quarta-feira, 23 de junho de 2010

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE

CICLO DE VIDA DO CONHECIMENTO

Em relação ao debate em curso sobre o Conhecimento, a sua validade, o seu ciclo de vida e a sua aceleração, creio que estamos no domínio da Epistemologia ou Teoria do Conhecimento, ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento.

Uma questão que tem sido bastante debatida é a evolução do Conhecimento.

O artigo "Apontamentos sobre o conceito de epistemologia e o enquadramento categorial da diversidade de concepções de ciência"  (http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/cat_epist.htm), da Professora Auxiliar da Secção Autónoma da História e Filosofia da Ciência da FCUL Olga Pombo, elucida-nos quanto a esta questão:

Epistemologias continuistas e descontinuistas (esta categoria diz respeito ao modo como é entendido o progresso da ciência)

Segundo os continuistas a ciência progride sem sobressaltos uma vez que cada teoria contém os fragmentos, as bases ou os embriões da teoria seguinte. Os epistemólogos defensores desta perspectiva procuram compreender como é que uma teoria engendra ou prolonga uma outra, estabelecendo relações de filiação entre elas.

O continuista tende portanto a considerar as mudanças qualitativas como resultantes de um acréscimo quantitativo, que se constitui de uma forma uniforme, numa escala sempre ascendente. O progresso será então uma lenta e contínua aquisição de novas verdades em que umas proposições engendram outras procurando mostrar de que modo uma proposição mais recente tem as suas raízes em teorias mais antigas e, por sua vez, abre para o futuro um leque de possibilidades.

De acordo com os descontinuistas a ciência progride através de rupturas, por negação de teorias anteriores. Estas epistemologias estão especialmente atentas não às filiações mas às rupturas, não àquilo que liga as teorias entre si, mas àquilo que as separa. O progresso dos conhecimentos científicos faz-se através de rupturas, isto é, através de grandes alterações qualitativas que não podem ser reduzidas a uma lógica de acréscimo de quantidades; faz-se através de momentos em que se quebra a tradição e em que esta é substituída por uma nova teoria.

Enquanto que as primeiras epistemologias são predominantemente continuistas, este modo descontinuista de conceber a ciência é muito característico das últimas cinco décadas.

Para Bachelard, por exemplo, o progresso da ciência faz-se dizendo não às teorias e concepções anteriores.

A descontinuidade da ciência revela-se em muitos aspectos, por exemplo, nas técnicas que podem ser directas ou indirectas; nos conceitos que evoluem no sentido de uma maior racionalidade; nos métodos, nos próprios objectos que, de existentes na natureza, passam cada vez mais a ser fruto da criação intelectual do cientista. Segundo Kuhn, outro descontinuista, não é apenas a teoria que muda mas sim todo o paradigma.

Há descontinuidades no próprio modo de pensar o mundo, nas decisões metafísicas que o fundamentam, nas práticas científicas comuns a uma determinada comunidade.

A posição que mais tem sido defendida neste debate tem sido a primeira, a Epistemologia continuista. Porém, a segunda tem sido responsável por gigantescos saltos na Ciência, algo que numa perspectiva continuista não teria sido nunca possível.

Segundo a Infopédia, "corte epistemológico é um conceito fundamental no interior da epistemologia de Gaston Bachelard. Designa e explica as rupturas ou as mudanças súbitas que acontecem ao longo do processo de evolução do conhecimento científico na busca de uma crescente objectividade, em que o racional, que é construído, se vai sobrepondo num esforço constante ao consciencial, que é meramente subjectivo.

A evolução do conhecimento científico é descontínua e acontece por oposição aos sistemas anteriores, numa procura de ultrapassar os obstáculos epistemológicos que neles se patenteiam." (http://www.infopedia.pt/$corte-epistemologico)

Como exemplos mais frequentemente citados de profundos cortes epistemológicos temos a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, que se afasta em definitivo da até então aceite Teoria Geocêntrica Aristoteliana, a Teoria da Relatividade, de Einstein, uma gigantesca cisão em relação à anterior teoria de Newton, e o Princípio do Indeterminismo, de Einsenberg, uma clara ruptura em relação à Física Clássica.

assim, constatamos que nem sempre a evolução do conhecimento resulta de uma evolução. A verificar-se apenas uma contínua evolução, teríamos hoje candeias a petróleo extremamente optimizadas, mas nunca teríamos a luz eléctrica.

No entanto, não devemos considerar como derrotadas as teorias que, ao longo do tempo, foram sendo substituídas por outras. Enquanto foram aceites deram o seu contributo para a Ciência e concorreram para alargar o Conhecimento.



Em relação ao ciclo de vida do conhecimento, fiquei com a ideia, pelas pesquisas que fiz, que este conceito é particularmente caro no universo empresarial, onde muito tem sido explorado.

Encontrei um artigo sobre esta temática, que reputo de bastante interessante, "Analysis of the new knowledge management: Perspectives for critical approaches" de dois consultores norte-americanos Joseph M. Firestone e Mark W. McElroy, sócios fundadores do Knowledge Management Consortium Internacional (KMCI) (Consórcio Internacional de Gestão do Conhecimento), que convosco partilho:

Gestão do conhecimento

(...) podemos considerar duas frameworks, de primeira e segunda geração. A visão que cada uma tem do problema da gestão do conhecimento difere, e está associada a dois conceitos distintos:

Supply-Side (lado da oferta)

Directamente relacionada com a estratégia de gestão do conhecimento de primeira geração, em que o objectivo principal é distribuir e partilhar o conhecimento existente pela organização.

Nesta época a gestão do conhecimento resumia-se a:

1) Capturar, codificar e partilhar conhecimento valioso para a organização.

2) Levar a informação certa, à pessoa certa no momento certo.

Para este objectivo fazia-se um uso exaustivo e exclusivo de tecnologias de informação (como repositórios de dados, ferramentas de gestão de documentos, etc.) para providenciar respostas ao problema a que se destinavam resolver: partilha de conhecimento inadequada.

Demand-Side (lado da procura)

Directamente relacionada com a segunda geração de gestão do conhecimento, em que se acredita que acelerar a produção de novo conhecimento é um bem muito mais valioso do que apenas codificar e partilhar o conhecimento já existente. Assim, o principal objectivo passa a ser criar condições nas quais a inovação e a criatividade possa ocorrer naturalmente, tornando as organizações mais competitivas.

Ao contrário da estratégia Supply-Side, aqui existe uma visão global do problema, pelo que apesar de não ser o objectivo principal, também existe a preocupação de produzir soluções para a partilha do conhecimento.

Ciclo de vida do conhecimento

O ciclo de vida do conhecimento é um conceito introduzido só na segunda geração de gestão do conhecimento. Até então não se considerava um ciclo de vida, mas antes que este já existia nas empresas e apenas necessitava de ser organizado e disseminado. Pelo contrário, a segunda geração acredita que o conhecimento tem um ciclo de vida.

O conhecimento é criado e sujeito a um processo de validação. Caso seja realmente validado é incluído na base de conhecimento e distribuído pela organização. A introdução de novo conhecimento pode originar mudanças nos processos da organização e tornar obsoleto conhecimento que até então era considerado válido, e assim terminando o ciclo.

A principal diferença entre as duas abordagens é que a segunda geração considera que uma organização não só possui conhecimento colectivo, como também aprende e evolui. De acordo com a segunda abordagem, a gestão do conhecimento deve proporcionar condições para a aprendizagem organizacional.

A leitura deste artigo, permite lançar alguma luz sobre uma questão colocada neste debate "Em que consiste e o que significa o ciclo de vida do conhecimento? Será que ele existe? Como se define?"

Segundo estes autores, o Conhecimento tem, de facto, um ciclo de vida, terminando este quando a introdução de novo conhecimento, depois de correctamente validado, torna obsoleto conhecimento que até então era considerado válido.

Daqui poderemos concluir que a aceleração do ciclo de vida do conhecimento resulta da cada vez mais rápida e frequente introdução de novos conhecimentos, algo tão característico desta nossa sociedade nos tempos que vivemos.

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