Cara colega moderadora Denyze, cara "colega de equipa" Helena e caros "adversários" Margarida e Joaquim
A conversa está agradável. Só falta uma mesa, cinco cadeiras e uma esplanada simpática para aproveitar este sol glorioso em tão estimulante companhia. Mas vamos ao trabalho.
Penso que todos estamos de acordo sobre alguns aspectos que têm sido referidos neste debate:
- Nenhum de nós está contra a tecnologia nem contra a sua utilização;
- Todos nós reconhecemos enormes vantagens e benefícios decorrentes do seu emprego;
- Tudo, e a tecnologia não é excepção, tem inconvenientes e é passível de ser mal usado.
Não pretendo enveredar pelo caminho fácil de sustentar as minhas posições colocando palavras na boca de outrem, mas creio que Virilio e Baudrillard também concordariam com estas afirmações. É certo que poderá ser um risco, mas vou partir deste princípio.
Se, até aqui, penso estarmos todos de acordo, então em que diferem as posições de cada um dos autores citados e que nós, de acordo com os objectivos desta actividade, devemos defender?
Em primeiro lugar, Paul Virilio faz-nos um pungente alerta para vários perigos decorrentes do uso das recentes tecnologias de informação e comunicação. Aqueles que foram mais referidos nos posts anteriores foram:
"a tecnologia fez desaparecer as formas tradicionais de encarar o tempo e o espaço, sendo que a velocidade faz com que o presente se torne mais importante que o passado e o futuro, como se só existisse o imediato."
"a tecnologia torna a Terra mais pequena, dando a ilusão de que estamos todos muito mais próximos uns dos outros. Isso pode criar uma sensação de asfixia."
Por outro lado, e levando de novo em conta os posts até aqui publicados, Baudrillard aponta-nos a simulação da realidade, a hiper-realidade, o simulacro, a representação sem original, como ameaças a ter em conta (por isso tenho tanta dificuldade em enquadrar Baudrillard no rol de indefectíveis optimistas em relação ao uso das tecnologias, como já aflorei num post anterior).
Ou seja, ambos os autores denunciam diversos aspectos que lhes parecem particularmente prejudiciais ou perniciosos decorrentes do impacto da tecnologia na sociedade contemporânea.
Penso que é legítimo e mesmo desejável que assim seja. A sua condição de pensadores e críticos assim o determina. Cumprem plenamente a sua função.
Mas, e nós, cidadãos? Que leitura deveremos fazer destes alertas? De que forma deveremos reagir a eles?
Uma vez que aqueles dois autores não respondem a estas perguntas caberá, evidentemente, a nós fazê-lo.
Antes de mais, creio que devemos estar gratos pelos avisos que nos são feitos, mas cada um de nós deve utilizar o seu intelecto para interpretar o significado destes perigos que, de facto, corremos, e saber lidar da melhor forma possível com eles.
Saibamos lidar com a nova forma de encarar o tempo e o espaço e disso tirar o melhor partido possível.
Saibamos usufruir de uma Terra mais pequena e da ilusão (ou facto?) de que estamos todos muito mais próximos uns dos outros, sem que isso nos cause asfixia, pois daí poderemos tirar enormes dividendos e vantagens.
Saibamos distinguir o cachimbo da sua representação gráfica (exemplo que a Margarida brilhantemente citou) para mais facilmente podermos analisar e desmontar discursos publicitários ou políticos (não serão estes termos equivalentes neste contexto?).
Será fácil? Com certeza que não. Mas isto conduz-nos, quanto a mim, ao cerne da questão. Partindo deste ponto, existem duas atitudes possíveis: Ou se confia na inteligência, na capacidade crítica e na sensatez das pessoas para o conseguir e esses constituir-se-ão como parte dos optimistas em relação ao uso das tecnologias, ou nega-se-lhes lapidarmente essas capacidades, e esses engrossarão as fileiras dos pessimistas.
Contudo, o mundo não se resume ao preto e ao branco. As optimistas e aos pessimistas. Aos que se conseguirão furtar a esses perigos e aos que a eles soçobrarão. Todos nós, e por inúmeras vezes, nos encontraremos alternadamente nos dois campos. No entanto, é aqui que me faz sentido introduzir a esperança num benéfico impacto da tecnologia na sociedade actual e nas nossas vidas. Tentemos ser lúcidos e ponderados nestes tempos tecnologicamente conturbados, no meio de um enorme turbilhão de conteúdos e formas, de um colossal dilúvio informacional de que falava Pierre Lévy e de representações perfeitas da realidade que a distorcem.
Assim como a electricidade pode ser utilizada em equipamento médico que permite manter e melhorar a qualidade de vida ou, pelo contrário, ser utilizada em mórbidas máquinas que a retiram, também o uso que fazemos da tecnologia pode ser edificante, proveitoso, gratificante e construtivo ou, ao invés, alienante, desviante, lesivo e equivocado. Cabe-nos a nós, em liberdade, prepararmo-nos para fazermos esta opção.
domingo, 25 de abril de 2010
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