirar partido disso, com enormes prejuízos ao nível da instabilidade gerada em todo o sistema de ensino e na impossibilidade de rentabilizar os investimentos, a formação e a implementação de novos sistemas e equipamentos, dada o seu reduzido período de vida útil.
É para este problema que é necessário encontrar, não direi soluções finais e definitivas, mas formas de, mesmo neste mar alteroso de sucessivas e muito rápidas alterações tecnológicas, ser possível ministrar um ensino eficaz e com qualidade.

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